Trabalhar com a temática dos primeiros habitantes do Brasil sempre me provoca muita curiosidade, assim como nos alunos, que sentem-se motivados e instigados, no entanto, as fontes historiográficas, bem como mais informações ou sugestões de atividade extras são escassas.
Por isso, a viagem de férias com minha famÃlia para Florianópolis ficou ainda mais atrativa, uma vez que passarÃamos por Joinville, onde está o museu do Sambaqui. https://fundacaocultural.joinville.sc.gov.br/conteudo/10-MASJ+-+Museu+de+Sambaqui.html e a costa do litoral catarinense conta com vastos sÃtios arqueológicos e de pesquisa referentes a esse tipo de ocupação.
Mas afinal, o que são os sambaquis?
Sambaquis (do tupi: monte de conchas) são sÃtios arqueológicos formados por vestÃgios materiais da presença humana, conchas e moluscos, areia e outros vestÃgios materiais como instrumentos de pesca, ferramentas e adornos, deixados por comunidades que viveram na região há milhares de anos.
Esses homens e mulheres se alimentavam da fauna marinha abundante da região. Escolhiam um local elevado próximo à enseada e que tivesse água doce por perto. Com água doce e alimentos em abundância, não precisavam buscar alimentos em outros locais, eram pescadores-coletores sedentários.
Aos poucos, formavam montes, onde depositavam tudo o que sobrava da alimentação, além de enterrar seus mortos e a eles render homenagens. A junção de todo esse material formava morros, que em alguns casos, como o Sambaqui de Figueira, em Santa Catarina, atingia 30 metros.


Infográfico Revista Nova Escola: Reconstituição do que deve ter sido um sambaqui
O Museu do Sambaqui de Santa Catarina
Bastante fácil em localizar, bem no centro da cidade, conta com estacionamento gratuito no local.
As funcionárias são muito simpáticas e atenciosas, uma pena não oferecerem, contudo, visita guiada.
O acervo do Museu, ou MASJ, conta com mais de 45 mil peças. A exposição é autoexplicativa, com vários banners colocados ao lado das peças, que vão desde esqueletos humanos completos, em estado de sepultamento, até pequenos fragmentos e conchas, transformadas em utensÃlios.
Bloco representando as diversas "camadas" de um sÃtio arqueológico de Sambaqui. Os vestÃgios mais antigos encontrados na região datam de até 5 mil anos.
Gostei muito dessa maquete reconstruindo a ocupação dos espaços que seriam os sambaquis, eles a posicionaram sobre conchas e areia, simulando as camadas dos sÃtios arqueológicos.
Objetos de Pedra - LÃticos
Os objetos em exposição foram retirados de sÃtios arqueológicos de Santa Catarina e Paraná e são obras de grupos de caçadores-coletores, pescadores-coletores e também agricultores. É muito interessante observar as diversas técnicas de polimento ou lascamento dos objetos, e mesmo levantar possibilidades quanto à suas funções: moer, cortar, raspar, furar.
Zoólitos: Objetos de pedra polida, possuÃam funções estéticas, eram adornos. Muito bem elaborados, mostram a habilidade dos artesãos que os produziram.
Zoólito: Ave marinha
Adornos: colares e demais objetos feitos de conchas ou pequenos moluscos.
Os materiais confeccionados em fibras vegetais (em geral, taquaras e gramÃnea) e coloridas com pigmentos a base de frutas e cascas de árvores, possuem caracterÃsticas especÃficas que possibilitam sua relação com diferentes matrizes iconográficas, conferindo identidade e preservação das tradições.
A conservação dos vestÃgios arqueológicos provenientes de fibras vegetais foi possÃvel graças à s condições favoráveis do solo, combinadas à s condições quÃmicas da madeira. No museu os materiais passam por 48 horas em FAA e após, é conservados em álcool 70%.
Cerâmica:
Utilizada para as mais variadas finalidades, desde armazenamento até decorativas ou mesmo urnas funerárias, as cerâmicas produzidas pelos grupos indÃgenas no Brasil, assim como os materiais confeccionados em fibras vegetais, segue a padronagem cultural de cada agrupamento.
Detalhes que me chamaram a atenção: Cachimbos localizados em sÃtios arqueológicos feitos de cerâmica e esses vasos etnográficos, em especial, o vaso que está em destaque, todo decorado com estrelas do mar são exemplos do domÃnio do manejo da cerâmica.
Técnicas passadas de geração em geração e a preservação do conhecimento milenar.
A Fauna
Diversos elementos foram utilizados pelos homens e mulheres dos sambaquis para a confecção de artefatos, tais como: conchas de moluscos, vértebras de tubarões, dentes de porcos e macacos, ossos de mamÃferos, que se transformaram em pontas de projéteis, esculturas, adornos corporais, anzóis, agulhas...
Objetos feitos com presas de grandes animais, como onças, baleias e tubarões, nos permite concluir que os habitantes dos sambaquis eram exÃmios e corajosos caçadores, além de brilhantes e habilidosos artesãos.
Os sepultamentos
Os habitantes dos sambaquis eram, em geral, de estatura baixa, porém fortes devido a atividade fÃsica frequente, principalmente a pesca e cabeça volumosa, os inúmeros sepultamentos localizados nesses sÃtios permitem o estudo e a reconstituição fÃsica desses primeiros brasileiros.
Há um convênio entre o Museu do sambaqui e as escolas locais, eles disponibilizam materiais como esse sepultamento humano de 5 mil anos e outros vestÃgios que podem ser estudados e manuseados pelos alunos das escolas da região. Imagino como deve ser enriquecedor para os professores e alunos poder contar com esse material adicional, ação essa que, além de tudo, favorece a preservação e conscientização acerca desse tão rico patrimônio material e histórico.
Para Saber mais:
GUARINELLO, Norberto Luiz. Os primeiros habitantes do Brasil; Ilustração: CecÃlia Iwashita. São Paulo: Atual, 1994. (Coleção a vida no tempo do Ãndio).
Site Mirim Povos indÃgenas do Brasil: https://mirim.org/antes-de-cabral/ocupacao-brasil
Revista Mundo Estranho: O que são sambaquis? http://mundoestranho.abril.com.br/ambiente/o-que-sao-sambaquis/
O Brasil antes do Brasil, revista Nova Escola: http://acervo.novaescola.org.br/historia/pratica-pedagogica/brasil-antes-brasil-423036.shtml