Aqui só tem História

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quinta-feira, 22 de agosto de 2019

Governo de Napoleão Bonaparte



Napoleão Bonaparte cruzando os Alpes
Jacques Louis David (1801-1805)

O golpe de Estado 

O Diretório girondino enfrentava a continuidade da crise econômica e o descontentamento da população. Temia-se a volta dos jacobinos, havia ameaças monarquistas. Napoleão Bonaparte, recém vitorioso no Egito acabava de voltar à França e era visto por muitos como um homem forte, capaz de conter a enorme crise em que a nação se encontrava, dessa forma, recebeu apoio de muitos membros do Diretório para o golpe de Estado.

                                               
General Bonaparte
Jean-Baptiste-Édouard Detaille (1848-1912), cerca de 1900 - óleo sobre tela
Nascido em uma família que participou das Guerras Napoleônicas, Detaille aprendeu a arte da pintura de guerra com Meissonier e se tornou um dos maiores pintores do tema entre o final do século XIX e início do século XX. Acumulou uma vasta coleção de relíquias do período do I Império, as quais utilizou para produzir os incríveis detalhes que compõe sua obra. Nesta cena, o artista imaginou Napoleão na juventude. (Informações: livre tradução, acervo Musée de Armée, Paris).

                                                  
Esboço para retrato do jovem general Napoleão Bonaparte Jean-Baptiste-Édouard Detaille (1848-1912), cerca de 1900 - óleo sobre tela


No dia 18 de Brumário do Ano VIII,  dispensou os membros do Conselho, forçou os demais diretores a pedirem demissão e tomou o poder. Era o fim do Diretório e da Revolução.
                                   
                                   
Bonaparte e a vitória de Arcole
Antoine-Jean Gros - Musée de Armée, Paris. 
Foto: acervo

A Batalha de Arcole, na Itália, durou três dias. Em 15 de novembro, uma grande reviravolta ocorreu sob o comando do jovem general Bonaparte, que levou as tropas francesas à vitória. Sobre essa batalha, ele  escreveria mais tarde: "Nunca uma batalha seria tão fervorosamente combatida quanto Arcole".

Napoleão construiu sua reputação de bom general, estrategista, e líder brilhante. Além disso, discursava para seus soldados e lhes enchia de ânimo e moral de luta.



"Irmãos de luta que venceram, dispersaram e espalharam tudo o que estava no caminho deles... Milão é sua, e a bandeira republicana está voando sobre toda a Lombardia".
Napoleão a seus soldados em 20 de maio de 1796.

Os primeiros anos 

Inicialmente, o consulado dividia o poder em três: Bonaparte, Siyès e Ducos, os chamados cônsules. Na prática, apenas o primeiro cônsul decidia, ou seja, o poder concentrava-se em Bonaparte, que continuou as obras da Revolução no que referia-se a consolidação das conquistas burguesas e por fim à crise política e econômica que assolava a França há mais de uma década. Buscando garantir sua autoridade, em 1800, foi eleito cônsul vitalício.
Para garantir o apoio da população, medidas de cunho econômico foram tomadas, tais como:
- Realização de grandes obras públicas (edifícios, pavimentação de ruas, estradas, portos), gerando empregos e favorecendo os moradores dos centros urbanos;
- Garantiu apoio às atividades burguesas, principalmente ligadas ao comércio e à industrialização.
- Criou o franco, moeda forte francesa.
- Garantiu a antiga divisão das terras pertencentes aos nobres, feita pelos jacobinos em 1793, em pequenas propriedades, favorecendo a população camponesa e eliminando definitivamente os resquícios do feudalismo.
A medida que a economia se restabelecia, a popularidade de Napoleão aumentava. 


O Código Civil 

Em 1804, entra em vigor o Código Civil dos franceses ou Código Napoleônico, consolidando os direitos relacionados à igualdade jurídica, individuais e econômicas, tais como:
- Todos os franceses passaram a possuir os mesmos direitos e deveres;
- Garantia de liberdade de opinião e religião,
- Garantia de que toda pessoa que possuísse recursos poderia adquirir um bem;
- Aumento do poder dos empregadores e diminuição da liberdade dos trabalhadores.
- Reorganização da educação pública,
- Instituição do casamento civil, em substituição do casamento religioso e o divórcio.
- Criação da Universidade da França, controlada pelo Estado.
- Controle do teatro, letras e artes.
- Mulheres eram consideradas juridicamente incapazes. Mesmo que economicamente independentes, deviam obediência ao marido.

Muitos países adotaram o Código Civil Napoleônico como padrão de legislação moderna.

O Primeiro Império Francês

Ainda em 1804, após uma tentativa de golpe dos monarquistas, os franceses, por meio de um plebiscito, elegeram Napoleão Bonaparte imperador.
Numa estranha contradição, a Constituição afirmava: "O governo da República é confiado ao imperador Napoleão (...)". Tinha início o Primeiro Império Francês.

               
DHÔTEL, Gerard. A Revolução Francesa: Passo a Passo. São Paulo, ClaroEnigma, 2015 p. 71. 

Em 2 de dezembro,  foi consagrado na catedral de Notre-Dame, em Paris. Ao se auto coroar, demonstrava a independência da França frente à Igreja.

                             
Coroação de Napoleão Bonaparte (Le Sacré de Napoleón) - detalhe- Jacques Louis David
Museu do Louvre, Paris

A partir desse momento, passou a controlar os três poderes. O poder executivo de maneira direta. O judiciário, por meio da Alta Corte Imperial, e o poder legislativo, controlando as Assembleias Legislativas e os Colégios Eleitorais.

Documento histórico: 


                          
Decreto do Império de 18 de maio de 1804

O Império foi estabelecido na França por meio desse decreto senatorial orgânico, com data de 28 Floreal do ano XII. Os 142 artigos detalhavam as novas regras que regimentavam os poderes confiados ao imperador da França, Napoleão I. 

Diversas campanhas militares se iniciaram, buscando ampliar os domínios franceses no continente europeu e, consequentemente, seu império.
Observe que a ilustração representa Napoleão "assando as monarquias europeias". É possível ler nomes de outras nações europeias derrotadas na massa de pão que está sendo amassada. 

O grande padeiro francês assa uma nova fornada de reis. Seu ajudante, está misturando a massa.
https://www.britishmuseum.org/research/collection_online/collection_object_details.aspx?objectId=1480110&partId=1 acesso em 22/08/2019

A medida que expandia seus domínios, o Código Civil francês era levado às regiões conquistadas, ou seja, as ideias iluministas se difundiam pelo continente europeu, o que preocupava as nações absolutistas, principalmente a Áustria e a Prússia, inimigas declaradas da França desde o início da Revolução. 

As coligações contra Napoleão

Os países absolutistas uniram-se à Holanda e a Inglaterra contra a expansão das ideias revolucionárias e buscavam deter o avanço econômico francês pelos demais países do continente. 

Não alcançaram os resultados esperados: deter a expansão francesa e restabelecer a monarquia. 


Documento histórico: 


                               

                                     
Service historique de la Defense, departament de l'armée de terre. 

Carta de Napoleão de congratulações a estes homens depois da vitória em Austerlitz

3 de dezembro de 1805

Soldados, 

Estou satisfeito com vocês. No dia de Austerlitz, vocês justificaram tudo o que eu esperava de sua coragem. Vocês adornaram suas águias na glória imortal. Um exército de 100 mil homens comandados pelos imperadores da Rússia e da Áustria foi reduzido ou dispersado em menos de quatro horas. 
Quem escapou da fuzilaria, afogou-se nos lagos. Quarenta bandeiras, os estandartes da Guarda Russa Imperial, 120 canhões, 20 generais, mais de 30.000 mil prisioneiros são o resultado deste dia, que será sempre famoso. Esta infantaria muito louvada era superior em números, mas incapaz de resistir ao ataque e, de agora em diante, vocês não tem mais rivais a temer e, em dois meses, esta terceira coalizão foi abatida e dissolvida. A paz não pode mais estar distante, mas, como prometi a meu povo, antes de cruzar o Reno, somente farei a paz que me dê garantias e promessas de recompensas por parte de nossos aliados. 
Soldados, os franceses colocaram a coroa imperial sobre minha cabeça, confiei em vocês para manterem esta glória radiante, que, em meus olhos, é o único prêmio. Porém, no momento em que nossos inimigos pensarem em destrui-la e demoli-la, esta coroa de ferro venceu com o sangue de tantos franceses, eles queriam forçar-me a coloca-la na cabeça dos inimigos mais cruéis, um projeto imprudente e impulsivo, que, no dia do aniversário da coroação do seu imperador, vocês destruíram e superaram. Vocês os ensinaram que é mais fácil enfrentar-nos e ameaçar-nos do que abater-nos. 
Soldados, que tudo o que for necessário para assegurar a felicidade e prosperidade de nossa pátria for realizado, levá-los-ei de volta à França, onde vocês receberão minhas congratulações mais calorosas. Seu povo os verá novamente com grande alegria e tudo o que precisarão dizer é: estive na Batalha de Austerlitz, para que eles respondam: aqui está um homem de bravura. 

Do nosso acampamento imperial
Austerlitz, 12 frimário, ano 14





Napoleon at the Tuileries- by Patrice Courcelle
https://i.pinimg.com/originals/4b/67/43/4b674371092ccd4bc782faf5be364858.jpg


O Estrategista

Ao visitar o Musée de l'Armée em julho de 2018, tive a oportunidade de visitar a incrível exposição: Napoléon Stratège (Napoleão, o estrategista), que funcionou de 06/04 a 22/07 do mesmo ano. 
Esta exposição homenageou o gênio militar do general e posterior imperador dos franceses. Mais de 200 objetos do acervo do Museu de Armas e de outros museus de toda Europa formaram o acervo apresentado aos visitantes, como: mapas, uniformes, objetos pessoais, manuscritos, pinturas. 
A exposição busca ilustrar como foi sua educação, o contexto da Revolução, as questões em jogo no contexto e as campanhas militares. Analisa as principais batalhas, inclusive a Batalha das Pirâmides, Austerlitz, Wagram, Borodino e Waterloo. 
Mostra Napoleão como o centro das ações. Os equipamentos multimídia ofereciam possibilidades de pensar as estratégias como Napoleão o fazia. 
Ironicamente, o campo de batalha que lhe tornou grande, foi também o local em que acabou derrotado por seus inimigos europeus. No entanto, mais de duzentos anos depois da derrota final, seu nome continua associado a grandes gênios militares posteriores, que teriam sido por ele influenciados. 





Carta que pertencia ao príncipe Eugênio, 1813 - Salon-de-Provence, Musée de lÉmperi - dépôs du Musée de l'Armée
Este mapa cheio de alfinetes pertencia ao filho adotivo de Napoleão, Eugène de Beauharnais. As diferentes formas e cores dos alfinetes indicam o posicionamento de inimigos e aliados. Nas lembranças de um antigo soldado belga, da Guarda Imperial, o coronel Scheltens descreve Napoleão: "Um grande mapa foi aberto no chão,  ajoelhado sobre ele, Napoleão posicionava os alfinetes de cores diferentes (cera espanhola). 


Embora não tenha registrado suas teorias e métodos de estratégia, após sua morte, um incontável número de historiadores e estudiosos de guerra o fizeram.


Caixa de medicamentos de Charles Louis Cadet de Gassicourt (1769-1821) primeiro farmacêutico de Napoleão.



Gabinete de trabalho de Napoleão Bonaparte.















http://applicationmobile.musee-armee.fr/visite-virtuelle/napoleon-stratege/#/vue_1/



O Bloqueio Continental 

Com o objetivo de enriquecer a burguesia francesa e destruir a economia inglesa, que passava pela Revolução Industrial, em 1806, Napoleão Bonaparte, por meio do Bloqueio Continental, proibiu que os países do continente europeu comercializassem com os ingleses. Os que desobedecessem a sanção seriam punidos e invadidos. 
Embora afetada pela Bloqueio, a Inglaterra continuou exportando para as colônias nas Américas e na África, além de contrabandear produtos para a Europa, já que a burguesia francesa não foi capaz de suprir toda a demanda. 
Espanha e Portugal foram invadidos, dando início ao processo revolucionário de independência na América, enquanto que, ao romper o Bloqueio, a Rússia seria palco de uma enorme reviravolta na geopolítica europeia. 

A Campanha da Rússia

Em 1812, os exércitos franceses, cerca de 600 mil homens, atravessaram as fronteiras da Rússia. 
O czar Alexandre, incapaz de enfrentar tamanho exército, os atraiu para o interior do território. Os camponeses queimaram sua produção, casas, fazendas e celeiros. Sem abrigo ou alimentos, o Grande Exército francês sofreu imensamente com o rigoroso inverno russo. Sem alternativa, Napoleão retirou suas tropas para Oeste. 
Ao tomar o caminho de volta, cansados, famintos e doentes, o Grande exército francês foi surpreendido pelos exércitos da Coligação. Os franceses venceram algumas batalhas, porém não resistiram a superioridade numérica. 
Em março de 1814, Paris foi tomada pelos exércitos da Coligação. 
O Tratado de Fontainebleau obrigou Napoleão a abdicar e foi exilado na ilha de Elba, próxima à costa da Itália e decreta a volta da monarquia, com Luís XVIII (irmão de Luís XVI, guilhotinado em 1793), no entanto, os ideais iluministas estavam difundidos, os reis Bourbon não conseguiriam impor as práticas absolutistas e a França enfrentaria muitos anos de instabilidade política. 



A ilustração, de autoria alemã, ironiza a trajetória do general Bonaparte. 
                           

https://www.thinglink.com/scene/1027033324226347010 acesso em 22/08/2019





A volta para a França e o repouso final 


"Oh, brille dans l'historie, 
Du funèbre triomphe impérial flambeau
Que le peuple à jamais te garde en sa mémoire, 
Jour beau comme la gloire, 
Froid comme le tombeau!"
Victor Hugo


Livre tradução: "Oh, brilhe na história/ Da tocha imperial, o triunfo / 

Que o povo para sempre o guarde em sua memória / Lindo dia como a glória,

Frio como o túmulo!"














Achados arqueológicos de sepultura coletiva mostram que soldados de Napoleão morreram de fome
Livre tradução de: https://www.forbes.com/sites/kristinakillgrove/2015/07/25/skeletons-of-napoleons-soldiers-in-mass-grave-show-signs-of-starvation/#73774cd43743 Acesso em 26/08/2019

Arqueólogos escavam cova coletiva em meio à neve em Vilnius, na Lituânia. 

Mesmo com muita neve açoitava, os arqueólogos escavaram uma vala comum em Vilnius, na Lituânia. Os ossos desordenados, orientados ao acaso, eram pontuados com achados de sapatos e roupas. Botões revelaram a identidade dos mortos: mais de 40 regimentos diferentes estavam representados, todos da Grande Armée de Napoleão. Arqueólogos descobriram o lugar de descanso final de mais de três mil homens que morreram durante a retirada de Napoleão de Moscou em 1812. Agora, novas análises químicas dos ossos revelam de onde vinham esses soldados e quão difícil era encontrar o suficiente para comer.

As façanhas de Napoleão são bem conhecidas da história. Em uma tentativa de impedir a invasão da Polônia pelo czar russo Alexandre I, Napoleão decidiu invadir a Rússia primeiro. Ele começou com cerca de 675.000 homens que vieram de toda a Europa, franceses, alemães, poloneses, lituanos, espanhóis e italianos. Este Grande Armée diminuiu em seu avanço para a Rússia, depois recuou quando o czar se recusou a se render e não havia suprimentos para o exército em Moscou. Quando o exército chegou a Smolensk, na Rússia, restavam apenas 41 mil soldados. 

O Grande Armée continuou a oeste, cruzou o rio Beresina e chegou a Vilnius. Mas havia pouco para comer lá também. Cerca de 20.000 soldados morreram nessa região de hipotermia, fome e tifo. Cadáveres foram jogados em valas comuns. Uma delas, contendo restos de pelo menos 3.269 pessoas, foi escavado pelo bio-arqueólogo Rimantas Jankauskas e sua equipe em apenas um mês em 2001. 


Dois novos estudos sobre esses restos tentaram responder a perguntas sobre o local de origem dos soldados, sua dieta e possíveis causas da morte. (...)  descobriu que a maioria dos soldados de Napoleão estava comendo plantas como trigo, enquanto alguns podem ter vindo de áreas como a Itália, onde mais milho foi consumido. (...)




Os homens de Napoleão não estavam bem de saúde, mesmo antes de sua malfadada parada em Vilnius. A pesquisa sobre os dentes dos soldados na vala comum mostrou cárie dentária desenfreada e indícios de estresse durante a infância, e mais de 1/4 dos mortos provavelmente sucumbiu ao tifo epidêmico, uma doença transmitida por piolhos. Uma doença febril como o tifo pode causar aumento da perda de água corporal através da urina, suor e diarréia (...). E, é claro, relatos históricos detalham como as tropas vasculhavam infrutiferamente o campo em busca de comida e quantas delas comiam seus cavalos mortos ou moribundos.



Fragment of a pocket of a soldier's uniform, with regimental buttons, from the mass grave of 1812 in Vilnius. (Image used with kind permission of Rimantas Jankauskas)





Vilnius, LITUÂNIA: (ARQUIVOS) Cerimônias de enterro de restos mortais de 3000 soldados franceses são realizadas no cemitério memorial Antakalnis (01/06/2003)
 FOTO AFP (Crédito da foto deve ler PETRAS MALUKAS / AFP / Getty Images)


- Dentaduras feitas com dentes dos soldados de Napoleão: https://www.bbc.com/news/magazine-33085031


Referências Bibliográficas: 



CHANTERANNE, David. Napoleão: sua vida, suas batalhas, seu império. Rio de Janeiro: Agir, 2012.
DHÔTEL, Gerard. A Revolução Francesa: Passo a Passo. São Paulo, ClaroEnigma, 2015.
- Fotos: acervo da autora. 


Para Saber Mais:




Site da Exposição Napoleão, o Estrategista: https://musee-armee.fr/expoNapoleonStratege/https://france3-regions.francetvinfo.fr/corse/exposition-strategie-militaire-napoleon-mise-lumiere-1469773.htmlhttp://actualites.musee-armee.fr/expositions/derniers-jours-pour-visiter-lexposition-napoleon-stratege/

Achados arqueológicos: http://www.bbc.co.uk/history/ancient/archaeology/napoleon_army_01.shtml





Sugestão de exercício: 

Objeto do conhecimento: A Revolução Francesa e seus desdobramentos

Habilidades:
(EF08H104) Identificar e relacionar os processos da Revolução Francesa e seus desdobramentos na Europa e no mundo. 
(EF08H106) Aplicar os conceitos de Estado, nação, território e país para o entendimento de conflitos e tensões. 

Exercício Proposto

Documento 1:

Imagem elaborada pelo Museu de Armas de Paris para ilustrar a exposição Napoleão Estrategista (Napoléon Stratège)

Musée de lÁrmée – Paris – Exposição:(06 de abril a 22 de julho de 2018) – acervo pessoal

Documento 2:

      Tecnicamente os velhos exércitos eram mais bem treinados e disciplinados, e onde essas qualidades eram decisivas, como na guerra naval, os franceses eram sensivelmente inferiores. Eles eram bons corsários e rápidos incursores, mas não podiam compensar a falta de um número suficiente de marujos treinados e sobretudo oficiais navais competentes, classe que havia sido dizimada com a Revolução, pois constituía-se amplamente de elementos provenientes da pequena nobreza, que não poderia ser rapidamente improvisada. 
    Em seis grandes e oito pequenas batalhas navais entre britânicos e franceses, as baixas francesas foram cerca de dez vezes maiores que as dos ingleses. Mas no que refere-se à organização improvisada, mobilidade, flexibilidade e acima de tudo pura coragem ofensiva e moral de lutas, os franceses não tinham rivais. Estas vantagens não dependem do gênio militar de ninguém, pois o saldo militar dos franceses antes que Napoleão tomasse o poder era bastante impressionante, e a qualidade média do generalato francês não era excepcional. 
     Mas isto deve ter em parte dependido do rejuvenescimento dos quadros militares franceses dentro e fora do país, o que é uma das principais consequências de qualquer revolução. 

HOBSBAWN, Eric. A Era das Revoluções: Eropa 1789 -1848. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2014. p. 146.

a) A partir da observação do documento 1, como os organizadores da exposição: Napoléon Stratège, apresentam Bonaparte? 
b) Segundo o documento 2, por que os exércitos franceses eram inferiores na guerra naval? Destaque uma frase no texto que evidencie a conclusão do autor nessa inferioridade. 
c) Quais eram as qualidades do novo exército francês?
d) Os documentos apresentados são complementares ou contraditórios? Explique. 


Respostas: 


a) Os organizadores da exposição apresentam Bonaparte como um grande estrategista. Pode-se notar que as grandes vitórias francesas durante as guerras que ocorreram durante a Revolução contra as diversas Coligações da Santa Aliança e as ocorridas durante sue governo estão representadas como gravuras em seu cérebro, ou seja, fruto de sua engenhosa estratégia. 
b) O autor apresenta a inferioridade naval francesa como resultado da Revolução de 1789, uma vez que a maioria dos integrantes da marinha eram provenientes da nobreza e haviam sido dizimados durante o processo revolucionário.
c) Hobsbawn elogia aspectos do novo exército francês no que refere-se à organização, improvisação, mobilidade, flexibilidade e, acima de tudo, coragem ofensiva e moral de luta.


d) Os documentos são contraditórios, enquanto a gravura apresenta Bonaparte como um engenhoso estrategista militar, Hobsbawn apresenta o sucesso do exército francês como resultado do rejuvenescimento dos quadros militares franceses dentro e fora do país, que ocorreria com ou sem Bonaparte. 

domingo, 18 de agosto de 2019

O Templo de Poseidon - Cabo Sounio

Desde o primeiro momento em que cheguei ao aeroporto de Atenas, os personagens míticos estavam por ali, eram broches, cartões-postais, livros, selos. Atenas, Poseidon, Zeus, Artemis. Uma certeza me arrebatou: tinha chegado à terra dos deuses! 
Começava ali a realização de um sonho antigo dessa historiadora: a viagem à Grécia! 

A visita ao Cabo Sounio, esse lugar fantástico mistura histórias do deus dos mares, de Teseu e de Egeu.


Reconstituição da provável aparência do Templo de Poseidon em seu esplendor, século V a. C.
DROSOU-PANAGHHIÓTOU, Niki. Atenas. Os monumentos com reproduções.


Ruínas do Templo de Poseidon

Playmobil History - Poseidon


Seguindo os caminhos de Poseidon, Teseu e Egeu... 

Egeu era rei de Atenas e tudo o que mais desejava era ter um filho, porém, embora já tivesse se casado várias vezes, nenhuma dessas uniões lhe trouxe o tão desejado herdeiro. 
Eis que, após a visita a Delfos, tentando decifrar a profecia da pítia, encontrou a feiticeira Medeia, que lhe garantiu que seu filho seria gerado por magia. 
Na volta a Atenas, encontrou-se com o sábio Piteu, que não decifrou a profecia, mas o embebedou e o induziu a dormir com sua filha, Etra.

" No dia seguinte, o rei de Atenas ergueu uma enorme rocha e colocou embaixo dela suas sandálias e espada, dizendo a Etra:
- A espada que coloquei embaixo da rocha é uma relíquia de família. É a espada de Cécrops, primeiro rei de Atenas. As sandálias são minhas. Quando meu filho tiver dezesseis anos, você lhe dirá que venha me ver. Contudo, ele precisará primeiro erguer a pedra, pegar a espada e as sandálias e, para que eu o reconheça, deverá usá-las. Ficarei duplamente feliz, já que assim também saberei que teve forças para mover uma rocha como essa.
Todavia, Medeia tinha razão e Egeu não podia gerar filhos. Mesmo assim, o herdeiro do trono de Atenas iria nascer. É que ele não seria filho de Egeu e Etra, mas de Etra com Poseidon...
Graças a magia de Medeia, a deusa Atenas apareceu em sonho para a filha de Piteu e lhe disse:
- Levante-se e vá até Esféria, a ilhota (...)
Etra obedeceu, mas no local que a deusa lhe indicava, encontrou à sua espera Poseidon, o grande deus do mar. (...) A magia de Medeia havia surtido efeito. dessa forma, ao cabo de nove meses (...) Etra deu à luz o filho de Poseidon, que no entanto, também era conhecido como Egeu. Deram à criança o nome de Teseu.

STEPHANIDES, Menelaos. Teseu, Perseu e outros mitos. São Paulo: Odysseus, 2004. p. 66 a 68.


O Templo de Poseidon

Localizado no Cabo Sounio, a 67 km de Atenas, encontra-se imponente, esse templo fantástico, sobressaindo no alto de uma colina, ladeado pelo azul infinito do Egeo.  
Quando o vi, ao longe, tive certeza, Poseidon não poderia ter um templo localizado em um lugar melhor. 

Templo, mar, ilhas... a paisagem se integram de maneira tão harmônica que parece mágica... será que Medéia, ao fugir de Atenas, buscou refúgio aqui? 


Templo de Poseidon à distância




Na Odisseia, há referências a esse local como sagrado e centro de culto. Como os gregos tem estreita ligação com o mar, o culto a Poseidon, buscando navegação segura, era muito importante. 
A povoação de Sounio pertencia à Atenas e sua posição estratégica garantia a riqueza da região.
Competições marítimas eram ali realizadas durante as Panateneias.  


DROSOU-PANAGHHIÓTOU, Niki. Atenas. Os monumentos com reproduções.



Para proteger as vias marítimas que ligavam Atenas a Évia, por onde passavam os carregamentos de trigo que alimentariam toda a cidade, os atenienses fortificaram todo o cabo. Além disso, essa era a entrada natural para Láurion, região fornecedora de prata e chumbo da cidade. 

                           
Dessa forma, acima do rochedo, uma muralha semi-circular foi construída. Partes dessa gigntesca construção (que chegou a ter 500 metros de comprimento e mais de 3 metros de largura) podem ser vistas ainda hoje. 
Mirante no alto das muralhas e ilhas do Egeu

Área externa
Vestígios da antiga muralha


O santuário de Poseidon ocupa o pico mais alto dos rochedos que formam o Cabo. Inicialmente, foi construído com pedras calcárias, no século VI a. C., sendo, posteriormente, coberto por lajes de mármore a mando de Péricles, em 450 a. C. 


O pórtico tem 25 metros de comprimento por 9 metros de largura. Era aqui que se reuniam os fiéis para comemorações em honra ao deus, ou sacrifícios, em caso de mau tempo.


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O mármore aqui utilizado veio das pedreiras de Agrilesa, sua tonalidade branca impressiona até hoje e se difere do mármore de outras construções, que com o tempo adquiriram tons amarelados. No entanto, esse material é mais sensível à ação do tempo sofreu muito com a erosão e vento. 

Essas aves simpáticas estavam em toda parte


Não é possível entrar no interior do templo, era ali que ficava o pronaos, onde estava a estátua do deus. 

Não há registros que expliquem as causas da destruição desse templo, é provável que tenha ocorrido uma junção: tempo e desgaste, além da ação humana, marinheiros que tenham levado blocos de pedra para reutiliza-los para construções, não apenas na Grécia, mas em toda Europa. 
Detalhe- colunas

Na área externa, encontravam-se 12 kouros, hoje, dois deles encontram-se expostos no Museu Arqueológico de Atenas. 


Kouros de Sounio no Museu Arqueológico de Atenas
Kouros são estátuas de jovens, oferecidas pelos cidadãos de Atenas ao deus Poseidon



lindos balneários de veraneio que se estendem pelo Cabo
Cabo Sounio - por milhares de anos, embarcações navegam nessas águas


Por do Sol incrível! 


Foi aqui que assistimos, extasiados, um magnífico por do sol...
Volto a minha reflexão inicial: poderia Poseidon ter escolhido lugar mais fantástico para seu templo?








Egeu, Teseu, o Minotauro e o mar... 




"Ano após ano um navio com velas pretas transportava as vítimas de Atenas para Creta. Ano após ano pais e mães atenienses choravam a desgraça de seus filhos, enviados tão jovens para servir de alimento ao monstro terrível. E ano após ano todo o povo ateniense chorava de vergonha por não ter tido forças para defender seus cidadãos do cruel decreto do rei de Creta. Acontece que Minos tinha um exército poderosos, e nenhuma cidade do mundo se dispunha a enfrentá-lo. 





Egeu era então o rei de Atenas. Seu filho, Teseu, cerrava os punhos, enraivecido, cada vez que via o navio de velas pretas partir para Creta levando as jovens vítimas. 
- Por quanto tempo mais deveremos nos submeter aos caprichos do rei de Creta? - Teseu perguntava ao pai. 
- Se enfrentarmos o rei Minos, ele arrasará nossa cidade - Egeu respondia. - O sacrifício desses catorze jovens salva a vida de todos os demais cidadãos. 
- Então sacrifique a mim - disse Teseu. - Por que o filho do rei pode ficar tranquilamente em seu palácio enquanto outras famílias são obrigadas a entregar seus filhos para serem devorados por um monstro? 
- Você não sabe o que está dizendo - Egeu gritou. - É meu único filho. Se morrer no labirinto, quem será rei de Atenas depois de mim? 
- Mas não pretendo morrer - disse Teseu. - Vou matar o minotauro. 
Assim, Teseu decidiu que no ano seguinte seria um dos catorze jovens atenienses a fazer a trágica viagem. No dia da partida, Egeu perguntou ao filho: 
- Como saberei se você se saiu bem? 
E Teseu combinou com o pai: 
- Quando nosso navio voltar ao porto, observe suas velas. Se eu estiver morto, estarão içadas velas pretas de sempre. Se eu estiver vivo, terão sido trocadas por velas brancas. 
Egeu beijou o filho, que embarcou com os outros rapazes e moças, destinados a matar a fome do Minotauro. 
- Que os deuses protejam Teseu e todos os outros. - o rei murmurou, quando o navio sumiu no horizonte. 
(...) 

Teseu ameaçou o Minotauro, que soltou um grito enfurecido. Teseu investiu contra ele com a espada em punho. Deferiu-lhe um golpe, depois o outro, e outro, com toda força. Finalmente, um berro sacudiu as paredes do labirinto. Teseu sentiu o sangue quente do monstro espirrar em seu corpo. A criatura imensa estacou, engasgou, e foi até o chão. O Minotauro estava morto. 
- Matei o Minotauro - disse Teseu - Vamos levar isto para nossa cidade. Vamos pendurar a cabeça do Minotauro no templo da deusa Atena, em agradecimento à sua proteção, que nos permitirá voltar sãos e salvos para casa. 
(...) 
Depois de muitas semanas de viagem, o navio entrou no porto de Atenas. Sentado num rochedo, Egeu esperava pela volta do filho. 
- Lá está ele - o rei exclamou, ao avistar o navio que havia algum tempo partira para Creta. 
E as velas do navio eram pretas. 
- Meu filho se foi, com todos os seus companheiros - Egeu soluçou. E na mesma hora se jogou no mar. Teseu viu o pai cair do alto do rochedo. 
- Meu pai! - ele gritou. 
Então o rapaz se lembrou que havia combinado com o pai. As velas do navio não tinham sido trocadas. Eram velas pretas que estavam içadas. 

KIMMEL, Eric A. Mitos gregos; ilustração Pep Montserrat: tradução Monica Stahel. - São Paulo: WMF Martins Fontes, 2008. p. 77 a 86. 


Vocabulário mitológico: 

- Pítia: sacerdotisa de Apolo, no santuário em Delfos. De uma fenda de onde emanavam vapores, ela proferia suas profecias, que deveriam ser interpretadas.
- Medéia: a maior feiticeira do tempo do rei Egeu, filha do rei Eetes, da Cólquida, foi expulsa de sua cidade porque havia cometida um grande crime. Foi trazida por Jasão para a Ática quando este procurava o velo de ouro. Conheceu Egeu quando o rei de Atenas buscava respostas para a profecia de Delfos, e buscava um filho e herdeiro a qualquer custo.
- Piteu: filho de Pélope e Hipodêmia, era o mais sábio homem nascido até então. 
- Panateneias: festas realizadas para homenagear a deusa Atenas. Podiam ser anuais (Grandes Panateneias) ou ocorrer a cada quatro anos (Pequenas Panateneias). 



Incrível Grécia, berço da cultura Ocidental! Cartão postal magnífico com as atrações da terra dos deuses! 

Para Saber Mais: 


Referências Bibliográficas: 

DROSOU-PANAGHHIÓTOU, Niki. Atenas. Os monumentos com reproduções.
KIMMEL, Eric A. Mitos gregos; ilustração Pep Montserrat: tradução Monica Stahel. - São Paulo: WMF Martins Fontes, 2008. p. 77 a 86.
STEPHANIDES, Menelaos. Teseu, Perseu e outros mitos. São Paulo: Odysseus, 2004. p. 66 a 68.