Aqui só tem História

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sábado, 27 de janeiro de 2024

Airborne Museum Sainte Mère Èglise


O Airborne Museum foi criado em 1959, como resultado da parceria entre a prefeitura de Sainte-Mère-Èglise e o governo dos EUA para homenagear a população francesa e os corajosos paraquedistas estadunidenses. Mais que um museu, o espaço é um memorial à coragem de tantos homens e mulheres. 
Na entrada do Museu, recebemos I pads com imagens dos lugares da cidade durante a ocupação alemã, os QR Codes localizados possibilitam ver o antes, o durante as batalhas e depois destes lugares. Sensacional! 

Soldados Alemães em Sainte-Mère-Église

Às vésperas dos desembarques, os regimentos alemães na zona de Sainte-Mère-Èglise eram compostos por uma Divisão de Infantaria da Wehrmacht e pela defesa antiaérea (Flak), georgianos a serviço do Terceiro Reich (Ost-Truppen), bem como paraquedistas (Fallschirmjager). Essas unidades dificultam o progresso dos paraquedistas americanos.


Durante a ocupação, os relógios franceses precisaram ser adiantados em duas horas, acompanhando o horário da Alemanha. 





A Operação Netuno

No início de fevereiro de 1944, o alto comando aliado planejou a Operação Netuno, a fase de assalto do plano Overlord para abrir uma frente de combate na Europa Ocidental. 

A venda dos títulos, selos de guerra, ajudaram a financiar os esforços bélicos nos países envolvidos no conflito. 

Este ataque à costa da Normandia teve múltiplas ações realizadas no Dia D: na madrugada, bombardeios aéreos e navais atingiram as defesas alemãs da Muralha do Atlântico, seguidos pelo lançamento de milhares de paraquedistas e pelo desembarque de tropas em cinco setores de praias codificadas Utah, Omaha, Gold, Juno e Sword.  

Em 5 de junho de 1944, a partir da base Upottery, no sudoeste da Inglaterra os pára-quedistas da 101 Airborne embarcaram rumo à Normandia. Um grupo de 17 pára-quedistas do QG 506º PIR, sob as ordens do Coronel Robert F. Sink, foi lançado à 1h14 do dia 6 de junho de 1944, entre Hiesville e Sainte-Marie-du-Mont. 

Uma vez conquistados os setores de praia, a Operação Netuno continuou e estabeleceu portos artificiais e importantes estruturas logísticas. 




Na manhã de 6 de junho de 1944, mais de 150 mil soldados desembarcaram na Normandia! 



Equipamentos dos paraquedistas - detalhe para os itens de higiene, cupons e dicionário inglês/francês


No Museu, uma enorme coleção de armamentos, equipamentos, alimentos diversos, cartas, veículos - os incríveis planadores que lançaram os paraquedistas no D Day,  e recursos tecnológicos como os Ipads, telefones onde ouvimos a leitura de cartas ou de ordens do alto comando fazem dessa visita espetacular. 








Mais de 88 mil motocicletas foram utilizadas durante a WWII

7 de junho - Batalha de Sainte- Mère-Èglise

O general alemão von Schlieben ordenou um grande contra-ataque ao norte de Sainte- Mère- Èglise, na madrugada de 7 de junho. Os soldados de infantaria, auxiliados por artilharia e tanques, são foram detidos ao aproximarem-se das primeiras casas da periferia da vila, graças a um canhão antitanque de 57 mm, capturado no dia 6 pelos Aliados. 
Nessa noite, as tropas desembarcadas na praia de Utah começam a chegar e garantir reforços aos paraquedistas. Ao manterem afastadas as forças inimigas, os paraquedistas desempenhando um papel crucial na batalha.


Além de baixas militares substanciais e danos materiais à cidade, a batalha também custou a
vida de 22 civis. Sainte-Mère-Eglise é a primeira cidade francesa a ser libertada pelos paraquedistas americanos.

A população civil durante a Batalha pela Normandia

Após o desembarque, as Forças Aliadas bombardearam as cidades e aldeias locais e devastaram a região.  A batalha que se seguiu durou três meses, durante os quais a população civil se viu no meio dos combates e pagou um preço muito elevado: mais de 14.000 mortos e inúmeros feridos. 
A violência dos combates obrigou 150 mil pessoas a fugir das suas casas em ruínas e a procurar refúgio em trincheiras ou pedreiras subterrâneas. Apesar destas perdas, os Aliados foram recebidos como libertadores. 
Os soldados beberam cidra e calvados pela primeira vez, e os jovens normandos provaram Coca-Cola e chicletes, enquanto Sainte-Mère-Église foi relativamente poupada dos bombardeios. No entanto, 22 civis perderam a vida na cidade, vítimas das lutas pela liberdade

Algumas histórias 

George B. Wood “Chappie”


George B. Wood tornou-se sacerdote da Igreja Episcopal em 1936. Em junho de 1942, ingressou no exército como capelão militar com o posto de 1º Tenente e voluntário paraquedista. 
Fiz seu primeiro salto de combate na Sicília, em julho de 1943, e depois em setembro, na Itália. Nomeado capitão, ele saltou para a Normandia em 6 de junho de 1944.
Na manhã de 6 de junho, em Sainte-Mère-Église, Chappie Wood derrubou os paraquedistas mortos que ainda estavam pendurados nas árvores da aldeia. No hospital improvisado, ajudou a tratar os muitos feridos.
Em setembro de 1944, George Wood fez seu quarto salto de combate sobre a Holanda e participou da Batalha das Arderinas. Ele morreu em 5 de janeiro de 1999.

Jack Neitz Womer “Olho de Falcão”

Jack Neitz Womer, nasceu na Pensilvânia em 1917, alistou-se em 1941 na 29ª Divisão de Infantaria. Sua divisão busca criar pequenas unidades destinadas a realizar operações de comando. Voluntário, ingressou no 29º Batalhão de Rangers e foi treinar na Escócia com os comandos britânicos.
Em outubro de 1943, Jack se ofereceu como voluntário para a divisão de paraquedistas.Tornou-se membro do pelotão de Demolição dos Treze Imundos, famosos por sua pintura de guerra em seus rostos e seus cabelos estilo indígena. 
Em 6 de junho de 1944, Jack desembarcou sozinho nos pântanos e serviu como batedor. 
Em 17 de setembro de 1944, saltou na Holanda e, em dezembro, lutou em Bastogne, nas Ardenas belgas. Terminou a guerra na Alemanha com o posto de sargento. Ele morreu em 28 de dezembro de 2013.

No telefone, ao lado da estátua de Jack N. Womer é possível ouvir a leitura da carta que ele escreveu a sua então namorada, Theresa, nela relatou as dificuldades, o medo, a saudade e  a vontade de se casar com ela assim que a guerra acabasse. 

Álbum de memórias de Jack N. Womer, com recordações dos anos entre 1942-1945

Dog Tag de Jack N. Womer e fotografia de sua futura esposa, Theresa

John Steele


Alistou-se no início da Guerra e integrou a 82ª Divisão do Regimento de Infantaria Paraquedista. Ele chegou ao Norte da África em maio de 1943, lutou na Sicília e na Itália antes de ingressar nas Ilhas Britânicas em novembro de 1943 para se preparar para os desembarques do Dia D.
Na madrugada de 5 para 6 de junho de 1944, durante o salto em Sainte-Mère-Eglise, foi atingido no pé por um tiro e seu paraquedas ficou preso na torre do sino da igreja por volta da 1h. Suas tentativas de se libertar permanecem em vão, enquanto sob seus pés a batalha continua. Foi feito prisioneiro pelos alemães, mas escapou algumas horas depois e juntou-se às linhas aliadas.
Em setembro de 1944, John Steele saltou na Holanda e participou da libertação de Nijmegen. Em dezembro desse ano, ele lutou na Bélgica na Batalha do Bulge. Em 1945, participou de diversas operações na Alemanha até o final da guerra.

A cidade mantém um boneco no campanário da igreja em homenagem a John Steele

Apenas retornou aos Estados Unidos e à vida civil em setembro de 1945
John M. Steele foi premiado com a Estrela de Bronze por bravura e o Coração Púrpura por ferimentos de combate. Sua ação em Sainte-Mère-Eglise foi contada no filme “The Longest Day”.


Para saber mais: 

🌐 Site oficial do Airborne Museum: https://airborne-museum.org/en/homepage/

📺  Band of Brothers: série incrível que relata o desembarque dos membros da Easy Company, dos US Airborne. 


segunda-feira, 22 de janeiro de 2024

Pointe du Hoc e a Operação Overlord

A Muralha do Atlântico

A decisão de construir a Muralha do Atlântico (dezembro de 1941) foi resultado da entrada dos Estados Unidos na guerra e o fracasso da Wehrmacht às portas de Moscou.O envio da maior parte das tropas alemãs para a frente oriental prejudicou perigosamente as defesas do Ocidente, onde pairava a ameaça de um desembarque anglo-americano. Tratava-se, portanto, de construir um sistema de defesa que permitisse à “Fortaleza Europa” resistir a um ataque anfíbio aliado.

A construção da "Muralha" começou na primavera de 1942. Cerca de 11 milhões de toneladas de concreto foram necessários para construir mais de 15.000 edifícios ao longo de 6.000 km de costa que se estende da Noruega até a fronteira franco-espanhola. A Muralha do Atlântico era composta por obras fortificadas de diversas dimensões, dispostas a distâncias variadas.

Bombardeio em maio de 1944 - localização estratégica de Pointe du Roc, US National Archives. 


Pointe du Hoc - entre Omaha e Utah Beach e a Normandia

Na Segunda Guerra Mundial, as forças alemãs ocuparam Pointe du Hoc e transformaram o local tranquilo numa fortaleza fortificada que protegia uma bateria de armas pesadas. 


Visão a partir de Pointe du Hoc


Detalhe de uma das inúmeras casamatas da Pointe du Hoc, esta estava em construção quando do desembarque, em 1944. 

Em 1943, os comandantes aliados iniciaram os preparativos detalhados necessários para organizar, transportar, desembarcar e apoiar milhares de soldados que desembarcariam na Normandia. As unidades de assalto aliadas praticavam exaustivamente operações de combate enquanto os logísticos armazenavam armas, suprimentos e equipamentos. 

Após meses de coleta e análise de informações, a Inteligência aliada escolheu a Normandia como local para a invasão, embora a região não oferecesse as condições ideais para tamanha operação: as praias não tinham portos, as correntes oceânicas e as mudanças climáticas repentinas poderiam causar estragos nas embarcações de desembarque. Prever as melhores condições – lua cheia para navegação, marés baixas para expor obstáculos na praia e ventos calmos para operações aéreas – seria essencial. 

Durante os preparativos para a Operação Overlord, sabendo das condições geográficas da região, os Rangers, divisão de escaladores estadunidense, realizaram um exigente treinamento para poder escalar às escarpas de Omaha e neutralizar a bateria da Pointe du Hoc, de onde os alemães tinham uma visão estratégica tanto da baía de Omaha quanto de Utah e poderosos canhões à disposição. 
Pointe du Hoc tornou-se o principal alvo do bombardeio aéreo e naval pré-invasão, mas apenas um ataque terrestre poderia garantir que os canhões seriam neutralizados no Dia D.

A bateria da Pointe du Hoc, com as armas de 155 MM e o posicionamento estratégico, eram uma ameaça real ao desembarque. Os canhões pesados ​​tinham alcance das praias de Utah e Omaha, bem como a frota de invasão no mar. Os Aliados temiam que a bateria devastasse as forças antes mesmo do desembarque. 

Casamata, detalhe para o dano causado pelo bombardeio no canto superior


Replica de Casamata alemã no Memorial de Caen



Casamata alemã na Muralha do Atlântico. Memorial de Caen, Normandia

Os Aliados planejaram originalmente os desembarques na Normandia para 5 de junho de 1944, mas a mudança do tempo forçou o General Eisenhower a atrasar a invasão por 24 horas. Na madrugada do dia 6, os paraquedistas saltaram na escuridão em dezesseis terrenos. O sucesso dependia do sigilo absoluto e cooperação contínua entre as forças navais, terrestres e aéreas.

Escalada das falésias no Dia D, US National Archives. 

Logo pela manhã, os Rangers do Exército dos EUA escalaram o penhasco de 27 metros para capturar esta posição fortemente defendida. 
Em dois dias de lutas intensas e dramáticas, os Rangers enfrentaram a defesa alemã,  concentrada a oeste de Pointe, em torno do bunker antiaéreo ocidental, reforçada pela presença de um canhão de 88 mm.
Mesmo assim, resistiram ao forte contra-ataque alemão, com poucos suprimentos e munições. A ajuda apenas chegou no dia 08/06, atrasados ​​por uma resistência muito forte, em Vierville-sur-Mer e na estrada em direção a Pointe du Hoc. Essas ações ajudaram a estabelecer a posição aliada e a iniciar a libertação da Europa.

Frente ao pesado bombardeio, partes do penhasco desabou. Os Rangers escalaram o penhasco que, em alguns locais, atingem 30 metros, conquistaram as baterias - os alemães removeram os canhões e realizaram um contra-ataque. Dos 225 homens que desembarcaram, apenas 90 sobreviveram.

Rangers estadunidenses utilizam as crateras como defesa para manterem a posição até 08/06/1944, US National Archives. 


Destroços por todos os lados, imensos blocos de concreto

Vista aérea das falésias a leste de Pointe du Hoc, particularmente bombardeadas, US National Archives. 

Resistentes franceses, homens e mulheres fundamentais para o sucesso do Dia D e a retomada da França e do continente europeu pelos Aliados. 

A invasão da Normandia foi o maior desembarque de tropas da História. Os soldados tiveram que desembarcar sob fogo inimigo, abrir caminho através de defesas formidáveis, derrotar os esperados contra-ataques alemães e criar uma cabeça de praia segura para lançar novas operações.

Destroços no dia 8 de junho de 1944, US National Archives. 

Dos 225 Rangers que desembarcaram, apenas 90 homens estavam em condições de continuar a lutar, no dia 8 de junho. 96 deles foram mortos e 32 desaparecidos.
 

Inúmeras crateras, resultado compensado bombardeio nos dias 06 e 07 de junho de 1944.

Homenagens







Em Point du Hoc, as homenagens são seguidas das fotografias, assim como em todo o caminho que leva às praias do desembarque. São meninos, milhares deles, que tiveram a vida interrompida pela guerra.
Como Eisenhower, só posso esperar nunca mais ter que ver cenas como essa... 80 anos depois, não há como não se sentir triste por toda uma geração, Aliados ou do Eixo, envolvidos nessas atrocidades. 

Sargento Walter Geldon, Companhia C, 2º Batalhão de Rangers, 6 de junho de 1944 foi o terceiro aniversário de seu casamento. Ele e seus companheiros Rangers cantaram canções para comemorar a ocasião pouco antes de desembarcar em Omaha. O antes trabalhador siderúrgico de 23 anos, da Pensilvânia, foi abatido por fogo inimigo poucos minutos depois de desembarcar. Quando sua viúva morreu em 2002, aos 78 anos, ela foi enterrada ao seu lado no cemitério americano, na Normandia.

Para saber mais: 

Sites: 


  • D Day Overlord, com informações e fotos: Pointe du Hoc, History and photos of the landing beach: