Os escravos e seus senhores, as sinhás detidas pelas janelas e gelosias...
Para mim, a cada ano que volto, faço novas descobertas, detalhes que não tinha conseguido captar no ano anterior, conversas com as pessoas tão solícitas e simpáticas, enfim, que honra poder conviver anualmente com o povo mineiro.
Esse post é para falar sobre o Museu do Oratório. Localizado no Adro da Igreja de Nossa Senhora do Carmo, local da antiga casa do Noviciado do Carmo (construção do século XVII), passou por uma grande reforma para poder acomodar o Museu e hoje nos dá uma amostra de como eram os interiores das construções do período colonial e a fé de seus habitantes.
http://museudooratorio.org.br/conheca/historico/
Igreja Nossa Senhora do Carmo - parte externa Marido e filha em nossa viagem de julho/2015
Vista do interior da igreja, é preciso pedir autorização para subir as escadas e verificar o local onde ocorrem reuniões da Irmandade do Carmo.
Entrevista com o funcionário do Museu do Oratório, muito solícito e gentil, atendeu prontamente minha aluna Júlia.
Vista da cidade a partir do pátio da igreja.
Adoro as fotos tiradas a partir do interior, as janelas das construções coloniais emolduram o lindo cenário.No Museu do Oratório as fotos não são permitidas, mochilas e câmeras devem ficar guardadas em armários organizados na entrada do museu. O site é excelente, muito organizado e permite exploração minuciosa das obras: http://museudooratorio.org.br/conheca/apresentacao/
O Museu foi fundado em 1998 e é composto pela coleção de Ângela Gutierrez, as peças são desde o século XVI ao XIX. Fiquei encantado com o relato do monitor ao nos contar como ela foi composta: Ângela visitava fazendas por todo interior do Brasil, participava de leilões e montou essa fantástica coleção. Fico pensando no que ela encontrou: antigas sedes de fazendas decadentes, tanta história contida nessas peças, penso na tristeza que alguns tiveram, mas se viram obrigados, a desfazerem-se de seus tesouros. As peças são de madeira e acabam castigadas pelo tempo e ao serem adquiridas, passaram por um minucioso sistema de restauro.
A coleção de Ângela possibilitou a criação de 3 Museus: o do Oratório em Ouro Preto, o de Ofícios em BH e o de Sant'Ana em Tiradentes, que é meu preferido e merece um post só pra ele.
São inúmeros oratórios (162 no total) de tamanhos muito variados, desde pequeníssimos até os que lembram capelas domésticas.
http://museudooratorio.org.br/conheca/apresentacao/
Reconstituição de um batizado em frente a um grande oratório de ermida, destaque para as roupas em estilo francês
Os primeiros oratórios surgem na Idade Média, o tamanho permitia que o fiel transportasse consigo a "capela", oratório e realizasse suas orações onde estivesse. A esquadra de Cabral trazia um oratório em homenagem à Nossa da Esperança.
Nos anos que se seguiram a implantação da colonização brasileira, o isolamento e a dificuldade de deslocamento na colônia fez com que os oratórios fossem uma alternativa para a religiosidade nesse longínquos confim do além-mar.
Nas palavras de Ângela Gutierrez: "Em Minas Gerais, o oratórios simboliza a gratificação da fé, pelas andanças perigosas dos aventureiros, acompanhando-os com a sua benção e indispensável patrocínio. O certo é que esses objetos de fé, hoje escassos, ocuparam vilas, cidades, aglomeraram comunidades em torno da espiritualidade triunfante da Contrarreforma."
http://museudooratorio.org.br/sobre/
http://museudooratorio.org.br/sobre/
Ao observar os oratórios e demais imagens selecionados e expostos no espaço, minha imaginação de historiadora alça vôo novamente... como não pensar nas pessoas que os possuíram? Aqueles objetos representavam o porto seguro, orações, pedidos e agradecimento de gerações. Representações barrocas, rococó e neoclássicas mostram a fé do povo brasileiro.
Para o observador, lá estão também exemplos do sincretismo religioso que se realizou por toda a colônia, exemplos da influência africana e indígena incorporados pela religiosidade cristã. Na minha opinião, são os mais belos e elaborados, imagino-os nas senzalas, trazendo conforto aos oprimidos.
Para o observador, lá estão também exemplos do sincretismo religioso que se realizou por toda a colônia, exemplos da influência africana e indígena incorporados pela religiosidade cristã. Na minha opinião, são os mais belos e elaborados, imagino-os nas senzalas, trazendo conforto aos oprimidos.
Os Oratórios de Algibeiras acompanhavam os viajantes, pequenos e leves, poderiam ser facilmente transportados, é possível conhecer oratórios tão diminutos que poderiam ser transportados nos bolsos.
Os oratórios de Alcova eram verdadeiros bens familiares, geralmente passavam de mães para filhas, ficavam nos quartos.
http://museudooratorio.org.br/grupo_oratorio/oratorio-de-salao-decorados/
Para o observador, lá estão também exemplos do sincretismo religioso que se realizou por toda a colônia, exemplos da influência africana e indígena incorporados pela religiosidade cristã. Eles não apresentam o requinte e as cores dos demais oratórios, produzidos pelas mãos de negros escravizados e repletos de simbolismo da cultura afro, na minha opinião, são os mais belos pelo seu simbolismo histórico, imagino-os nas senzalas, trazendo conforto aos oprimidos.
Para o observador, lá estão também exemplos do sincretismo religioso que se realizou por toda a colônia, exemplos da influência africana e indígena incorporados pela religiosidade cristã. Eles não apresentam o requinte e as cores dos demais oratórios, produzidos pelas mãos de negros escravizados e repletos de simbolismo da cultura afro, na minha opinião, são os mais belos pelo seu simbolismo histórico, imagino-os nas senzalas, trazendo conforto aos oprimidos.
http://museudooratorio.org.br/oratorio/oratorio-afro-brasileiro-mo-099/
A recriação de um acampamento tropeiro, com todos os seus utensílios para desbravar o sertão e levar consigo objetos para venda e, claro, oratórios para oração e proteção é, para mim, um espaço que merece destaque. Há muitos anos, ao ler o livro de Laura de Mello e Souza, Os Desclassificados do Ouro, imagino a vida desse importante personagem no processo de colonização, o tropeiro, fundamental para os primeiros anos da ocupação dessa região no coração do território, endurecido pelas dificuldades das estradas, garantia o abastecimento e caminhava pelos sertões na certeza de estar protegido por seus santos e oratórios.
A recriação de um acampamento tropeiro, com todos os seus utensílios para desbravar o sertão e levar consigo objetos para venda e, claro, oratórios para oração e proteção é, para mim, um espaço que merece destaque. Há muitos anos, ao ler o livro de Laura de Mello e Souza, Os Desclassificados do Ouro, imagino a vida desse importante personagem no processo de colonização, o tropeiro, fundamental para os primeiros anos da ocupação dessa região no coração do território, endurecido pelas dificuldades das estradas, garantia o abastecimento e caminhava pelos sertões na certeza de estar protegido por seus santos e oratórios.
http://ecoviagem.uol.com.br/noticias/turismo/turismo-nacional/aproveite-as-ferias-escolares-e-visite-as-cidades-historicas-mineiras-tu-16275.asp
Ângela Gutierrez merece agradecimentos e felicitações por compartilhar sua coleção particular com o público!
Endereço:
Preço: R$5,00 (meia entrada para estudantes e professores)
R$: 10,00 inteira