Aqui só tem História

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sexta-feira, 17 de agosto de 2018

Monteriggioni - Toscana: Como é participar de uma festa medieval?

Ano passado, em nossa viagem a Portugal, tivemos a oportunidade de visitar Tomar e vivenciar nossa primeira festa medieval. Na verdade, parecia mais uma grande feira, com algumas partes temáticas. Achamos que todas eram assim... nos enganamos! 

Sabíamos da Festa Medieval de Monteriggioni por meio do site Passeios na Toscana, que trouxe toda a programação e principais atrativos: https://passeiosnatoscana.com/2018/04/23/as-festas-medievais-na-toscana-em-2018/


Monteriggioni vista da pista
Após um dia memorável, passando por Volterra, lindos campos de girassóis, San Gimignano, no final da tarde chegamos a Monteriggioni, uma cidadela medieval, do século XIII, no alto de uma colina, bem próxima a Siena. 

Monteriggioni nasce na Via Francigena, uma antiga rota de peregrinação que se inicia na Grã-Bretanha e atravessa a Itália, ligando as cidades de São Thiago de Compostela, Roma, Constantinopla e Jerusalém por rotas e itinerários que convergiam para hospitais/hospedarias, em geral, construções religiosas, mas também seguia por trechos das antigas vias do período romano.

Direção de peregrinação Via Francigena

Graças a descrição da peregrinação de um arcebispo, Sigeric, in 994 d. C., de Canterbury até Roma foi possível reconstituir a rota percorrida com precisão. No percurso entre San Gimigniano e Siena, ela atravessa o território de Monteriggioni, onde um dos mais antigos locais de descanso para peregrinos mantém-se conservado, a Abbadia Isola. 

Há necessidade de pagamento para adentrar os muros e participar das festividades, 11 euros por adulto, menores de 18 anos pagam 9 euros. 


Vale dizer que foi um pagamento muito bem investido, diferente da festa de Portugal, que acontecia em praça pública e tinha apenas as pessoas que trabalhavam no evento caracterizadas, aqui a impressão era de ter voltado no tempo. 
Toda a cidade estava caracterizada, foi necessário fazer câmbio e trocar nossos euros por moedas que simulavam moedas ali utilizadas na Idade Média




Anuncio do casamento que uniria duas famílias importantes


Praça central de Montriggioni, a igreja, o poço e demais espaços de convivência


                
Chegada das famílias para a cerimônia, demonstrando sua riqueza e importância ao serem anunciada por seus músicos


E na praça, o casamento começa. 
As famílias exibem suas riquezas em lindos trajes, o dote da noiva é lido em praça pública e há música, muita música! 







O Castelo de Monteriggione

No ano de 1213, segundo registros, no mês de março, na época do senhor Guelfo di Ermano di Paganello da Porcari, podestà de Siena, as obras do castelo se iniciaram. Os custos para o levantamento das muralhas foram pagos por Siena e serviriam como uma poderosa estrutura defensiva contra a expansão de Florença nessa região estratégica da Via Francigena. 
Devida a sua função defensiva, a história de Monteriggioni é marcada por histórias de batalhas e confrontos com a rival, Florença, que por muitas vezes tentou destruir a muralha defensiva e a aldeia no interior. 
Monteriggioni, uma fortaleza inconquistável e inquestionável, caiu apenas no século XV, em 1533, golpeada por tropas ligadas aos fiorentinos, que atacaram e bombardearam o castelo até a rendição. 
As muralhas do castelo tornaram-se espaço de convivência, com muitas mesas e uma vista magnífica!



                    
Música, muita música, seria o rock'n roll da Idade Média? 


Escudos, armas, ferramentas, a tenda do ferreiro


Porta de saída pela parte de trás da cidade. O por do sol aqui entrou para minha lista de lugares mais espetaculares visitados. 





Artistas de rua simulam as apresentações de Saltimbancos, simpatia e equilíbrio



Comidas típicas da Toscana, consumidas desde a Idade Média. Deliciosas! 

Vinho frutado e cerveja que segundo diziam, seguia a receita dos frades medievais. 



Essa artesã é espetacular, ela costura livros e cadernos como se fazia na Idade Média, um trabalho primoroso e demorado. 


Pergaminhos, manuscritos, penas e tintas 

Tear manual para minhas aulas de Revolução Industrial, meus alunos não conseguem visualizar o que é um tear, portanto, essa foto é para eles. 





Toda a cidade envolvida na festividade

Bruxas e espíritos malignos não poderiam faltar onde existe o imaginário medieval

Simpatia e gentileza do povo de Monteriggioni para receber bem os visitantes



Dante, em seu período de exílio, morou em Monteriggioni
Encontrá-lo e ouvi-lo declamar seus versos foi inesquecível! 



Jogos e brincadeiras 

Me superei nessa, com pena do pobre ratinho, que tinha que ficar correndo aos berros de crianças enlouquecidas, superei meu asco e o acariciei! :O



                                       





Arrivederci, bellissima città. Torneremo presto! 


Para saber mais sobre a festa de Monteriggioni: http://www.monteriggionimedievale.com/

Vale destacar: As informações históricas apresentadas foram traduzidas por mim sem qualquer rigor científico, apenas utilizando as informações dos pontos da cidade, fornecidos pelo Musei Senesi. 


Para saber mais sobre a festa de Monteriggioni:

http://www.monteriggionimedievale.com/


La Conciergerie de Paris: de Palácio real à prisão política da Revolução Francesa


Disponível em: <https://www.tagesspiegel.de/themen/digitalisierung-ki/assassins-creed-unity-vive-la-revolution/10816302.html> Acesso em 26 ago. 2022


Conciergerie na Île de la Cité

O palácio real da Idade Média, posteriormente conhecido como La Conciergerie, foi projetado em um lugar estratégico, na Ilha da Cidade,  favorecendo o controle real, que vinha se fortalecendo, da cidade ao redor, além do caráter defensivo, fator essencial naqueles tempos incertos. 
Sucessivas reconstruções e incêndios tornam difícil imaginar como era a totalidade desse complexo, que hoje abriga a Conciergerie, o Palácio de Justiça de Paris e a Saint Chapelle, não mais como espaços integrados. 

O nome Concierge surge das funções relativas à justiça que também aconteciam no Palácio.

Vista da Saint Chapelle no interior da Conciergerie, projetada e construída para ser a capela particular dos reis que ocuparam esse antigo palácio. 

Reconstrução do século XV, do mais antigo relógio de Paris, do século XIII, perdido durante um dos muitos incêndios. 

Os espaços que visitamos hoje, ao adentrar a Conciergerie eram as antigas cozinhas do complexo, as do andar inferior para os empregados e serviçais e as do andar superior para o rei e seus convidados. 


No século XIV, no reinado de Charles V, o palácio é transferido para o Louvre e a Conciergerie adquire caráter único e ligado à justiça. 


Prisão na Revolução Francesa 

Desde o início, a Conciergerie como espaço destinado à prisão dos inimigos do rei era muito cômoda, uma vez que é um espaço anexo ao Tribunal de Justiça da cidade.
O que se pode ver hoje é uma reconstrução histórica do edifício e das celas, elaborada para a comemoração do bicentenário da Revolução em 1989, a distribuição espacial e muitos adereços buscam fidelidade em relação a como eram no período revolucionário, sobretudo no governo do Terror, período em que a prisão esteve em amplo funcionamento.
A Conciergerie nunca foi um local de execução: mas as sim um local onde ficavam os prisioneiros até a condenação, pelo Tribunal de Maio (Cour du Mai) momento em que seriam levados até a Guilhotina. 

Não, nada se pode comparar
Ao escuro da Conciergie
O sol está com medo de entrar
A grade de guarnição de barras
Mas amanhã eu vou ser julgado
E o tribunal abrirá
E eles vão decidir o meu destino
A porta... ou a faixa de correr. (Guilhotina)

Música escrita na Conciergie pelo cidadão M... 17 anos e meio em 1793, um dia antes de sua sentença. 



O interior da Conciergie de Charles Dauban

A mesa do diretor da prisão, cabia a ele  registrar o nome dos prisioneiros que chegavam e dos que deixavam a prisão. Esse "escritório" ficava no meio do corredor de celas, permitindo maior controle dos prisioneiros. Esses arquivos nos permitem saber, em detalhes, a rotina da Conciergerie. 
Cópia do livro de controle de prisioneiros da Concierge, o original encontra-se, por razões de conservação, nos Archives de la Préfecture de Police de Paris

No dia de sua execução o prisioneiro tinha seus cabelos cortados para um triste propósito:   facilitar o corte da lâmina da guilhotina.

Mesa, cesto e tesoura no espaço de recepção dos prisioneiros

Percebe-se a riqueza dos detalhes dessa reconstituição, como os casacos nos cabides das paredes.
As chaves e fechaduras das celas 

Corredores frios, mesmo para um dia de verão, e estreitos, evocam a imaginação em relação às dificuldades enfrentadas pelos prisioneiros
Reconstituição de uma cela

Área de banho de sol dos detentos, hoje um simpático jardim


Vida diária


Na maior parte do tempo, não se ficava muito tempo na Conciergerie: chegando lá antes de ser levado ao Tribunal Revolucionário e deixando-a imediatamente após a sentença. Os prisioneiros eram muito diferentes: como os suspeitos eram muitos, os oponentes políticos viviam ao lado de criminosos ou fazedores de dinheiro. A atmosfera particularmente tensa. Havia mais carcereiros que em outro lugar.
Houve três vezes mais prisioneiros do que no Antigo Regime, facilmente excedendo 500 na altura da Revolução. Eles tinham que financiar sua detenção. Os mais pobres ficavam abarrotados em celas escuras muito pequenas e desprovidos de móveis, as chamadas celas de palha.


A cela conhecida como "Pistole"

Algumas masmorras eram mais temidas doque outras e renomearam a "Paillerie" The Gaillotte "ou mesmo a "Morgue" (altivez). Os prisioneiros mais ricos compraram uma quantidade mínima de conforto (o" Pistole "). Alguns tinham celas maiores e até recebiam visitas, escreviam, e teve um último retrato pintado de si.Mas a promiscuidade era alta e havia muitas doenças. Havia rumores incessantes de peste. Durante o dia, depois da abertura matinal das celas, homens e mulheres iam a pátios separados, ou quando chovia, ficavam no corredor.Aqueles que, depois de libertados, escreveram suas lembranças, lembraram-se do clique das chaves, da trituração, do constante claro-escuro, dos cachorros latindo, dos passatempos, das refeições frugais, das discussões, da caminhada, do medo e da coragem de alguns. prisioneiros.



Logo fui separado de meus companheiros e mergulhei, em nome do segredo, na masmorra mais horrível da casa; lá eu encontrei ladrões e assassinos. (...) Nós estávamos completamente privados de luz. O ar era nocivo, impuro, a maior das aflições cobria-nos, por assim dizer, em nossa própria sujeira. Ele (o sol) desceu até nós em uma área de doze pés, e onde nós estávamos amontoados em sete de cada vez".


Memórias de Jean Honoré Riouffe, preso na Conciergie do outono de 1793 ao verão de 1794 por razões pessoais.

As celas da Conciergerie

As perseguições, prisões e mortes durante a Revolução Francesa: O Tribunal Revolucionário


Deixem-nos ser o Terror para impedir que as pessoas o sejam - Danton 


O Tribunal Revolucionário foi implantado em março de 1793,  no Palácio da Cidade para julgar os mais importantes crimes policiais e aplicar a justiça, garantindo a sobrevivência do Estado e protegendo a população no contexto de crise instaurado. 
Modesto no início, o Tribunal Revolucionário tornou-se rapidamente uma grande máquina administrativa. Após 6 meses de existência, tinha 16 juízes e 60 jurados, escolhidos por sua lealdade, eles deveriam aderir à convicção moral, não à evidência real. 
Os deputados que implantaram o Tribunal Revolucionário desejavam quebrar o circulo de vingança instaurado, implantando a lei e a ordem de maneira muito diferente do Antigo Regime. 
Os acusados eram julgados e seus crimes eram ouvidos, no entanto, havia possibilidade de defesa e apelação da decisão final, além de poderem apresentar testemunhas a seu favor. Os julgamentos mais famosos desse período foram o de Maria Antonieta e Charlotte Corday.  
Após a Lei do 22 do Pradial, o Terror foi implantado, a repressão foi imensa, eliminando a possibilidade de defesa dos acusados. Quatro entre 5 dos acusados eram condenados à morte. 



Em ordem alfabética, todas as paredes das salas estão repletas com os nomes dos prisioneiros. Somam mais de 4000 nomes, julgados pelo Tribunal Revolucionário entre 1793 e 1795. Independente da sentença: execução, absolvição ou outras sanções, passaram alguns dias na Conciergie. 

Páginas de interrogatório do Tribunal Revolucionário, 1793
Dois membros do juri do Tribunal 
Outros exemplos de documentos do Tribunal Revolucionário

Após a Revolução, a lista de vítimas do Terror foi preservada como algo muito valioso, mantendo a memória dos que foram guilhotinados, honrando-os como mártires da resistência republicana, transformados em armas contra a Revolução jacobina. 

Nessa sala, o visitante pode compreender mais sobre o que foi a chamada "Justiça Revolucionária"
Pessoas das mais variadas composições sociais passaram pela Conciergerie: nobres, clero e Terceiro Estado. Antes de 1793, as celas eram ocupadas, majoritariamente por nobres e membros do clero, os quais não aceitavam a Revolução. 


Como entender a organização nominal: 
A espessura da letra indica a sua condição social, a cor, sua sentença: Vermelho: execussão
Preto: deportação ou prisão. 
As transcrições feitas nessa parede seguem exatamente os registros dos arquivos do Tribunal Revolucionário, mantidos no Arquivo Nacional. 

Milhares de execuções na Guilhotina

Em pouco mais de 2 anos, no período que viria a ser conhecido como Terror Jacobino, mais de 300 mil pessoas foram presas em toda a França e, aproximadamente, 35 mil pessoas foram guilhotinadas, acusados de inimigos da Revolução. 

Alegoria do Terror

Robespierre: 

Virtude, sem a qual o terror é fatal; o terror sem o qual a virtude é impotente.


Robespierre passou seus últimos momentos nos corredores dessas celas
10 Terminador ano II
28 de julho de 1794
Deixo minha memória para ser querida e defendida
Centro de Memórias de Robespierre 1931-1989

Maximilien Robespierre - 1791
Modelagem de Claude-André Deseine (1740-1823)
Conservado no Museu da Revolução francesa em Vizille
Gesso Manchado
Coleção do Centro de Museus Nacionais

Imagem satírica a Robespierre
Robespierre guilhotinado por si mesmo

Vale muito a visita!
Valor: 8 euros por adulto, menores de 18 anos não pagam.
Aceita Paris Museum Pass