Aqui só tem História

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quinta-feira, 22 de agosto de 2019

Governo de Napoleão Bonaparte


Napoleão Bonaparte cruzando os Alpes
Jacques Louis David (1801-1805)

Em 1799, o Diretório girondino enfrentava a continuidade da crise econômica e o descontentamento da população. Temia-se a volta dos jacobinos, havia ameaças monarquistas. 
Napoleão Bonaparte, recém vitorioso no Egito acabava de voltar à França e era visto por muitos como um homem forte, capaz de conter a enorme crise em que a nação se encontrava, dessa forma, recebeu apoio de muitos membros do Diretório para o golpe de Estado.

General Bonaparte
Jean-Baptiste-Édouard Detaille (1848-1912), cerca de 1900 - óleo sobre tela - Nesta cena, o artista imaginou Napoleão na juventude. 

Esboço para retrato do jovem general Napoleão Bonaparte Jean-Baptiste-Édouard Detaille (1848-1912), cerca de 1900 - óleo sobre tela

No dia 18 de Brumário do Ano VIII, dispensou os membros do Conselho, forçou os demais diretores a pedirem demissão e tomou o poder. Era o fim do Diretório e da Revolução.

Bonaparte e a vitória de Arcole
Antoine-Jean Gros - Musée de Armée, Paris. 
https://en.wikipedia.org/wiki/Bonaparte_at_the_Pont_d%27Arcole#/media/File:1801_Antoine-Jean_Gros_-_Bonaparte_on_the_Bridge_at_Arcole.jpg

A Batalha de Arcole, na Itália, durou três dias. Em 15 de novembro, uma grande reviravolta ocorreu sob o comando do jovem general Bonaparte, que levou as tropas francesas à vitória. Sobre essa batalha, ele escreveria mais tarde: "Nunca uma batalha seria tão fervorosamente combatida quanto Arcole".

Napoleão construiu sua reputação de bom general, estrategista, e líder brilhante. Além disso, discursava para seus soldados e lhes enchia de ânimo e moral de luta.




Os primeiros anos na política


Inicialmente, o consulado dividia o poder em três: Bonaparte, Siyès e Ducos, os chamados cônsules. Na prática, apenas o primeiro cônsul decidia, ou seja, o poder concentrava-se em Bonaparte, que continuou as obras da Revolução no que referia-se a consolidação das conquistas burguesas e por fim à crise política e econômica que assolava a França há mais de uma década. Buscando garantir sua autoridade, em 1800, foi eleito cônsul vitalício.

Para garantir o apoio da população, medidas de cunho econômico foram tomadas, tais como:
- Realização de grandes obras públicas (edifícios, pavimentação de ruas, estradas, portos), gerando empregos e favorecendo os moradores dos centros urbanos;
- Garantiu apoio às atividades burguesas, principalmente ligadas ao comércio e à industrialização.
- Criou o franco, moeda forte francesa.
- Garantiu a antiga divisão das terras pertencentes aos nobres, feita pelos jacobinos em 1793, em pequenas propriedades, favorecendo a população camponesa e eliminando definitivamente os resquícios do feudalismo.

A medida que a economia se restabelecia, a popularidade de Napoleão aumentava.

O Código Civil, 1804, consolidou os direitos relacionados à igualdade jurídica, individuais e econômicas, tais como:


Muitos países adotaram o Código Civil Napoleônico como padrão de legislação moderna.


O Primeiro Império Francês 

Ainda em 1804, após uma tentativa de golpe dos monarquistas, os franceses, por meio de um plebiscito, elegeram Napoleão Bonaparte imperador.
Numa estranha contradição, a Constituição afirmava: "O governo da República é confiado ao imperador Napoleão".



DHÔTEL, Gerard. A Revolução Francesa: Passo a Passo. São Paulo, ClaroEnigma, 2015 p. 71.

Em 2 de dezembro, foi consagrado na catedral de Notre-Dame, em Paris. Ao se auto coroar, demonstrava a independência da França frente à Igreja.


Coroação de Napoleão Bonaparte (Le Sacré de Napoleón) - detalhe- Jacques Louis David
Museu do Louvre, Paris

A partir desse momento, Napoleão Bonaparte passou a controlar os três poderes. 

Documento histórico


Decreto do Império de 18 de maio de 1804 (28 Floreal do ano XII) que estabeleceu o Império na França. Os 142 artigos detalhavam as novas regras e os poderes confiados ao imperador, Napoleão I.

Napoleão no trono imperial


Diversas campanhas militares se iniciaram, buscando ampliar os domínios franceses no continente europeu e, consequentemente, seu império.

A ilustração a seguir representa Napoleão "assando as monarquias europeias". É possível ler nomes de outras nações europeias derrotadas na massa de pão que está sendo amassada.
O grande padeiro francês assa uma nova fornada de reis. Seu ajudante, está misturando a massa.
https://www.britishmuseum.org/research/collection_online/collection_object_details.aspx?objectId=1480110&partId=1 acesso em 22/08/2019


A medida que expandia seus domínios, o Código Civil francês era levado às regiões conquistadas, as ideias iluministas se difundiam pelo continente europeu, o que preocupava as nações absolutistas, principalmente a Áustria e a Prússia, inimigas declaradas da França desde o início da Revolução.

As coligações contra Napoleão 

Os países absolutistas uniram-se à Holanda e a Inglaterra contra a expansão das ideias revolucionárias e buscavam deter o avanço econômico francês pelos demais países do continente, porém não alcançaram os resultados esperados: deter a expansão francesa e restabelecer a monarquia.

Documento histórico




Service historique de la Defense, departament de l'armée de terre.
Carta de Napoleão de congratulações a estes homens depois da vitória em Austerlitz


Napoleon at the Tuileries- by Patrice Courcelle

O estrategista

Ao visitar o Musée de l'Armée em julho de 2018, tive a oportunidade de visitar a incrível exposição: Napoléon Stratège (Napoleão, o estrategista), que funcionou de 06/04 a 22/07 do mesmo ano.


Esta exposição homenageou o gênio militar do general e posterior imperador dos franceses. Mais de 200 objetos do acervo do Museu de Armas e de outros museus de toda Europa formaram o acervo apresentado aos visitantes, como: mapas, uniformes, objetos pessoais, manuscritos, pinturas.

A exposição busca ilustrar como foi sua educação, o contexto da Revolução, as questões em jogo no contexto e as campanhas militares. Analisa as principais batalhas, inclusive a Batalha das Pirâmides, Austerlitz, e Waterloo.

Mostra Napoleão como o centro das ações. Os equipamentos multimídia ofereciam possibilidades de pensar as estratégias como Napoleão o fazia.
Ironicamente, o campo de batalha que lhe tornou grande, foi também o local em que acabou derrotado por seus inimigos. No entanto, mais de duzentos anos depois da derrota final, seu nome continua associado a grandes gênios militares posteriores, que teriam sido por ele influenciados.




Este mapa cheio de alfinetes pertenceu ao filho adotivo de Napoleão, Eugène de Beauharnais. As diferentes formas e cores dos alfinetes indicam o posicionamento de inimigos e aliados. Nas lembranças de um antigo soldado belga, da Guarda Imperial, o coronel Scheltens descreve Napoleão: "Um grande mapa foi aberto no chão, ajoelhado sobre ele, Napoleão posicionava os alfinetes de cores diferentes (cera espanhola).


Embora não tenha registrado suas teorias e métodos de estratégia, após sua morte, um incontável número de historiadores e estudiosos de guerra o fizeram.

Caixa de medicamentos de Charles Louis Cadet de Gassicourt (1769-1821) primeiro farmacêutico de Napoleão.


Gabinete de trabalho de Napoleão Bonaparte.










http://applicationmobile.musee-armee.fr/visite-virtuelle/napoleon-stratege/#/vue_1/

O Bloqueio Continental 

Com o objetivo de enriquecer a burguesia francesa e destruir a economia inglesa, que passava pela Revolução Industrial, em 1806, Napoleão, por meio do Bloqueio Continental, proibiu que os países do continente europeu comercializassem com os ingleses. Os que desobedecessem a sanção seriam punidos e invadidos.

Embora afetada pela Bloqueio, a Inglaterra continuou exportando para as colônias nas Américas e na África, além de contrabandear produtos para a Europa, já que a burguesia francesa não foi capaz de suprir toda a demanda.

Espanha e Portugal foram invadidos, dando início ao processo revolucionário de independência na América, enquanto que, ao romper o Bloqueio, a Rússia seria palco de uma enorme reviravolta na geopolítica do século XIX.

James Gillray - um cartunista contra Napoleão


James Gillray (1756-1815) foi um dos mais importantes cartunistas e caricaturistas políticos britânicos do final do século XVIII e início do XIX. Ele representava Napoleão como baixo, agressivo, tirânico e ridículo, para desmoralizar sua imagem perante o público britânico.
Gillray contribuiu para moldar a opinião pública inglesa contra Napoleão, usando suas charges como propaganda política.

John Bull encontra Boney 

A charge ironiza o bloqueio continental imposto por Napoleão e à rivalidade econômica entre França e Inglaterra no início do século XIX. 
John Bull (representação da Inglaterra) e Boney (diminutivo pejorativo de Napoleão) parecem determinados em “segurar” seus respectivos bloqueios, como em um duelo de resistência.
A charge sugere que o bloqueio de Napoleão não teria sucesso frente ao poder marítimo britânico. John Bull aparece saudável e confiante, enquanto Napoleão é representado de forma arrogante, mas isolado, reforçando a visão inglesa de superioridade econômica e naval. A mensagem é que a Inglaterra resistiria ao bloqueio francês e que o império de Napoleão acabaria prejudicado por suas próprias medidas.


John Bull: Agora, Mestre Bonoy (apelido depreciativo de Napoleão) vamos ver quem resistirá por mais tempo, meu muro ficará no seu caminho. Até breve. Acredito que você ficará muito feliz em trocar sua sopa de carne moída pelo meu rosbife (prato típico inglês).

Boney: Quem poderia imaginar que ele construiria um muro? Eu realmente começo a pensar que era melhor tê-lo deixado em paz. De alguma forma, não consigo temperar minha sopa.

A Campanha da Rússia 


Em 1812, os exércitos franceses, cerca de 675 mil homens, atravessaram as fronteiras da Rússia. O czar Alexandre, incapaz de enfrentar tamanho exército, os atraiu para o interior do território. 

Os camponeses queimaram sua produção, casas, fazendas e celeiros. Sem abrigo ou alimentos, o Grande Exército francês sofreu imensamente com o rigoroso inverno russo. Sem alternativa, Napoleão retirou suas tropas para Oeste.


Ao tomar o caminho de volta, cansados, famintos e doentes, o Grande exército francês foi surpreendido pelos exércitos da Coligação. Os franceses venceram algumas batalhas, porém não resistiram a superioridade numérica.

Em março de 1814, Paris foi tomada pelos exércitos da Coligação. O Tratado de Fontainebleau obrigou Napoleão a abdicar e foi exilado na ilha de Elba, próxima à costa da Itália e decreta a volta da monarquia, com Luís XVIII (irmão de Luís XVI, guilhotinado em 1793), no entanto, os ideais iluministas estavam difundidos, os reis Bourbon não conseguiriam impor as práticas absolutistas e a França enfrentaria muitos anos de instabilidade política.


A ilustração, de autoria alemã, ironiza a trajetória do general Bonaparte.

https://www.thinglink.com/scene/1027033324226347010 acesso em 22/08/2019




A volta para a França e o repouso final



"Oh, brille dans l'historie, (Oh, brilhe na história)
Du funèbre triomphe impérial flambeau (Da tocha imperial, o triunfo)
Que le peuple à jamais te garde en sa mémoire, (Que o povo para sempre o guarde em sua memória)
Jour beau comme la gloire, (Lindo dia como a glória)
Froid comme le tombeau!"(Frio como o túmulo!)

Victor Hugo










Referências

  • CHANTERANNE, David. Napoleão: sua vida, suas batalhas, seu império. Rio de Janeiro: Agir, 2012.
  • DHÔTEL, Gerard. A Revolução Francesa: Passo a Passo. São Paulo, ClaroEnigma, 2015.
  • Fotos: acervo da autora.

Para Saber Mais: Site da Exposição Napoleão, o Estrategista: 

Outras curiosidades: 

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