Aqui só tem História

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quinta-feira, 14 de janeiro de 2016

Projeto Ser ou crescer: afinal, o que se passa na cabeça desses jovens?

Para o ano letivo de 2015 fui convidada a participar de um projeto novo com os alunos dos 8˚s anos em relação ao projeto de vida e de futuro. Quando o planejamento se iniciou, ainda em 2014, nossos planos centravam-se em torno do Estudo do Meio que ocorre na cidade de Paranapiacaba, nas transformações sociais e tecnológicas das últimas décadas do século XIX e XX, nada muito definido ou fechado.  
O ponto de partida seria o livro "Jovens Brasileiros:uma aventura literária 10 momentos de nossa história", de Ivan Jaf, material paradigmático que adoto em parceria com a área de Língua Portuguesa, serviu-nos de inspiração para a elaboração das crônicas sobre novos jovens brasileiros, os que vivem o século da transformação, o século XXI. 
http://livraria.folha.com.br/livros/livros-paradidaticos/jovens-brasileiros-ivan-jaf-vera-vilhena-toledo-1325034.html?tracking_number=773&gclid=CJ_pmJi4qcoCFYYEkQodQmcG0g


A parceria entre as áreas de História, Pensar Crítico, Geografia e Língua Portuguesa,  deu início ao projeto interdisciplinar e à elaboração das primeiras atividades. Com os alunos dos 8˚s anos de 2015, verdadeiros protagonistas desse projeto, delineamos as primeiras metas e desejos. Aos poucos estabelecemos a rede do projeto a ser desenvolvido, o que modificou a ideia inicial, o foco não seriam apenas as transformações tecnológicas contemporâneas, mas as transformações físicas, emocionais e sociais dos jovens frente ao mundo em permanente e dinâmica transformação. 
Os primeiros questionamentos e pesquisas centraram-se em temas polêmicos, como: 

- liberdade x realidade x preconceito; 
- Direitos e deveres dos jovens; 
- Respeito ao outro;
- Qualidade de vida - classes sociais x poder aquisitivo-  
desigualdades, 
-  Perspectivas de Futuro x possibilidades sócio aquisitivas; 
- Capacidade de decisão: o que se gosta, por que, forma de pensar;
- Conflitos: diferentes pontos de vista: adolescente x pais x professores
- Tabus: sexo, sociedade

Decidimos que o produto final dessas atividades seria a elaboração e impressão de um livro, cujo título, criado em conjunto com as turmas seria: Ser ou crescer, afinal, o que passa na cabeça desses jovens? 

Após debates e discussões, nossa rede de projeto ficou assim: 




Rede final, elaborada para a Mostra de Projetos que ocorreu em Outubro, já com a capa do livro de contos finalizada. 


Como é ser adolescente no Brasil de hoje? Quais são os valores que norteiam os jovens? Que dificuldades enfrentam? Quais são seus sonhos e angústias?


Por meio de pesquisas e análises acerca da sociedade brasileira contemporânea,  relatos históricos foram elaborados, seguidos por crônicas relacionadas a dilemas e vivências em relação à política, amizade, amor, preconceito, insegurança e medos desses jovens. 

Foi um projeto longo e proveitoso, iniciado em março e finalizado apenas em outubro. Pesquisas foram realizadas; relatos históricos elaborados; as primeiras, segundas, terceiras versões escritas e reescritas, sugestões de aprofundamento e buscas adicionais de informações para melhor embasar os contos que estavam sendo escritos.  

Com o material escrito finalizado e corrigido, era necessário uma capa que traduzisse tudo os leitores encontrariam no material. A talentosa aluna Raquel, do 8˚ano A deu muitas ideias e resolveu fazer um esboço. Apresentei o material em ambas as turmas, todos gostaram muito, principalmente porque a ideia de colocar jovens de costas, como se olhassem para o futuro a frente foi muito significativa, além do que, o que seria mais a cara da tecnologia do que o título escrito em um box que lembrava o Itunes do Iphone? 
As adequações gráficas foram feitas com a ajuda do meu marido Ricardo, que adequou e acrescentou todas as informações necessárias à impressão. Os textos foram organizados por mim e pela professora Brenda, eis o resultado final: 

                                  
Adorei o resultado! 

Nossa artista, Raquel Carvalho

A venda de pizzas para podermos enviar o material à gráfica para impressão ocorreu em setembro com a ajuda da nossa orientadora Vânia Camata, agradecemos aos pais e a todos que acreditaram no projeto, possibilitando que ele se concretizasse. Imprimimos 100 cópias e mais a versão e-book, alguns alunos realizaram arte gráfica para seus contos, com destaque para os trabalhos das alunas Ellen e Raquel, que auxiliaram quem tinha dificuldades. 

Organizamos as imagens de ilustração e trechos dos contos para a impressão em banners, que compuseram o espaço do 8˚ano no dia da Mostra de Projetos. 



Matheus Oliveira, 8˚ano A: A Conquista, ilustração: Raquel Carvalho
Ellen Bento e Milena Reis, 8˚B: Paixão Adolescente, ilustração Ellen Bento
Mariana Dotta, 8˚A: Quando Vivemos, ilustração: Mariana Dotta
Giovanna Rossi, Túlio Brilho e Luiza Rennó, 8˚B: As escolhas de Raíssa, ilustração: Luiza Rennó
Raquel Carvalho, 8˚A: Fur Elise, ilustração Raquel Carvalho
Guilherme Coury, 8˚A: Por um mundo melhor, ilustração: Guilherme Coury
Giulia Barbosa, Maysa Pereira e Júlia Morais, 8˚A: A culpa é sempre dela, ilustração Giulia Barbosa
Carolina Borges e Beatriz Folegatti, 8˚A: O Arpoador, ilustração Raquel Carvalho
Gabriela Nazário e Fernanda Iamarino, 8˚A, ilustração: Raquel Carvalho
Lara Davi e Laura Pedro, 8˚B: O amor acontece, ilustração: Ellen Bento
É possível ler todo o material na publicação abaixo, que está hospedada no slideshare. 




     
Nas aulas de redação, elaboraram o jornal Fala Jovem, onde relataram, a partir do seu ponto de vista, a execução e produção final da atividade.
Finalmente, a Mostra de Projetos, onde pudemos receber as famílias e autografar os livros.



E finalmente a Mostra de Projetos estava pronta: Manhã de Autógrafos!




As mensagens deixadas pelas famílias: 



Mas afinal, quem são esses jovens que foram além do proposto e deixaram sua professora cheia de orgulho?

O 8˚ano A:

Nós, alunos do 8º ano A do Colégio Fundamentum, somos uma classe animada e criativa. Gostamos muito de sair juntos e conversar, mas sabemos o momento certo em que devemos nos dedicar. Como a maioria dos jovens de nossa idade, praticamos esportes, nos divertimos, vamos a festas e estudamos. Somos uma classe muito unida pela amizade e aqui todos se ajudam!

O 8˚ano B:


Nós somos a turma do 8ºB, uma sala sem igual, tudo que é proposto para fazermos, nós fazemos muito bem. Nós gostamos dos desafios!  Somos muito - e coloque ênfase nesse muito - falantes. Como toda sala, aqui tem brigas, amizades e risadas. Muitas risadas!! Com certeza, somos únicos!



Para finalizar esse post, desejo agradecer  a todos esses alunos queridos que toparam esse desafio e fizeram esse projeto possível, à direção, coordenação e orientação do Colégio Fundamentum, por apoiarem e acreditarem no potencial transformador dos jovens,aos meus amigos e companheiros de trabalho, Wellington e Brenda, por trabalharem arduamente comigo, por vezes noites a fio, para que de fato, o projeto pudesse ser viabilizado, e às famílias, por acreditarem em todos nós. 

     

terça-feira, 12 de janeiro de 2016

Exposição Frida Kahlo: conexões entre mulheres surrealistas no México

No final de semana do feriado de 12/10 fomos a São Paulo para ver a exposição de Frida Kahlo no Instituto Tomie Ohtake. 
Minha admiração por Frida começou quando, ainda uma jovem estudante de História e atendente de video-locadora, descobri sua história de vida fascinante. Mulher forte, sonhadora e criativa. As cores, as jóias, as roupas, as tragédias e sua permanente resiliência me fascinaram, isso sem dizer de suas escolhas políticas, que para mim, no momento em que minha consciência política começava a se formar, parecia um modelo a ser seguido. Nessa época também era um enorme sucesso o filme estrelado por Salma Hayek, Alfred Molina e Geoffrey Rush (não gosto de pensar em Trotsky como Geoffrey Rush, mesmo admirando o ator) e lembro de longas conversas sobre os papéis, representações e direção de arte com meu amigo Anderson. Mais de dez anos se passaram, faz tempo, mas o fascínio permaneceu e hoje, sem dúvida, mais madura e com maior volume de leituras, é ainda maior. 

O espaço Tomie Ohtake é ótimo, já abrigou outras exposições dignas de nota, vale a visita e certamente um café. O espaço voltou-se todo para a mais que especial exposição, as lojas lotaram seus estoques com os mais variados produtos com temáticas da artista, desde camisetas, livros, aventais até capinhas de celulares. Estava lá, na porta de uma dessas lojas, uma réplica do colete que Frida precisou usar após o acidente com o bonde. Minha filha de 12 anos, Ana Clara, me acompanhou na visita, sua curiosidade me encanta e fascina, queria saber porque precisava utiliza-lo e ficou chocada, como todos, ao saber sobre o acidente e a dor que a acompanhou durante toda a vida. 

A exposição está belíssima, gostei especialmente dos textos bem elaborados e explicativos. Além das obras da artista foi possível admirar a obra de várias outras artistas mexicanas e também de outras nacionalidades que compunham o grupo de amigas de Frida, como Mária Izquierdo, Lola Álvarez Bravo, Remedios Varo, Alicie Rahon, Leonora Harrington, Kati Horna, Rosa Rolanda, Bridget Tichenor, Jacqueline Lamba e Sylvia Fein. 

Encontram-se expostas figuras, pinturas, fotografias, catálogos, revistas, reportagens em jornais da época e vestuário. A coesão do acervo apresentados ao público é belíssimo, intenso e dramático. 
A composição surrealista dessas mulheres que ousaram quebrar o paradigma de serem apenas "esposas" e tornaram-se artistas. As obras fogem do gosto tradicional burguês e o surrealismo, surgido na França na década de 1920, ganha novas cores e contornos no México de Frida e dessas mulheres únicas e criativas. 
                                       


Frida fez muitos autorretratos, a análise dessas autorrepresentações, valorizando elementos naturais ou da história pré-hispânica do México, estética seguida pelas outras  mulheres surrealistas de seu grupo, o corpo feminino é explorado nessas obras, sendo colocado como local sagrado, residência do criativo, da sensualidade e sexualidade, da dor e sofrimento, no caso de Frida, as esferas de público e privado se confundem. 

                                    
AFrida Kahlo - El abrazo de amor del Universo, la Terra (México,), Diego, yo y el señor Xolotl, 1949 - Óleo sobre madeira masonite 70 x 60,5 cm. Obra incrível, cheia de detalhes e passível de múltiplas interpretações, fiquei estarrecida em poder vê-la pessoalmente. 
                           
Mária Izquierdo - Alegoria do Trabalho - Guache sobre papel - 1933-1936


Frida- 1933- óleo sobre metal  e Diego - 1937- óleo sobre Masonite

   
Frida, Autorretrato com Tranças 1941 - óleo sobre tela

                                            

                                                       

Diego em mis pensamentos, de 1943, traje de noiva tehuano - ao olhar atentamente a fotografia é possível verificar que, observada por Diego Frida pinta a tela em exposição lindamente vestida.
Releituras de suas roupas coloridas e únicas, às quais me causaram encantamento na adolescência, os detalhes, os bordados, a busca pela beleza histórica ancestral, chamados tehuanos, fazem dos modelos adotados pela artista ainda ousados e exóticos, concordando com o site Stylight: "beleza em cada detalhe". Numa época em que o belo era copiar vestimentas europeias, essa mulher fantástica buscou a beleza em suas raízes históricas, Apesar da disso, foi impossível não pensar no que estava por baixo dos tecidos magníficos e tantos bordados, a estrutura metálica que sustentava seu corpo após o acidente, lembrei-me do título de uma exposição no Museu Frida Kahlo na cidade do México no ano passado: As aparências enganam, os vestidos de Frida Kahlo.


O mais mágico foi poder ver nos olhos da minha filha, o encantamento que sempre estiveram nos meus. Ela estava hipnotizada pela beleza, pelos mesmos detalhes que me fascinaram, certamente a deixavam como uma rainha. 



Nu (Frida Kahlo) de Diego Rivera, 1930
A sutileza dos detalhes dessa obra me encantaram, achei belíssima!

foto de Lola Alvarez Bravo, Frida Kahlo, sem data

Esse desenho me impressionou e entristeceu, representa os abortos e as tentativas frustradas de ser mãe. 

Quanto à Ana Clara, ficou apaixonada pelos reinos mágicos dessas mulheres surrealistas, foi certamente, sua parte preferida da exposição. 
Vou reproduzir a explicação apresentada pela curadoria da exposição: Os surrealistas tinham especial interesse pela magia e por diversas doutrinas esotéricas como tarô, a astrologia, a cabala e a alquimia, e acreditavam que as mulheres tinham poderes especiais. Muitas delas representavam a si mesmas como deusas, feiticeiras ou figuras míticas como forma de assenhoreamento. Nas pinturas representavam com frequência rituais mágicos ou alquímicos e, em sua iconografia, fundiam elementos de tradições antigas com crenças mexicanas. Comumente escolhiam avatares animais, e muitas de suas obras revelam viagens pessoais de transformação e renascimento espiritual. 

                                        
Remedios Varo, o flautista, 1955

Leonora Carrington Orplied, 1956

Foto, detalhe, Ana Clara. 

Achei apenas que faltou mencionar e explorar as escolhas políticas de Frida, uma vez que foi uma das primeiras mulheres mexicanas a se filiar ao partido comunista. Acredito que essa escolha tenha tido grande importância para sua vida e obra. 

Para saber mais: http://www.fkahlo.com