Leia o texto com atenção e responda em seu caderno:
Passados cinco séculos do Renascimento, o que restou daquela atitude inovadora para nós, hoje? Em nosso dia-a-dia alguma técnica ou instrumento herdados do Renascimento?
Imagine algumas situações do cotidiano: um médico que não usa termômetro para medir a temperatura do paciente, um comerciante que não pesa os alimentos que vende ou um professor que avalia o aluno sem atribuir-lhe uma nota. Estamos tão habituados a quantificar tudo que não sabemos mais viver sem padrões matemáticos. Herdamos do Renascimento essa visão quantitativa do mundo.
O homem renascentista tinha verdadeira obsessĂŁo pela exatidĂŁo. Foi a partir do Renascimento que os estudos de fĂsica, quĂmica, mecânica e astronomia começaram a ser registrados em fĂłrmulas, equações e cálculos geomĂ©tricos. “Nenhuma investigação humana pode ser chamada verdadeira ciĂŞncia se nĂŁo passar pelas demonstrações matemáticas:, escreveu Leonardo da Vinci. Um sĂ©culo depois, Galileu Galilei defendia a mesma ideia ao redigir: “É preciso medir o que Ă© mensurável e tornar mensurável aquilo que nĂŁo o Ă©.”
Os registros comerciais seguiram a mesma tendĂŞncia. Em 1489, o livro de Johann Widman propunha aos comerciantes pouparem tempo utilizando os sinais + e – no lugar de escrevĂŞ-los.
AtĂ© mesmo a pintura e a escultura renascentista eram verdadeiros estudos matemáticos. AlĂ©m da perspectiva, o artista distribuĂa as figuras na tela seguindo padrões geomĂ©tricos e desenhava o corpo humano usando medidas precisas para calcular, por exemplo, a distância entre a sobrancelha e a boca.
O tempo tambĂ©m foi medido. AtĂ© o final da Idade MĂ©dia, as pessoas nĂŁo tinham ideia das horas ou dos minutos exatos. O tempo era medido pelas necessidades essenciais da vida: hora de orar, de dormir, de comer, de plantar, de colher. Existiam os relĂłgios de sol, de água, de areia, mas eram imprecisos, e as pessoas comuns provavelmente nĂŁo faziam uso deles em seu cotidiano. Foi no sĂ©culo XIV que surgiu o relĂłgio mecânico com alguns princĂpios básicos que permanecem atĂ© hoje : molas, rodas dentadas e ponteiros num mostrador. Marcar o tempo era uma necessidade da vida urbana e dos negĂłcios. Desde entĂŁo, a disciplina do tempo entrou na vida humana: recebe-se pelas horas trabalhadas, fixam-se horários para as aulas, lamenta-se o tempo perdido (...).
A obsessĂŁo pelo tempo exato levou o papa GregĂłrio XIII a refazer o calendário, pois as datas religiosas nĂŁo coincidiam mais com as do inĂcio da Era CristĂŁ. Ele encomendou a uma comissĂŁo de matemáticos a recontagem dos anos. Essa comissĂŁo concluiu que sobravam dez dias no calendário. O papa nĂŁo teve dĂşvidas: mandou cortá-los. Assim, depois do dia 4 de outubro de 1582 amanheceu o dia 15 de outubro.
GAARDER.J. O mundo de Sofia. SĂŁo Paulo. CIA das Letras, 1995. P. 220
1) Encontre no texto informações que sugerem informações sobre o modo de vida dos europeus medievais.
2) Segundo o autor, pequenas mudanças e transformações fizeram muita diferença na vida das pessoas daquele momento histórico, quais foram elas?
3) Elabore hipĂłteses para o fato de o europeu renascentista ser tĂŁo obcecado pela exatidĂŁo.
4) Segundo o fragmento, quais as contribuições renascentistas para a sociedade contemporânea (a nossa sociedade)?