Aqui só tem História

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domingo, 18 de agosto de 2019

O Templo de Poseidon - Cabo Sounio

Desde o primeiro momento em que cheguei ao aeroporto de Atenas, os personagens míticos estavam por ali, eram broches, cartões-postais, livros, selos. Atenas, Poseidon, Zeus, Artemis. Uma certeza me arrebatou: tinha chegado à terra dos deuses! 
Começava ali a realização de um sonho antigo dessa historiadora: a viagem à Grécia! 

A visita ao Cabo Sounio, esse lugar fantástico mistura histórias do deus dos mares, de Teseu e de Egeu.


Reconstituição da provável aparência do Templo de Poseidon em seu esplendor, século V a. C.
DROSOU-PANAGHHIÓTOU, Niki. Atenas. Os monumentos com reproduções.


Ruínas do Templo de Poseidon

Playmobil History - Poseidon
Formação rochosa no Cabo Sounio e as várias tonalidades de azul do mar Egeu


Seguindo os caminhos de Poseidon, Teseu e Egeu... 

Egeu era rei de Atenas e tudo o que mais desejava era ter um filho, porém, embora já tivesse se casado várias vezes, nenhuma dessas uniões lhe trouxe o tão desejado herdeiro. 
Eis que, após a visita a Delfos, tentando decifrar a profecia da pítia, encontrou a feiticeira Medeia, que lhe garantiu que seu filho seria gerado por magia. 
Na volta a Atenas, encontrou-se com o sábio Piteu, que não decifrou a profecia, mas o embebedou e o induziu a dormir com sua filha, Etra.

" No dia seguinte, o rei de Atenas ergueu uma enorme rocha e colocou embaixo dela suas sandálias e espada, dizendo a Etra:
- A espada que coloquei embaixo da rocha é uma relíquia de família. É a espada de Cécrops, primeiro rei de Atenas. As sandálias são minhas. Quando meu filho tiver dezesseis anos, você lhe dirá que venha me ver. Contudo, ele precisará primeiro erguer a pedra, pegar a espada e as sandálias e, para que eu o reconheça, deverá usá-las. Ficarei duplamente feliz, já que assim também saberei que teve forças para mover uma rocha como essa.
Todavia, Medeia tinha razão e Egeu não podia gerar filhos. Mesmo assim, o herdeiro do trono de Atenas iria nascer. É que ele não seria filho de Egeu e Etra, mas de Etra com Poseidon...
Graças a magia de Medeia, a deusa Atenas apareceu em sonho para a filha de Piteu e lhe disse:
- Levante-se e vá até Esféria, a ilhota (...)
Etra obedeceu, mas no local que a deusa lhe indicava, encontrou à sua espera Poseidon, o grande deus do mar. (...) A magia de Medeia havia surtido efeito. dessa forma, ao cabo de nove meses (...) Etra deu à luz o filho de Poseidon, que no entanto, também era conhecido como Egeu. Deram à criança o nome de Teseu.

STEPHANIDES, Menelaos. Teseu, Perseu e outros mitos. São Paulo: Odysseus, 2004. p. 66 a 68.


O Templo de Poseidon

Localizado no Cabo Sounio, a 67 km de Atenas, encontra-se imponente, esse templo fantástico, sobressaindo no alto de uma colina, ladeado pelo azul infinito do Egeo.  
Quando o vi, ao longe, tive certeza, Poseidon não poderia ter um templo localizado em um lugar melhor. 

Templo, mar, ilhas... a paisagem se integram de maneira tão harmônica que parece mágica... será que Medéia, ao fugir de Atenas, buscou refúgio aqui? 


Templo de Poseidon à distância




Na Odisseia, há referências a esse local como sagrado e centro de culto. Como os gregos tem estreita ligação com o mar, o culto a Poseidon, buscando navegação segura, era muito importante. 
A povoação de Sounio pertencia à Atenas e sua posição estratégica garantia a riqueza da região.
Competições marítimas eram ali realizadas durante as Panateneias.  


DROSOU-PANAGHHIÓTOU, Niki. Atenas. Os monumentos com reproduções.



Para proteger as vias marítimas que ligavam Atenas a Évia, por onde passavam os carregamentos de trigo que alimentariam toda a cidade, os atenienses fortificaram todo o cabo. Além disso, essa era a entrada natural para Láurion, região fornecedora de prata e chumbo da cidade. 

                           
Dessa forma, acima do rochedo, uma muralha semi-circular foi construída. Partes dessa gigntesca construção (que chegou a ter 500 metros de comprimento e mais de 3 metros de largura) podem ser vistas ainda hoje. 
Mirante no alto das muralhas e ilhas do Egeu

Área externa
Vestígios da antiga muralha


O santuário de Poseidon ocupa o pico mais alto dos rochedos que formam o Cabo. Inicialmente, foi construído com pedras calcárias, no século VI a. C., sendo, posteriormente, coberto por lajes de mármore a mando de Péricles, em 450 a. C. 


O pórtico tem 25 metros de comprimento por 9 metros de largura. Era aqui que se reuniam os fiéis para comemorações em honra ao deus, ou sacrifícios, em caso de mau tempo.


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O mármore aqui utilizado veio das pedreiras de Agrilesa, sua tonalidade branca impressiona até hoje e se difere do mármore de outras construções, que com o tempo adquiriram tons amarelados. No entanto, esse material é mais sensível à ação do tempo sofreu muito com a erosão e vento. 

Essas aves simpáticas estavam em toda parte
Aparecendo de intrusas na minha foto! 


Não é possível entrar no interior do templo, era ali que ficava o pronaos, onde estava a estátua do deus. 

Não há registros que expliquem as causas da destruição desse templo, é provável que tenha ocorrido uma junção: tempo e desgaste, além da ação humana, marinheiros que tenham levado blocos de pedra para reutiliza-los para construções, não apenas na Grécia, mas em toda Europa. 
Detalhe- colunas

Na área externa, encontravam-se 12 kouros, hoje, dois deles encontram-se expostos no Museu Arqueológico de Atenas. 


Kouros de Sounio no Museu Arqueológico de Atenas
Kouros são estátuas de jovens, oferecidas pelos cidadãos de Atenas ao deus Poseidon



lindos balneários de veraneio que se estendem pelo Cabo
Cabo Sounio - por milhares de anos, embarcações navegam nessas águas


Por do Sol incrível! 


Foi aqui que assistimos, extasiados, um magnífico por do sol...
Volto a minha reflexão inicial: poderia Poseidon ter escolhido lugar mais fantástico para seu templo?










Egeu, Teseu, o Minotauro e o mar... 




"Ano após ano um navio com velas pretas transportava as vítimas de Atenas para Creta. Ano após ano pais e mães atenienses choravam a desgraça de seus filhos, enviados tão jovens para servir de alimento ao monstro terrível. E ano após ano todo o povo ateniense chorava de vergonha por não ter tido forças para defender seus cidadãos do cruel decreto do rei de Creta. Acontece que Minos tinha um exército poderosos, e nenhuma cidade do mundo se dispunha a enfrentá-lo. 





Egeu era então o rei de Atenas. Seu filho, Teseu, cerrava os punhos, enraivecido, cada vez que via o navio de velas pretas partir para Creta levando as jovens vítimas. 
- Por quanto tempo mais deveremos nos submeter aos caprichos do rei de Creta? - Teseu perguntava ao pai. 
- Se enfrentarmos o rei Minos, ele arrasará nossa cidade - Egeu respondia. - O sacrifício desses catorze jovens salva a vida de todos os demais cidadãos. 
- Então sacrifique a mim - disse Teseu. - Por que o filho do rei pode ficar tranquilamente em seu palácio enquanto outras famílias são obrigadas a entregar seus filhos para serem devorados por um monstro? 
- Você não sabe o que está dizendo - Egeu gritou. - É meu único filho. Se morrer no labirinto, quem será rei de Atenas depois de mim? 
- Mas não pretendo morrer - disse Teseu. - Vou matar o minotauro. 
Assim, Teseu decidiu que no ano seguinte seria um dos catorze jovens atenienses a fazer a trágica viagem. No dia da partida, Egeu perguntou ao filho: 
- Como saberei se você se saiu bem? 
E Teseu combinou com o pai: 
- Quando nosso navio voltar ao porto, observe suas velas. Se eu estiver morto, estarão içadas velas pretas de sempre. Se eu estiver vivo, terão sido trocadas por velas brancas. 
Egeu beijou o filho, que embarcou com os outros rapazes e moças, destinados a matar a fome do Minotauro. 
- Que os deuses protejam Teseu e todos os outros. - o rei murmurou, quando o navio sumiu no horizonte. 
(...) 

Teseu ameaçou o Minotauro, que soltou um grito enfurecido. Teseu investiu contra ele com a espada em punho. Deferiu-lhe um golpe, depois o outro, e outro, com toda força. Finalmente, um berro sacudiu as paredes do labirinto. Teseu sentiu o sangue quente do monstro espirrar em seu corpo. A criatura imensa estacou, engasgou, e foi até o chão. O Minotauro estava morto. 
- Matei o Minotauro - disse Teseu - Vamos levar isto para nossa cidade. Vamos pendurar a cabeça do Minotauro no templo da deusa Atena, em agradecimento à sua proteção, que nos permitirá voltar sãos e salvos para casa. 
(...) 
Depois de muitas semanas de viagem, o navio entrou no porto de Atenas. Sentado num rochedo, Egeu esperava pela volta do filho. 
- Lá está ele - o rei exclamou, ao avistar o navio que havia algum tempo partira para Creta. 
E as velas do navio eram pretas. 
- Meu filho se foi, com todos os seus companheiros - Egeu soluçou. E na mesma hora se jogou no mar. Teseu viu o pai cair do alto do rochedo. 
- Meu pai! - ele gritou. 
Então o rapaz se lembrou que havia combinado com o pai. As velas do navio não tinham sido trocadas. Eram velas pretas que estavam içadas. 

KIMMEL, Eric A. Mitos gregos; ilustração Pep Montserrat: tradução Monica Stahel. - São Paulo: WMF Martins Fontes, 2008. p. 77 a 86. 


Vocabulário mitológico: 

- Pítia: sacerdotisa de Apolo, no santuário em Delfos. De uma fenda de onde emanavam vapores, ela proferia suas profecias, que deveriam ser interpretadas.
- Medéia: a maior feiticeira do tempo do rei Egeu, filha do rei Eetes, da Cólquida, foi expulsa de sua cidade porque havia cometida um grande crime. Foi trazida por Jasão para a Ática quando este procurava o velo de ouro. Conheceu Egeu quando o rei de Atenas buscava respostas para a profecia de Delfos, e buscava um filho e herdeiro a qualquer custo.
- Piteu: filho de Pélope e Hipodêmia, era o mais sábio homem nascido até então. 
- Panateneias: festas realizadas para homenagear a deusa Atenas. Podiam ser anuais (Grandes Panateneias) ou ocorrer a cada quatro anos (Pequenas Panateneias). 



Incrível Grécia, berço da cultura Ocidental! Cartão postal magnífico com as atrações da terra dos deuses! 

Para Saber Mais: 


Referências Bibliográficas: 

DROSOU-PANAGHHIÓTOU, Niki. Atenas. Os monumentos com reproduções.
KIMMEL, Eric A. Mitos gregos; ilustração Pep Montserrat: tradução Monica Stahel. - São Paulo: WMF Martins Fontes, 2008. p. 77 a 86.
STEPHANIDES, Menelaos. Teseu, Perseu e outros mitos. São Paulo: Odysseus, 2004. p. 66 a 68.

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