As múmias exercem enorme fascínio, isso é inegável. A preservação dos restos mortais daqueles que viveram centenas de anos antes de nós revelam importantes informações sobre o passado, como é o caso das múmias incas.
Eu conhecia as múmias de Salta, três crianças sacrificadas aos deuses, no território que hoje é a Argentina, há cerca de 500 anos e que parecem adormecidas. No Chile, conheci a história do Niño del Plomo.
Esse menino tinha cerca de 8 anos quando foi sacrificado. Ele foi encontrado em 1954, no Cerro del Plomo, uma área da Cordilheira dos Andes próxima a Santiago, a 5400 metros de altitude. Hoje, seu corpo é um dos maiores tesouros do Museu de História Natural do Chile.
O menino foi passou por um processo de mumificação natural devido à altitude e as baixas temperaturas.
Extensão do Tawantisuyu, o Império Inca no século XVI
Revista História Viva, dezembro de 2003
O menino foi uma oferenda na cerimônia da Capacocha para celebrar as vitórias e anexação dos territórios ao sul da Cordilheira e manter o equilíbrio entre os incas e os deuses. Nestas cerimônias, as crianças eram as oferendas mais significativas.
Os curacas, sacerdotes do Império, recolhiam oferendas - objetos de ouro, prata, cerâmica, têxteis, plumas e alimentos - de todas as partes do Tawantisuyu, que chegavam a Cusco em lhamas. As crianças enviadas à capital, em geral, eram filhos dos curacas. Ter um filho sacrificado aos deuses era uma enorme honra.
Acredita-se que as crianças eram preparadas para essas cerimônias e não sentiam medo da morte como nós sentimos hoje. As vestimentas do menino levam os arqueólogos e historiadores a acreditar que ele é proveniente da área entre o Peru, a Bolívia e o norte do Chile.
Uma caravana formada por sacerdotes, músicos, lhamas e a criança caminharam milhares de quilômetros até a montanha escolhida pelo InKa.
Na década de 1970, estudos do departamento de antropologia, indicavam que um cronista espanhol chamado de Rodrigo Hernández Príncipe, no século XVII, escreveu sobre a Capacocha e relatou que um menino chamado de Cauri Pacsa, teria sido enviado à região que hoje é o Chile.
Dessa forma, muitos se referem ao Niño del Plomo como Cauri Pacsa, mesmo sem outras evidências comprovadas.
Ao chegarem ao topo do Cerro, as sacerdotisas prepararam Cauri Pacsa, pintaram seu rosto de vermelho e amarelo, arrumaram seu cabelo com mais de 200 tranças finas. Além disso, recebeu plumas de condor para a cabeça e roupas vistosas, um manto sobre os ombros, sapatos coloridos, um bracelete de prata e uma adorno em seu peito.
Os sacerdotes cavaram uma espécie de câmara no alto do Cerro, lá depositaram o menino, exausto dos dias de caminhada e entorpecido pela ingestão de chicha. Alimentos, objetos variados, e, claro, Cauri Pacsa foram oferecidos aos deuses em troca de chuvas para as colheitas e fertilidade para a terra e animais. A entrada da câmara foi fechada com rochas. Cauri Pacsa morreu dormindo, de frio.
Para os incas, Cauri Pacsa se reuniu com seus ancestrais e junto a eles zelou por seu povo, garantindo aos incas a fertilidade que lhes garantia a vida.
Vista do Cerro del Plomo
Lugar em que foi encontrado o Niño del Plomo
Estudo fotogramétrico do Niño del Plomo realizado pelo Museu de História Natural do Chile
Niño del Plomo foi encontrado em 1954 pela família Chacón, os quais exploravam o Cerro em busca de riquezas, uma vez que Guillermo Chacón havia encontrado algumas peças de prata de origem indígena na região. O menino e as peças encontradas foram negociadas em troca de uma enorme soma com o Museu de História Natural, onde hoje encontram-se preservados.
Para Saber mais:
Livro: Niño del Plomo, una momia inka. PAVEZ, Ana Maria; ilustraciones de Carmen Cardemil. Santiago: Amanuta, 2015
Todas as ilustrações dessa postagem foram retiradas deste livro.