Disponível em:<
https://actualitte.com/article/16343/reseaux-sociaux/armistice-du-11-novembre-raconter-la-guerre-aux-enfants-en-4-livres > Acesso em 27 fev. 2024.
A I Guerra Mundial ou Grande Guerra, foi um conflito sem precedentes não somente pelos 10 milhões de mortos e milhões de feridos, mas pelas dimensões que assumiu na vida daqueles que foram obrigados a passar por ela e nas feridas profundas que deixou sem cicatrizar.
Vale a pena acessar:
Hoje é dia 1˚ de agosto de 1914. Faz muito calor. Faz muito calor. Começaram a colher o centeio no dia 25 de julho, já está quase branco. Quando passei por um campo esta noite, colhi três ramos e fixei-os sobre a minha cama com uma tachinha.
A partir de hoje a Alemanha está em guerra. Minha mãe me aconselhou a escrever um diário sobre a guerra; ela acha que poderá me interessar quando eu for mais velha [...]
14 de agosto de 1914
Finalmente! As potências envolvidas na guerra europeia fizeram até o momento onze declarações de guerra na seguinte ordem, precisamente:
1. Áustria-Hungria v. Sérvia
2. Alemanha v. Rússia
3. Alemanha v. França
4. Inglaterra v. Alemanha
5. Bélgica v. Alemanha
6. Áustria-Hungria v. Rússia
7. Montenegro v. Áustria-Hungria
8. Sérvia v. Alemanha
9. França v. Áustria-Hungria
10. Montenegro v. Alemanha
11. Inglaterra v. Áustria-Hungria”
Há boatos nas ruas de que estão sendo feitos preparativos para grandes batalhas tanto na França como na Rússia. Na França estamos reunindo nossas tropas perto da fortaleza de Belfort. Na Rússia estamos rumo a São Petersburgo. O governo Russo precisa tentar ganhar os poloneses para a sua causa. Colunas de ciclistas alemães e austríacos estão agora pregando avisos nas paredes das cidades polonesas dizendo, no idioma deles: “Poloneses, rebelem-se contra o governo e submetam-se ao ordeiro regime alemão”.
Agora há barricadas nas pontes das nossas estações de trem. Por toda parte há sentinelas. Nas pontes, há cartazes que dizem “Dirija devagar!”. Todo motorista é interrogado e todo veículo, revistado. Ninguém que esteja atravessando uma ponte pode demorar-se sobre ela. Trens militares passam sob as pontes. Subitamente tem-se a sensação de que o inimigo está bem próximo.
As pessoas estão começando a ficar tensas. Soubemos de algumas famílias que deixaram a cidade. [...]. Novos refugiados chegaram da Prússia Oriental. Desta vez eu os vi com meus próprios olhos, mães, crianças, velhas e velhos. Alguns bem-vestidos, outros, mal. Todos trazem trouxas e malas, roupa de cama, casacos e mantos, tudo amarrado junto. O posto da Cruz Vermelha na estação cuida dos refugiados.
Uma mulher com crianças barulhentas ficava gritando “Para onde podemos ir? Para onde ir?”. Desejei a ela boa sorte e disse: “Não se preocupe, o imperador cuidará de todos nós!”. “Pobre menina”, disse a mulher (pronunciando-o de uma maneira esquisita), “uma criança como você não faz ideia de como é, não?” E as lágrimas correram por todo o seu rosto rechonchudo e vermelho.
O dia 22 de abril é um dia de que jamais me esquecerei. Eu estava de pé em uma trincheira preparando algo para o café da manhã. [...], um dos nossos colegas no posto de observação gritou:
Vovó resmungou um pouco quando
sobre que pretendíamos ir até o cemitério dos prisioneiros e disse que
acabaríamos molhando os pés na neve. Coloquei minhas pantufas cuidadosamente
atrás do fogão quente e olhei dentro do forno, para me certificar de que estava
tudo bem. Lá estava a lata azul de café; estávamos bem preparadas.
Não estava mais nevando, mas tudo
estava branco, e o ar, enevoado e cinza, um típico penúltimo dia de novembro.
Gretel caminhava com dificuldade ao meu lado; estava bonita, no entanto, com o
seu antigo casaco fino. Olhei de soslaio para ela e declarei: “Suas bochechas
estão azuis de frio”. Friccionei minhas luvas de lã contra o rosto dela até que
ficasse quente e rosado novamente.
O caminho até o cemitério dos
prisioneiros nunca nos pareceu tão longo; não tinha fim. Nossos sapatos logo se
encheram de neve. Não podia mais sentir os dedos dos pés, tamanho o frio. Eu
havia pendurado a grinalda sobre o ombro esquerdo; ela me alfinetava o rosto
quando eu tropeçava. Mal conseguíamos avançar no caminho, pois afundávamos na
neve até os joelhos. Embora tivéssemos saído antes das três horas, já estava
começando a escurecer. O sol não havia aparecido durante todo o dia. Gretel
disse que muitos dos seus alunos na escola do conselho estavam doentes, com
gripe; igualmente, dois professores estavam afastados. A escola será fechada po
medo de infecção. Gretel disse que eu não podia de maneira alguma pegar a
gripe, porque ficaria tão magra que não seria capaz de resistir à doença. Eu ri
e respondi que mesmo assim resistiria com a minha energia; além do que, eu não
tinha tempo de ficar doente, pelo bem dos pobres pequeninos no lar de menores.
“E pelo meu bem, não se esqueça”,
disse Gretel, caindo de corpo todo na neve. Gargalhamos porque ao menos trinta
corvos ficaram tão assustados pela queda de Gretel que fugiram, grasnando e
reclamando, sobrevoando o campo nevado. “Será que já estamos chegando?”,
perguntou Gretel. “Estamos andando há tanto tempo. Sabe encontrar a trilha
certa em meio à neve?”
Eu apontei para diante; lá
estavam os primeiros sinais do arame farpado que rodeava os túmulos. As
sepulturas baixas eram difíceis de reconhecer em meio à massa branca; apenas as
cruzes negras de madeira eram distinguíveis. E as árvores pareciam de repente
muito menores porque a parte inferior dos seus troncos estava coberta pela
neve; tudo estava diferente e esquisito. Quando chegamos à cerca, ficamos
impressionadas. Tantas cruzes! Fazia tempo que não íamos até lá; e agora o
cemitério dos prisioneiros havia se tornado subitamente tão grande – enorme!
“Veja”, disse Gretel, “eles jazem
ali tão imóveis!”
Do que teriam morrido todos eles?
Mas é verdade que casos de tifo e influenza estavam proliferando; muitos casos
de disenteria também, e quem sabe alguns teriam morrido de saudade de casa.
“Ou de fome”, sussurrou Gretel.
“Ou de fome!”, concordei,
entristecida.
“E agora?” Gretel olhou para o
denso arame farpado...
Então trepei por sobre o portão,
apesar do arame farpado. Enquanto fazia isso, esfolei as pernas, mas me ergui
rapidamente até o parapeito de madeira e saltei no chão. “Não foi tão feio
assim!”, assegurei a Gretel, abrandando involuntariamente a voz, apesar de não
haver ninguém por perto. “Dê-me a grinalda. E espere aqui!”
“Vou esperar”, sussurrou ela.
Tantos mortos! Já estava bem
escuro, mas eu ainda conseguia ler os nomes dos mortos, não apenas os russos, como
no início da guerra, mas também franceses e ingleses. Havia até nomes numa
estranha caligrafia, talvez muçulmanos. Como vieram parar no nosso campo de Schneidemühl?
Como eu poderia distinguir uma sepultura das outras? Eram todas iguais. Na
morte, todos são iguais, por assim dizer.
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