Aqui só tem História

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domingo, 27 de outubro de 2024

Animal War Memorial, Londres


    No centro da cidade de Londres, em Brook Gate, at the Park Lane, fica um memorial muito tocante, o Animal War Memorial. Ele homenageia todos os animais mortos em conflitos ao longo do século XX. 
    O Memorial foi inaugurado em 2004 como parte das comemorações dos 90 anos do início da I Guerra Mundial, em 1914. 

Cavalos e mulas



    Oito milhões de cavalos e mulas foram mortos ao longo da Primeira Guerra Mundial. Eles foram usados para transportar munições e suprimentos para a frente de batalha e muitos morreram, não apenas pelo fogo cerrado de projéteis, mas também de exaustão, doenças e em condições climáticas terríveis. 


    Cavalos de montaria eram usados ​​pela cavalaria, já os de tração deixaram de puxar bondes para transportar armas de artilharia pesada ou carroças de abastecimento. 


O exército utilizou a resistência física das mulas em terrenos difíceis e em climas extremos. Esses animais serviram corajosamente na lama gelada na Frente Ocidental e no calor opressivo da Birmânia, da Eritreia e da Tunísia. Já os pôneis, por serem pequenos e resistentes, foram utilizados para transporte de armamentos


    Há muitas histórias inspiradoras e, muitas vezes, trágicas da grande lealdade entre cavalos, mulas e os soldados durante as batalhas mais sangrentos do século XX. 


O Beijo do Soldado (Henrique Chappell) 

Apenas um cavalo moribundo! 
Tire a engrenagem, 
E deslize o pedaço desnecessário das mandíbulas espumantes, 
Arraste-o para lá, deixe a estrada livre
A bateria troveja sem pausa.

Prostrado pela estrada devastada pelas bombas, lá está ele 
Com membros trêmulos, tão rápido quanto a maré da vida passa, 
Películas escuras estão se fechando sobre os olhos fiéis 
Que silenciosamente imploram por ajuda, não há nenhuma.

A bateria avança, mas lá vai alguém em alta velocidade, 
Sem se importar com a voz do companheiro ou com a explosão do projétil, 
De volta ao amigo ferido que sangra sozinho 
Ao lado da estrada pedregosa onde caiu.

Apenas um cavalo moribundo! 
Ele se ajoelha rapidamente, 
Levanta a cabeça flácida e ouve o suspiro trêmulo 
Beija seu amigo, 
Enquanto rola 
Doce lágrima de piedade; 
'Adeus, Velho, Adeus.'

Nenhuma honra o aguarda, 
Medalha, Distintivo ou Estrela, 
Embora dificilmente uma guerra pudesse revelar um ato mais gentil; 
Ele carrega em seu peito, muito mais precioso 
Além do presente dos reis, um coração de ouro.



    Do outro lado do muro que cerca o memorial, em um gramado cheio de luz, estão essas duas representações de um cavalo e um cachorro correndo livres de suas cruéis obrigações em tempo de guerra. Gosto de pensar em todos aqueles que voltaram para à Inglaterra. 

Cães


    Os cães foram usados ​​por todos os exércitos envolvidos na Primeira Guerra Mundial. Os britânicos e, em geral, todos os outros exércitos, recrutaram, treinaram e mobilizaram os seus cães.
    Os franceses usaram cães pequenos como caçadores de ratos nas trincheiras. Os ratos eram mais um dos enormes problemas que envolviam a vida nas trincheiras, dessa forma, os cães matadores de ratos provaram ser inestimáveis ​​para a vida no front.


    Os cães de grande porte foram utilizados como sentinelas. Seus sentidos aguçados lhes permitiram detectar movimentos inimigos a distâncias e alertar a trincheira sobre o ataque que viria. 

Soldados belgas e seus cães, os quais puxam metralhadoras para os campos de batalha

https://www.theworldwar.org/learn/about-wwi/dogs-wwi
Cartão que acompanhou um cão em sua jornada, da Inglaterra até o campo de batalha

Pombos correio

Um conflito de tamanhas proporções como a Grande Guerra precisava contar com um eficiente sistema de comunicação. As novidades do início do século como o telefone e o telégrafo, podiam ter os fios cortados e interromper a comunicação. Os pombos-correios foram a solução.
Os aviões sobrevoavam as trincheiras inimigas, elaboravam breves relatórios e atavam aos pombos que, ao procurar por seus pombais de origem, levavam mensagens de uma trincheira a outra e até para o outro lado do Canal da Mancha.


Mais de 100.000 pombos serviram à Grã-Bretanha na Primeira Guerra Mundial e 200.000 na Segunda Guerra Mundial. Eles se apresentaram heroicamente e salvaram milhares de vidas carregando mensagens vitais, às vezes por longas distâncias, quando outros métodos de comunicação eram impossíveis. Voando a uma taxa de uma milha por minuto da linha de frente, de trás das linhas inimigas, de navios ou aviões, em todos os climas. 
Essas aves tão inteligentes evitaram a morte de muitos homens.

Outros tantos animais... 


Camelos utilizados para carregar feridos

Elefantes, camelos, bois, gatos, canários, todas essas criaturas, grandes e pequenas, contribuíram com sua força, sua energia e suas vidas em tempos de guerra e conflito para as forças britânicas, da Commonwealth e aliadas durante o século XX.

📚 Vale a pena ler: 


quarta-feira, 23 de outubro de 2024

Museu Afro-Brasil Emanoel Araújo em São Paulo

O Museu Afro-Brasil, no Ibirapuera, em São Paulo, apresenta a população afro-brasileira a partir da ótica da igualdade e do pertencimento


Ali, por meio da valorização da diversidade étnica dos povos africanos do passado e de suas estratégias de resistência à escravidão, as obras expostas demonstram como os afro-brasileiros se tornaram formadores fundamentais da nossa população e cultura.


Povos africanos e obras representados no Museu-Afro Brasil



África: diversidade e permanências


Representações dos poderosos reinos africanos e a enorme diversidade étnica na África e na América ao longo de centenas de são os principais assuntos abordados por esse espaço expositivo.

Esculturas, Kifouli Doussou (1978), Benim




Bastões de Moçambique, madeira e fita, sem data. Reprodução da obra de Johann Moritz Rugendas, Festa de Nossa Senhora do Rosário, padroeira dos negros, 1835. 


História e Memória

Por séculos, foi negado aos afro-brasileiros o direito à memória e ao passado, inclusive embranquecendo negros e mulatos por seus feitos. Resgatar a identidade, relevância e história de figuras negras é o principal objetivo dessa exposição.

Raphael Galvez A morte do Zumbi (1940)


Madalena Schwartz Retratos - de cima para baixo: 
- Solano Trindade: poeta pernambucano, folclorista, pintor, ator, teatrólogo e cineasta, 1969. 
- Abdias Nascimento: ator, diretor, dramaturgo, ativista social e fundador do teatro experimental negro, 1951. 
- Octávio Araújo: pintor paulista, gravador, desenhista e ilustrador, 1975
- Pelé: jogador de futebol, 1982. 


Madalena Schwartz Retratos - de cima para baixo:
- Clementina de Jesus: sambista carioca, 1978. 
- Aizita Nascimento: atriz e modelo carioca, 1975. 
- Marina Montoni: atriz e modelo carioca. 
- Ruth de Souza: atriz carioca, 1983. 



Soldados afro-brasileiros em diversos conflitos ao longo da história do país



Busto do soldado, sem data

Montagem - capa da Revista Ilustrada comemorativa à abolição da escravidão, maio de 1888. Fotografia da Princesa Isabel, governante regente do Brasil, luvas que pertenceram à princesa e escultura que a representa em madeira. 


Jornalista abolicionista José do Patrocínio - documentos de alforria e testamento, 1879


"Bom Jesus Conselheiro, o mais famoso chefe carismático do Brasil, surge sempre vestido num surrado camisolão azul, barbas e cabelos compridos, magríssimo, alimentando-se muito pouco, o 'Santo Conselheiro' gostava, todavia, de pregar aos sertanejos nordestinos, indicando-lhes, nos conselhos que dava, o caminho da saIvação, combatendo o regime republicano, apontado como criação do demônio..."

José Calasans (Museu Afro) 


Trabalho e escravidão

O trabalhador africano foi essencial em todos os ciclos econômicos da colônia - nos espaços urbanos ou rurais e, posteriormente, da nação, gerando riquezas e contribuindo com a qualificação em trabalhos especializados.
Na maior parte dos 500 anos da presença desses grupos na América portuguesa, no Império e República, esses trabalhadores foram alvo de violência, preconceito e crueldade.




Punição com palmatória, 1860-1865. 

Ama de leite com criança, século XIX

Mãe Preta, obra em bronze. Júlio Guerra


Pães de Açúcar, forma utilizada para cristalizar o melaço.  


Diversas formas de trabalho realizado pelos africanos ao longo do período colonial


Nesse espaço existem diversas ferramentas utilizadas pelos afro-brasileiros para realizar os mais diversos tipos de trabalho especializado na colônia. 

Porta de oficina de ferreiro





Barbeiros ambulantes (título da obra do artista francês Jean Baptiste Debret - reproduzida acima) eram escravizados de ganho que circulavam pelas cidades, principalmente pela capital Rio de Janeiro, e ofereciam seus serviços de cabelereiro, barbeiro e sangrador - colocavam sanguessugas atrás dos ouvidos, dos olhos ou no peito das pessoas para tirar o sangue "ruim" e curar o doente. 

Réplica de navio negreiro ou tumbeiro - transporte dos escravizados

Montagem utilizando a obra de Rugendas, Navio Negreiro



O Sagrado e o Profano


O cristianismo foi imposto aos africanos escravizados e tornou-se, ao longo dos séculos, espaço de sincretismo e preservação da cultura africana.
Sagrado é ligado ao divino e seus símbolos e desperta o respeito daqueles que acreditam nesse simbolismo. Já o profano é oposto. 
Nos trezentos anos em que o território que hoje é o Brasil foi colônia de Portugal, as obras de arte eram exclusivamente religiosas e os artistas aprendiam seus ofícios em corporações de ofício com mestres artesãos. Como, em geral, a sociedade colonial via o trabalho manual como um trabalho inferior, escultores, douradores, pintores, talhadores, carpinteiros, eram africanos ou mestiços, como Aleijadinho, grande artista mineiro do barroco. 





Artes Plásticas: a Mão Afro-Brasileira








🎬  Conhecendo Museus - MUSEU AFRO - BRASIL



Referências

Núcleo de educação do Museu AfroBrasil. São Paulo: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2007.