Aqui só tem História

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domingo, 13 de abril de 2025

Westminster Abbey, Londres



A Abadia de Westminster é a necrópole - tem muita gente enterrada por lá! 👻🪦⚰️ -  mais famosa da Grã-Bretanha e sua história é longa. Ela foi construída sobre o que já foi uma ilha, a Thorney Island - uma área pantanoso. às margens do rio Thames.

No final do século X, no reinado do rei Edgar (957-75), o terreno foi doado para a construção de uma igreja e vários reis seguintes doaram relíquias. 

https://londonist.substack.com/p/what-was-in-london-before-london

Representação da Thorney Island na Idade Média, quando teve início a construção da Abadia em estilo gótico que conhecemos hoje foi construída. 

Quase um século depois, no século XI, a igreja maravilhosa que podemos visitar hoje começou a ser projetada pelo rei Edward, o Confessor (1042-1066): um complexo que incluía um palácio, um grande mosteiro e uma igreja para atender às funções reais e sepultamentos como forma de agradecimento do rei por ter conseguido fugir para a Normandia quando da invasão dinamarquesa. 

As incríveis abóbodas ogivais da nave alcançam 30 metros de altura. 


Harold Godwinson foi o primeiro  a ser coroado em Westminster, seguido por Guilherme, o Conquistador em 25 de dezembro de 1066.

Seguiram-se mais duzentos anos e o rei Henrique III (1216-1272), desviou enormes quantias de dinheiro destinadas ao governo do reino para seus planos de remodelação da catedral, agora em estilo gótico. A abadia que vemos hoje é, em grande parte, resultado das obras feitas durante seu reinado. Já a maioria dos súditos não se mostraram satisfeitos com esses desvios. 

Tumba do rei Edward I (1239-1307)


Na nave, logo na entrada da abadia, há o retrato do rei Richard II em sua veste de coroação, com o cetro e a orbe, de 1390, o mais antigo retrato de um monarca britânico.
A rosácea é um exemplo do século XVIII

Os magníficos lustres da nave foram doados pela família Guinness - a da cerveja, em 1965, em comemoração ao 900º aniversário de Westminster. 


Em 1534, quando Henrique VIII iniciou a Dissolução dos Monastérios, a Abadia foi assumida pela coroa.
Sua filha Maria I, rainha católica,  restaurou os monges em Westminster, mas sua sucessora e irmã, Elizabeth, rapidamente reverteu a decisão assim que se tornou monarca. Foi sob Elizabeth que Westminster assumiu o seu papel atual: igreja da monarquia britânica.

Capela de Nossa Senhora de Henrique VII


A Lady Chapel é uma gloriosa mistura de estilos arquitetônicos. Li em um artigo em que o autor utilizou a expressão: 'é quase bonita demais' e ele descreveu exatamente o que senti. 

Henrique VII, o primeiro monarcas da dinastia Tudor foi o responsável por essa esplêndida obra,  consagrada em 1519. 



Teto com as abóbada em leque, são delicadas e se parecem com uma rede de rendada e conduzem o olhar do observador para o alto. Elas são apenas ornamentais, colunas que suportam o peso do teto encontram-se debaixo delas. 

Desde 1725, a capela é associada à Honorável Ordem de Bath e os estandartes dos atuais Cavaleiros da Grande Cruz circundam as paredes. 


Rosas que representam as casas de York (branca) e Lancaster (vermelha) - famílias dos quais descendem os Tudor. 

Mary I e Elizabeth I 

Embora rivais em vida, as irmãs Elizabeth I e Mary I foram enterradas juntas, mas apenas a efígie de Elizabeth adorna o memorial.
Quando Elizabeth morreu, em 1603, milhares de pessoas assistiram ao seu cortejo fúnebre, e, como descreveu um cronista, houve "suspiros, gemidos e choro como nunca antes vistos ou conhecidos na memória do homem". A estátua funerária de madeira colorida estava sobre o caixão. 
A efígie funerária original, feita por John Colt, foi refeita em 1760 com uma cabeça de cera e novas roupas externas. O espartilho original e único da efígie de 1603 ainda sobrevive.


Esfinge de cera da rainha Elizabeth exposta em Westminster

Espartilho da efígie de cera de Elizabeth I, 1603




Mary Stuart



Logo após sua execução, Mary foi enterrada pela primeira vez na Catedral de Peterborough com grande solenidade por ordem de Elizabeth. Um mies após assumir o trono inglês, seu filho Jaime I, ordenou que seus restos mortais fossem levados para a Abadia de Westminster em 1612, embora seu túmulo inicial tenha sido deixado em Peterborough.


O rei ergueu um magnífico túmulo de mármore para a mãe, no qual repousa sua bela efígie de mármore branco sob um elaborado dossel. Ela usa uma touca, uma gola rendada e um longo manto preso por um broche. Um leão escocês coroado está a seus pés.


Hoje, as duas rainhas, Maria e Elizabeth I, descansam em corredores opostos na capela de Henrique VII.

Innocents Corner


O Innocents Corner, assim chamado devido ao comovente monumento às duas jovens filhas de Jaime I - Sophia e Mary -  enterradas ali, e à urna que contém os supostos restos mortais de Edward V, e seu irmão mais novo, Richard duque de York, desaparecidos da Torre de Londres e, certamente, assassinados por seu tio, Richard III, em 1483, durante a Guerra das Rosas. 





Monumentos funerários 


É praticamente impossível não estranhar a imensa quantidade de monumentos funerários em Westminster. Minha impressão, em alguns momentos, era que eles sufocam o interior da abadia. 

Mas por que há tantos túmulos em Westminster? 

A resposta está na Reforma Religiosa Anglicana promovida por Henrique VIII em 1540. O mosteiro foi fechado e, para se manter, a abadia disponibilizou o edifício como local de sepultamento aos que pudessem pagar, uma prática que se manteve até o  século XIX. Dessa forma, ao lado de britânicos célebres como Isaac Newton, Charles Darwin e William Shakespeare, a maioria desses túmulos são de pessoas muito ricas. 


Túmulo de Sir Isaac Newton. 









Entre os monumentos da nave estão os de Winston Churchill e a Tumba Soldado Desconhecido, da Primeira Guerra Mundial. 

O soldado não identificado que jaz abaixo dele está enterrado em solo francês importado e coberto por mármore belga, em homenagem à aliança britânica com esses países durante a guerra. 



Para saber mais

sábado, 15 de fevereiro de 2025

Omaha Beach, Normandia e o Dia D


Omaha Beach, julho de 2023

O pequeno balneário antes da guerra, Viers Calleville-sur-Mer


Omaha Beach, julho de 2023

A praia de Omaha era chamada "A praia dourada". Esta foto mostra como era o "Hameau des Moulins" (Aldeia dos Moinhos) antes da Segunda Guerra Mundial. Aquela área da vila era um charmoso resort familiar à beira-mar, e o nome da pequena estrada entre a vila e a praia era "Sea Street".

Havia muitas vilas aconchegantes, vários hotéis e lojas no vilarejo à beira-mar. O "Hôtel de la Plage" (O Hotel de Praia) era particularmente conhecido.




Ocupação alemã, anos sombrios 


Os alemães chegaram a Saint-Laurent-sur-mer em 19 de junho de 1940 e rapidamente deram início à construção das fortificações que ficariam conhecidas como Muralha do Atlântico. 


Quase todos os prédios ao longo da praia foram implodidos para liberar a linha de fogo na costa e muitos bunkers foram construídos e equipados com morteiros e metralhadoras; minas foram enterradas na praia e nos campos próximos. 


Como consequência, o vilarejo foi quase totalmente destruído e deu lugar a uma fortaleza formidável. Os moradores que viviam perto da praia foram transferidos para a parte alta da vila.
A partir de 1943, as defesas foram ainda mais intensificadas. 


Terça-feira, 6 de junho de 1944 - O dia D

Enquanto o desembarque na Praia de Utah foi realizado sem encontrar nenhuma resistência real, a situação foi muito diferente na praia de Omaha, formada por uma longa enseada com cerca de 8 quilômetros e cercada por penhascos que se elevavam 100 pés acima do nível do mar. 

Para chegar às aldeias de Colleville, Vierville e Saint-Laurent, as tropas teriam que escalar quatro ravinas profundas que eram fáceis para os defensores bloquearem. Os alemães aproveitaram a topografia da área e construíram casamatas de artilharia, trincheiras de metralhadoras e morteiros. Omaha era uma verdadeira armadilha para os homens da 1ª e 29ª Divisões de Infantaria Americana! Mas os Aliados não tinham escolha. 

No início da manhã de 6 de junho de 1944, assim que os primeiros barcos de desembarque da 1ª e 29ª Divisões de Infantaria se aproximaram da costa, o caos se instalou ao longo da praia de Omaha. 


É possível imaginar o quão feroz foram os combates naquele 6 de junho ou a força de determinação, energia, espírito de luta, sacrifícios e sofrimento para derrotar um inimigo tão bem organizado?


Pouco antes das 7 horas, os Aliados chegaram a Omaha e as tropas foram recebidas com tiros de metralhadoras intensos. As balas ricocheteavam nas rampas de desembarque das barcaças. 

Eles logo entenderiam a magnitude da situação. Os primeiros a desembarcarem foram abatidos e muitos corpos estavam nas ondas agitadas e na areia. A praia estava cheia de ruínas, destroços fumegantes, escombros, armas abandonadas e cadáveres. Algumas centenas de metros à frente, eles podiam ver os sobreviventes, amontoados sob o abrigo fornecido pelos seixos. Outros se enterraram apressadamente na areia. Todas as unidades estavam confusas e completamente desorientadas, a maioria tinha perdido seus oficiais. 


Os Gls enfrentavam  a 352ª Divisão de Infantaria do General Kraiss, uma unidade perfeitamente treinada e bem equipada, que estava estacionada lá apenas algumas semanas antes. As defesas alemãs escaparam milagrosamente de todos os bombardeios devido à pouca visibilidade. Os aglomerados de mísseis lançados pelos B 24 Liberators foram avançando para o interior, até três milhas da costa. As salvas de foguetes disparadas pelos LCT(R)s falharam, no mar, e serviram apenas para massacrar vários milhares de peixes que os invasores encontraram flutuando na superfície. As fendas dos bunkers alemães se abriam para a praia, e não para o mar e, consequentemente, apenas seus grossos flancos de concreto foram expostos aos projéteis dos navios de guerra.

Muitos dos caminhões anfíbios DUCKW sobrecarregados foram inundados e viraram, enviando os preciosos obuses de 105 mm e o equipamento pesado tão necessário à infantaria para o fundo do mar.

A segunda enfrentou o fogo cruzado inimigo. Desesperados, os homens correram, tropeçaram, caíram, se levantaram... ou ficaram parados para sempre. 

A maré subiu e cobriu os obstáculos na praia que não tinham sido removidos; as equipes de demolição incumbidas dessa missão tinham sido dizimadas sob o fogo defensivo fulminante e os americanos cometeram o erro de recusar as ofertas britânicas. Barcos colidiram em suas tentativas de evitar as armadilhas. Outros foram empalados ou explodiram nas minas presas a estacas agora parcialmente escondidas. A confusão reinou suprema.

Os homens pularam na água até o pescoço e não ousaram sair dela, acreditando que estariam mais seguros em águas profundas. Outros se refugiaram atrás de "ouriços" semi-submersos. O correspondente de guerra Frank Capa tirou fotos da praia, imortalizando o trágico episódio de Omaha. Na extremidade leste de Omaha, na Fox Red, homens traumatizados encontraram abrigo abençoado no sopé dos penhascos. A maré continuou subindo, afogando os homens feridos abandonados à sua sorte e reduzindo a faixa de areia.


Às 8h30, a bordo do cruzador Augusta, o General Bradley, Comandante-em-Chefe das tropas americanas, decidiu atrasar a partida das ondas seguintes. No final da manhã, recebeu uma mensagem encorajadora. Alguns de seus homens conseguiram sair do canto apertado em que ficaram presos por seis horas. Os contratorpedeiros se moveram o mais perto possível da costa e recomeçaram a atirar nas defesas alemãs, que começaram a enfraquecer. 


Os Gls, centímetro por centímetro, começaram a escalar o longo aterro e conseguiram encontrar seu caminho para o planalto, através de minas e arame farpado. Os primeiros a chegarem ao meio-dia, e começaram a atacar os alemães por trás. A vantagem mudou de mãos. Mas a que preço! Ao todo, havia mais de 4.000 mortos, gravemente feridos ou desaparecidos nas fileiras americanas. O sucesso ainda não era certo, mas o desastre havia sido evitado. O desembarque quase encontrou um fim trágico na sangrenta Omaha.

Quando o desembarque cessou, o vilarejo à beira-mar deu lugar a uma larga via que cortava um campo de ruínas.


É por isso que esta via, altamente estratégica durante os longos meses da Batalha da Normandia, é hoje chamada de "Avenida da Libertação".

Eventualmente, graças a esses feitos técnicos, Omaha foi, até o final de agosto de 1944, o local de desembarque mais formidável em toda a costa normanda. Ficou em operação até novembro de 1944.

Acima: Descarregando "Liberty Ships" na parte leste de Omaha Beach

Em primeiro plano está "Golden Sands", uma das casas senhoriais do vilarejo, poupada pelas forças de ocupação como posto de observação na praia. A foto acima mostra sua fachada voltada para o mar.

Essa casa de campo foi transformada em um ponto forte (foto acima). Essa área só pôde ser conquistada em 7 de junho.

Correspondentes de guerra, testemunhas do desembarque e seu custo humano



Omaha hoje


OS BRAVOS - Auilon Banan, escultora









Nos penhascos que cercam Omaha, é possível visualizar ruínas dos antigos bunkers da Muralha do Atlântico. 

Em toda a extensão da estrada que liga a praia à cidade, homenagens aos combatentes mortos na Batalha da Normandia. 


La Voie de la Liberté (Estrada da Liberdade) é uma rota comemorativa de Sainte Mère Eglise a Bastogne, na Bélgica. Ela traça o avanço feito pelo General Patton e o 3º Exército durante 1944-45.


Concebida pelo Coronel Guy de la Vasselais, a rota cobria uma distância de 1.146 km com uma pedra marcando cada quilômetro produzida pelo escultor François Cogné. Elas foram originalmente concebidas como um pilar de cimento rosa com as estrelas dos 48 estados da América, a representação de uma chama para simbolizar a liberdade e linhas 'onduladas' para simbolizar a chegada por mar das tropas libertadoras.



A Mansão Rouge-Fosse, ou Castelo de Englesqueville, pertencente a família Canivet serviu como quartel general aos engenheiros do exército aliado durante a Batalha da Normandia. 





🔗 Para saber mais

These Incredible Photos Show The Allies Preparing for D-Day: https://www.iwm.org.uk/history/these-incredible-photos-show-the-allies-preparing-for-d-day