Aqui só tem História

Aqui só tem História

segunda-feira, 16 de janeiro de 2017

O Museu do Sambaqui em Joinville

Trabalhar com a temática dos primeiros habitantes do Brasil sempre me provoca muita curiosidade, assim como nos alunos, que sentem-se motivados e instigados, no entanto, as fontes historiográficas, bem como mais informações ou sugestões de atividade extras são escassas. 

Por isso, a viagem de férias com minha família para Florianópolis ficou ainda mais atrativa, uma vez que passaríamos por Joinville, onde está o museu do Sambaqui. https://fundacaocultural.joinville.sc.gov.br/conteudo/10-MASJ+-+Museu+de+Sambaqui.html e a costa do litoral catarinense conta com vastos sítios arqueológicos e de pesquisa referentes a esse tipo de ocupação. 

Mas afinal, o que são os sambaquis? 




Sambaquis (do tupi: monte de conchas) são sítios arqueológicos formados por vestígios materiais da presença humana, conchas e moluscos, areia e outros vestígios materiais como instrumentos de pesca, ferramentas e adornos, deixados por comunidades que viveram na região há milhares de anos. 
Esses homens e mulheres se alimentavam da fauna marinha abundante da região. Escolhiam um local elevado próximo à enseada e que tivesse água doce por perto. Com água doce e alimentos em abundância, não precisavam buscar alimentos em outros locais, eram pescadores-coletores sedentários. 
Aos poucos, formavam montes, onde depositavam tudo o que sobrava da alimentação, além de enterrar seus mortos e a eles render homenagens. A junção de todo esse material formava morros, que em alguns casos, como o Sambaqui de Figueira, em Santa Catarina, atingia 30 metros.

                                           



                             

Infográfico Revista Nova Escola: Reconstituição do que deve ter sido um sambaqui



O Museu do Sambaqui de Santa Catarina


Bastante fácil em localizar, bem no centro da cidade, conta com estacionamento gratuito no local. 
As funcionárias são muito simpáticas e atenciosas, uma pena não oferecerem, contudo, visita guiada. 
O acervo do Museu, ou MASJ, conta com mais de 45 mil peças. A exposição é autoexplicativa, com vários banners colocados ao lado das peças, que vão desde esqueletos humanos completos, em estado de sepultamento, até pequenos fragmentos e conchas, transformadas em utensílios. 


Bloco representando as diversas "camadas" de um sítio arqueológico de Sambaqui. 
Os vestígios mais antigos encontrados na região  datam de até 5 mil anos. 

Gostei muito dessa maquete reconstruindo a ocupação dos espaços que seriam os sambaquis, eles a posicionaram sobre conchas e areia, simulando as camadas dos sítios arqueológicos. 




Objetos de Pedra - Líticos

Os objetos em exposição foram retirados de sítios arqueológicos de Santa Catarina e Paraná e são obras de grupos de caçadores-coletores, pescadores-coletores e também agricultores. É muito interessante observar as diversas técnicas de polimento ou lascamento dos objetos, e mesmo levantar possibilidades quanto à suas funções: moer, cortar, raspar, furar.









Zoólitos: Objetos de pedra polida, possuíam funções estéticas, eram adornos. Muito bem elaborados, mostram a habilidade dos artesãos que os produziram. 




Zoólito: Ave marinha

Adornos: colares e demais objetos feitos de conchas ou pequenos moluscos. 




Os materiais confeccionados em fibras vegetais (em geral, taquaras e gramínea) e coloridas com pigmentos a base de frutas e cascas de árvores,  possuem características específicas que possibilitam sua relação com diferentes matrizes iconográficas, conferindo identidade e preservação das tradições. 



A conservação dos vestígios arqueológicos provenientes de fibras vegetais foi possível graças às condições favoráveis do solo, combinadas às condições químicas da madeira. No museu os materiais passam por 48 horas em FAA e após, é conservados em álcool 70%. 

Cerâmica: 


Utilizada para as mais variadas finalidades, desde armazenamento até decorativas ou mesmo urnas funerárias, as cerâmicas produzidas pelos grupos indígenas no Brasil, assim como os materiais confeccionados em fibras vegetais, segue a padronagem cultural de cada agrupamento. 




Detalhes que me chamaram a atenção: Cachimbos localizados em sítios arqueológicos feitos de cerâmica e esses vasos etnográficos, em especial, o vaso que está em destaque, todo decorado com estrelas do mar são exemplos do domínio do manejo da cerâmica. 



Técnicas passadas de geração em geração e a preservação do conhecimento milenar. 

A Fauna 

Diversos elementos foram utilizados pelos homens e mulheres dos sambaquis para a confecção de artefatos, tais como: conchas de moluscos, vértebras de tubarões, dentes de porcos e macacos, ossos de mamíferos,  que se transformaram em pontas de projéteis, esculturas, adornos corporais, anzóis, agulhas... 






Objetos feitos com presas de grandes animais, como onças, baleias e tubarões, nos permite concluir que os habitantes dos sambaquis eram exímios e corajosos caçadores, além de brilhantes e habilidosos artesãos. 

Os sepultamentos 


Os habitantes dos sambaquis eram, em geral, de estatura baixa, porém fortes devido a atividade física frequente, principalmente a pesca e cabeça volumosa, os inúmeros sepultamentos localizados nesses sítios permitem o estudo e a reconstituição física desses primeiros brasileiros.


Há um convênio entre o Museu do sambaqui e as escolas locais, eles disponibilizam materiais  como esse sepultamento humano de 5 mil anos e outros vestígios que podem ser estudados e manuseados pelos alunos das escolas da região. Imagino como deve ser enriquecedor para os professores e alunos poder contar com esse material adicional, ação essa que, além de tudo, favorece a preservação e conscientização acerca desse tão rico patrimônio material e histórico. 


Para Saber mais: 

GUARINELLO, Norberto Luiz. Os primeiros habitantes do Brasil; Ilustração: Cecília Iwashita. São Paulo: Atual, 1994. (Coleção a vida no tempo do índio).

Site Mirim Povos indígenas do Brasil: https://mirim.org/antes-de-cabral/ocupacao-brasil
Revista Mundo Estranho: O que são sambaquis? http://mundoestranho.abril.com.br/ambiente/o-que-sao-sambaquis/