Olá pessoal = )
Todos os materiais trabalhados em sala estão aqui disponíveis para vocês reverem, analisarem, refletirem e, claro, estudarem muuuuuuuuito para a avaliação trimestral. Os slides DITADURA MILITAR vocês podem baixar!
Utilizem os tópicos dos slides para fazer o roteiro de estudos, ok?
Para quem estiver interessado, o you tube traz uma enorme quantidade de outros vídeos que valem a pena serem vistos, onde artistas demostram seu apoio aos candidatos: http://youtu.be/nvIfIu40wdE, http://youtu.be/kZF1f4eH3eA, http://youtu.be/srBvkubG8gMo último programa político de Collor: http://youtu.be/ZPauNhdLsgA
Estudem MUUUUITO!!!
O governo Collor e Itamar Franco
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“O General Taí”
Genésio, quando houve aquela marcha de senhoras ricas com Deus pela família e etc., ficou a favor, principalmente do etc. Mesmo tendo recebido algumas benesses do governo que entrava pelo cano, Genésio aderiu à “redentora”, mais por vocação do que por convicção (ele tinha _ e ainda tem _ um caráter muito adesivo). Porém, com tanto cocoroca aderindo, Genésio percebeu que estavam querendo salvar o Brasil depressa demais. Mesmo assim foi na onda.
Adaptou-se à nova ordem com impressionante facilidade e chegou a ser um dos mais positivos dedos- duros no Ministério. Tudo que era colega que ele não gostava, ele apontava aos superiores como suspeitos. Naquele tempo _ não sei se vocês se lembram _ não era preciso nem dizer “de quê”. Bastava apontar o cara como suspeito e pronto... tava feita a caveira do infeliz.
Com isso, Genésio conseguiu certo prestígio junto à administração e pegou umas estias, ganhando um dinheirinho extra. Quando veio a tal política financeira do Dr. Campos, foi dos primeiros a aplaudir a medida. Num desses coquetéis de gente bem, onde foi representando o diretor do departamento, aproveitou um hiato na conversa, para falar bem alto, a fim de ser ouvido pelo maior número possível de testemunhas:
_ A política de contenção do Dr. Roberto Campos é simplesmente gloriosa! Breve até as classes menos favorecidas estarão aplaudindo a medida. Todos ouviram e, como tava todo mundo com o traseiro encostado na cerca, naqueles dias (e muitos estão até hoje), ninguém contestou. Houve até um certo ambiente de admiração pelo Genésio, que nenhum dos grã-finos presentes sabia quem era, mas que nem por isso foi esnobado, pois podia ser algum coronel, enfim, essas bossas!
O que eu sei é que o Genésio deu o grande durante uns quatro ou cinco meses. Depois, como era um filho de jacaré com cobra-d’água, caiu de novo no seu chatíssimo cotidiano e só ficou elogiando a “redentora” por vício ou talvez por causa de uma leve esperança de se arrumar ainda. (...) O tempo foi passando e o boi sumiu; o leite é isso que se vê aí; o feijão anda tão caro que, noutro dia, num clube da Zona Norte de uma cidade satélite da capital federal (que eu nem quero saber o nome), promoveram um jogo de víspora marcando as pedras com caroço de feijão e foi aquela vergonha... alguém roubou os caroços todos para garantir o almoço do dia seguinte. Genésio começou a desconfiar que tinha entrado numa fria. Aquilo não era revolução pra quem vive de ordenado. Em casa, a mulher dava broncas ciclópicas, porque o salário mensal dele estava acabando mais depressa do que a semana.
Houve um dia em que botou a sua bronca: _ Você é que não sabe fazer economia _ disse para a mulher. _ Pode deixar que eu vou fazer a feira. Ah, rapaziada, pra quê! Genésio foi a feira e só via gente balançando a cabeça; todo mundo resmungando, dizendo coisas tais como “assim não é possível”, “desse jeito é fogo”, “como está não pode ser”. Em menos de cinco minutos do tempo regulamentar, ele também estava praguejando mais que trocador de ônibus de subúrbio. Voltou pra casa, arrasado. Daí por diante entrou pro time dos conformados de Sousa. Só abria a boca para dizer que é um absurdo, onde é que nós vamos parar, o Brasil está à beira do abismo, etc. Mesmo na repartição, onde era visto com suspeita pelos colegas, rasgou o jogo. No dia em que leu aquela entrevista do Borgoff, dizendo que o povo devia comer galinha, porque boi é luxo, fez um verdadeiro comício, na porta do banheiro do Ministério, onde a cambada se reúne sempre para matar o trabalho. Foi aí que aconteceu! Estava em casa, deitado, lendo um X-9, quando a empregada chegou na porta. A empregada era dessas burríssimas, mas falou claro:
_ Seu Genésio, tem um general aí querendo falar com o senhor!
Ficou mais branco que bunda de escandinavo! Meu Deus, iria em cana. Não pensou duas vezes. Arrumou uma valise, meteu dentro alguns objetos, uma calça velha e _ felizmente morava no térreo _ pulou pela janela e está até agora escondido no sítio do sogro, em Jacarepaguá, no Estado do Rio. O vendedor é que não entendeu nada. Tinha ido ali fazer uma demonstração do novo aspirador General Electric, falou com a empregada, ficou esperando na sala e _ quando viu _ o dono da casa estava pulando a janela, apavorado.
FONTE: http://blog.correiodopovo-al.com.br/?p=48
A outra vida do tio Enéas
São Paulo, anos 70
MIKA LINS
“TIO ENÉAS vai chegar para ficar uns dias”, minha mãe avisou.
Tio Enéas era um homem muito alto e, na minha memória, aparece com um terno escuro, a camisa branca, o cabelo penteado para trás e um bigodinho engraçado. Para uma criança, filha única de pais que trabalham fora, qualquer hóspede era motivo de alegria. Ainda mais um hóspede como ele, sempre tão atencioso.
Não lembro quantos dias ele ficou naquela última vez, mas me recordo de, sentada no chão, ao lado da cadeira em que ele passava as tardes, observar com atenção sua leitura do jornal. Era um ritual meticuloso. A cada página virada, ele passava os dedos nos dentes -não nos lábios, nos dentes, mesmo- para molhá-los e virar a próxima página. Um dia, ele foi embora, e foi a última vez que o vi. Eu tinha cinco ou seis anos.
Algum tempo depois, um portador trouxe para minha mãe um colar de cristal da extinta Tchecoslováquia, que guardamos até hoje. Junto, veio um brinquedo para mim, um sapo de lata movido a corda; este se perdeu no tempo. Eram presentes do tio Enéas.
Como ele nunca mais aparecia para ficar conosco, perguntei à minha mãe quando voltaríamos a vê-lo. Ela desconversou. Foi me contar a verdade só anos depois, quando eu já era adolescente.
Tio Enéas era, na verdade, David Capistrano da Costa, membro do PCB, amigo de longa data do meu pai, naqueles tempos também ligado ao partido. Minha mãe me explicou que, àquela altura, David engrossava a lista de desaparecidos da ditadura militar. Durante a minha infância ele ainda vivia na clandestinidade, e meu pai era encarregado não só de escondê-lo como de transportá-lo sempre que vinha a São Paulo.
David Capistrano era um homem incrível. Quando o conheceu, nos anos 1960, no Recife, meu pai tinha uns 18 anos e já militava no PCB; trabalhava no governo Miguel Arraes. David tinha história. Nascido em 1913, no Ceará, participou do levante de 1935, quando era sargento da Aeronáutica, e foi condenado à prisão pelo Estado Novo. Lutou na Guerra Civil Espanhola e na Resistência Francesa durante a ocupação nazista. Em 1947, já de volta ao Brasil, foi eleito deputado estadual por Pernambuco, onde também dirigiu os jornais “A Hora” e “Folha do Povo”. Com a ditadura, caiu na clandestinidade até partir para a Tchecoslováquia, no início dos anos 70.
Meu pai amava aquele homem pelo espírito de luta, pela posição ideológica e pela humanidade. Minha mãe também -tanto que escondia David em nossa casa mesmo não sendo mais casada com o meu pai e tendo a perfeita noção do risco que corríamos.
Em 1974, aos 61 anos, David voltou escondido do exílio. Ao passar pela fronteira em Uruguaiana, no Rio Grande do Sul, foi preso pelos agentes do Exército e logo dado como desaparecido.
Em 2008, a jornalista Taís Morais publicou o livro “Sem Vestígios – Revelações de um Agente Secreto da Ditadura Militar Brasileira”, escrito com base em anotações enviadas a ela de forma anônima pelo agente de codinome Ivan Carioca. Nelas, Carioca relata com detalhes o fim trágico de David, torturado, morto e esquartejado, em Petrópolis.
Carioca descreve a visão do corpo daquele homem enorme e doce que conheci: “Um tronco, dividido ao meio. As costelas de Capistrano pendiam ao teto, e ele, reduzido aos pedaços, como se fosse uma carcaça de animal abatido, pronta para o açougue”.
Depois de ler, com tristeza, perguntei delicadamente a meu pai se gostaria de ler. Respondeu que sim -em 2008, ele se tratava de um câncer de pulmão diagnosticado no ano anterior. Meu pai morreu neste último dia 5 de agosto, mas não sem saber como partiu o amigo a quem homenageara dando a meu irmão o nome de David Lins. Para minha mãe, o colar que ganhou de David Capistrano é a única joia da família e o presente mais significativo que recebeu.
Ao lembrar essa história, além da saudade do meu pai, tenho a sensação desagradável de que talvez crimes da ditadura brasileira nunca sejam punidos. E penso que, por trás de cada movimento histórico, revolucionário ou não, há uma partícula delicada, talvez banal, de cada homem, que se mantém pela lembrança de uma garota com seu brinquedo de lata ou no brilho de um colar de cristal.
Folha de São Paulo