Nas proximidades de Paris, às margens do rio Marne, fica o Museu da Grande Guerra, na cidadezinha de Meaux.
Naquela região bucólica e pacata, em 1914, o exército alemão marchou, dando seguimento ao Plano Schlieffen, acreditando que facilmente conquistariam Paris, como na Guerra Franco-Prussiana.
A Batalha do Marne
O exército francês, auxiliado pelos britânicos, conseguiu conter a ofensiva. Cerca de 2 milhões de homens foram mobilizados e, em uma semana de combate o custo foi altíssimo, 500 mil mortos, porém contiveram a ofensiva alemã. A primeira Batalha do Marne foi decisiva para os rumos que restante do conflito tomaria: manter posições.
O cartão postal a seguir ilustra a região de mais de 200 quilômetros entre Meaux e Vitry-le-François em que os exércitos da Entente contiveram os alemães.
Vista do Marne, cidade de Meaux, julho de 2023
Muitos taxistas de Paris puderam provar seu patriotismo ao transportar soldados da capital até a região do Marne. O Taxi acima é um Renault AG1, modelo 1909 e atingia 40 km/h.
Propaganda inglesa, 1914
A Grande Guerra mobilizou cerca de 75 milhões de homens, 9.5 milhões morreram em ação e cerca de 21 milhões foram gravemente feridos. Toda a Europa foi afetada por uma guerra total, alimentada pela Segunda Revolução Industrial que produziu as armas, as balas, as bombas, dessa forma, as mortes, ferimentos em escala industrial. Era o fim do velho mundo.
Cartões Postais
Assim como o revanchismo francês, os cartões postais chegaram à França em 1870, com a invasão dos prussianos após a derrota na Guerra Franco-Prussiana. Os cartões postais fizeram grande sucesso ao longo dos conflitos que se seguiriam: mapas, ilustrações, fotografias de personalidades políticas, militares, soldados, mulheres, revelam ao observador aspectos importantes da mentalidade da época. A coleção de postais do Musée de la Grande Guerre é incrível, acima vemos soldados de diferentes exércitos aliados e a legenda é: "Lembrança da boa camaradagem".
A Guerra de Trincheiras
Assim como o revanchismo francês, os cartões postais chegaram à França em 1870, com a invasão dos prussianos após a derrota na Guerra Franco-Prussiana.
Os cartões postais fizeram grande sucesso ao longo dos conflitos que se seguiriam: mapas, ilustrações, fotografias de personalidades políticas, militares, soldados, mulheres, revelam ao observador aspectos importantes da mentalidade da época.
A coleção de postais do Musée de la Grande Guerre é incrível, acima vemos soldados de diferentes exércitos aliados e a legenda é: "Lembrança da boa camaradagem".
O resultado assustador da Batalha do Marne demonstrou a ambos os lados que seria impossível o enfrentamento como nas guerras do século XIX. A tecnologia da II Revolução Industrial era mortífera e aterradora.
Aproximadamente 750 Km de trincheiras foram abertas, do Mar do Norte à Suiça. Esses buracos insalubres abrigaram precariamente os exércitos em toda a Frente Ocidental. O conflito atingiu níveis dramáticos, seja pela banalização da morte ou pela imobilidade.
Na Frente Ocidental, a Guerra foi francesa, ou seja, em território francês, pelo território francês, envolvendo milhões de soldados franceses e afetando, sobretudo, a população civil francesa que vivia na Zone Rouge.
As trincheiras se tornaram uma enorme rede de túneis e passagens estreitas, protegidas por grossas redes de arames farpados e parapeitos com sacos de areia, onde se espremiam homens, armamentos, equipamentos, ferramentas alimentos. Eram abrigo, casamata e postos de tiros.
Durante as ofensivas, para chegar à Terra de Ninguém, os soldados usavam escadas de assalto, tesouras, ganchos e lançadores de granada.
Uma trincheira alemã separada do inimigo por 40 metros de Terra de Ninguém
A seguir, duas obras de Ferdinand Gueldry retratando as trincheiras, a terra de ninguém e o terror da guerra.
Ofensiva de Champagne:
Embora não tenha sido aceito como soldado devido à idade, o artista, na condição de pintor do exército francês, visitou as trincheiras e os campos de batalha na região do Marne, em 1915 e de Verdun, em 1916.
Note os soldados franceses atolados na lama das trincheiras, a silhueta dos inimigos e a enorme destruição em todo o campo de visão: a natureza devastada, corpos humanos e de animais em decomposição. Em um conflito tecnológico filmado e fotografado de inúmeros ângulos, a obra de arte é impactante e confere emoção a tamanha destruição.
Verdun:
As trincheiras fizeram com que os exércitos permanecessem muito tempo em um único lugar, já que avançar era muito difícil e recuar ou desistir não era permitido.
Uniformes
A preocupação com a produção de uniformes que garantissem mobilidade aos soldados esteve presente ao longo de todo o conflito. O uniforme tricolor de lã dos primeiros anos deu lugar ao cor verde, mais leve e confortável.
O equipamento dos soldados incluía ainda o capacete, cintos e bolsas para manter as mãos dos soldados livres e acomodar cartuchos, um rifle, faca, dois cantis para água com capacidade de dois litros cada, além de uma pá.
Uniforme de prisioneiros
Até 1915, os aviões foram utilizados para sobrevoo e reconhecimento e mapeamento das trincheiras inimigas. A partir desse ano, eles foram equipados com metralhadoras e passaram a lançar ogivas, bombardeando os inimigos e auxiliando o avanço das tropas terrestres durante as tentativas de avanço e conquista das trincheiras inimigas.
A aviação possibilitou constatar a mudança na movimentação dos alemães, em 1914, ao longo do Marne, favorecendo o contra-ataque francês.
Avião SPAD VII, pilotado por Georges Guynemeyer em exposição no Musée de Armée, em 1987.
Uniformes dos pilotos de aviões
Armamentos
A fotografia a seguir apresenta a evolução das cápsulas explosivas:
O projetil vermelho pesa 7,25 quilos e é composto por 261 balas de 12 gramas e 110 gramas de pólvora na carga traseira. Era usado pelo canhão francês de 75 mm e deveria explodir na trajetória, antes do impacto.
Em 1914, a artilharia alemã, com o calibre 77 mm, sobrepunha os franceses com 75 mm. A guerra de posições exigiu inovações armamentistas incessantes e, em 1918, os alemães bombardearam Paris com o Lange Max, apelidado de Big Bertha pelos aliados, com poder de fogo de até 120 quilômetros.
Os alemães também foram os primeiros a utilizar gases tóxicos como arma de guerra, em abril de 1915. A guerra química elevou ainda mais o drama humano e o horror do mundo (Remarque, 2022). O desenvolvimento de máscaras eficientes para filtrar o ar foram essenciais para garantir a sobrevivência dos soldados.
Em 1914, os soldados foram armados com rifles e baionetas, os quais foram substituídos ao longo do conflito por rifles automáticos, lançadores de granadas e o lança chamas aumentando o poder devastador das armas de guerra.
Para ter melhor noção do tamanho da ogiva usei a Ana Clara como parâmetro. 💣
Os primeiros morteiros franceses foram desenvolvidos em 1914, para fazer frente à artilharia alemã. O tubo era carregado com pólvora e o projétil era lançado como a trajetória de um arco, o que garantia a precisão do tiro, a inclinação variava entre 45˚ a 80˚ e lançava projéteis de 16 a 45 quilos, os mais pesados atingindo 350 metros e os mais leves, 1400 metros.
Pombos-correios
Um conflito de tamanhas proporções como a Grande Guerra precisava contar com um eficiente sistema de comunicação. As novidades do início do século como o telefone e o telégrafo, podiam ter os fios cortados e interromper a comunicação. Os pombos-correios foram a solução.
Os aviões sobrevoavam as trincheiras inimigas, elaboravam breves relatórios e atavam aos pombos que, ao procurar por seus pombais de origem, levavam mensagens de uma trincheira a outra e até para o outro lado do Canal da Mancha.
Essas aves tão inteligentes evitaram a morte de muitos homens.
Correspondência
Além de cartas, os soldados recebiam pacotes vindos de casa, como os exemplos das fotos que se seguem, com manteiga, chocolate, tabaco, leite condensado, palitos de fósforo, fotografias e até embutidos! Esses alimentos e lembranças ajudavam a tornar o dia a dia mais tolerável.
Entre 1914-1918, mais de 10 milhões de correspondências foram entregues.
Há um espaço para as crianças com inúmeras atividades, como escrever uma carta, vestir um uniforme - que o marido adorou - e mesmo se sentar em caixotes, como nas trincheiras
Assim que tive um momento tranquilo, peguei meu caderno para anotar minhas observações. Escrevi em formação, escrevi em repouso, escrevi em todos os lugares. Meu lápis esteve mais comigo do que minha arma (Roland Dorgelès. As cruzes de madeira, 1919).
Nas trincheiras, os soldados enfrentavam longas horas de espera. Nesse tempo, os soldados podiam ler, desenhar, escrever uma carta, rezar, jogar cartas ou outros jogos. A maior parte das batalhas ocorria à noite, sob a escuridão. Durante o dia, os soldados podiam tentar descansar, no entanto, sabe-se que não conseguiam dormir mais que apenas algumas horas.
Medalhas, amuletos sagrados, fotografias, objetos que oferecessem qualquer tipo de conforto aos que ficaram e proteção aos que partiam rumo ao front.
Lembrar!
Exposição sobre os crimes germânicos em Montmartre - 1 a 30 de outubro de 1917. Documentos, fotografias, desenhos do front.
Uma guerra para acabar com todas as outras
Em 1918, esperava-se que todo aquele sofrimento nunca mais se repetisse. O pacifismo passou a ser propagado.
A Grande Guerra matou milhões e o luto passou a ser partilhado pela maioria das famílias. Os soldados enfrentaram a morte e o terror longe de seus entes queridos, e, na maioria dos casos, sem nunca serem identificados.
Empréstimo da Libertação - O triunfo dos Aliados (Abel Faivre, França, 1918) O cartaz é um apelo à rendição alemã. O Kaiser Guilherme é representado com as costas curvadas sob o peso das bandeiras aliadas e com sua espada quebrada.
A memória da Grande Guerra
Na França as memórias da Grande Guerra se fazem presente em todas as vilas e cidades. Monumentos e placas honram e relembram aqueles meninos que deram a vida por seu país no front. Nas áreas onde os conflitos aconteceram, cemitérios e monumentos militares relembram o "horror do mundo'. Bombas e morteiros alteraram a paisagem e os resultados são perceptíveis nas gigantescas crateras.
A arqueologia militar continua a trabalhar para identificar restos mortais e lhes garantir um funeral e descanso digno. Objetos e documentos encontrados nessas áreas ajudam os historiadores a melhor compreender o dia a dia dos soldados.
No entanto, materiais bélicos não detonados são um perigo constante testemunham a violência tecnológica e a mortalidade mais de cem anos depois.
A seguir, um túmulo inglês, no cemitério britânico em Pozieres, onde se lê: His war is over, his sun is set, but we who loved him can't forget. E um túmulo australiano no memorial australiano, onde se lê: Another life lost hearts broken for what.
Memorial aos combatentes da I Guerra em Giverny
Memorial em Formigny, entre Bayeux e a praia de Omaha
Vale a pena conhecer:
Museu da Grande Guerra em Meaux: https://www.museedelagrandeguerre.com/
Página no Instagram da Commonwealth graves: https://www.instagram.com/commonwealthwargraves/
Página WW1 Conflict: https://www.instagram.com/p/Cw8QapGSiN6/
L'Historial de la Grande Guerre, deux Musées no Somme: https://www.historial.fr/