Aqui só tem História

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segunda-feira, 16 de dezembro de 2024

Meaux, uma linda cidade medieval próxima a Paris



A cidade de Meaux, na região de Seine-et-Marne, a leste de Paris, nas margens do rio Marne, é ocupada desde antes da chegada dos romanos, no século I a. C., por um povo denominado Meldes.
A fertilidade do solo e as condições climáticas favoráveis garantiam a abundância da produção de alimentos. 



Os romanos escolheram ocupar essa região devido à proximidade com o rio - o que garantia o abastecimento de água e a localização estratégica da região - próximo a Lutece (Paris) e o litoral Norte do território que hoje é a França. Um acampamento fortificado foi construído, o castrum. 


A área urbana de Meaux corresponde a um sétimo da superfície ocupada no início do Império Romano. Havia um anfiteatro e termas. A localização privilegiada favorecia o comércio. 

Durante os anos de crise do Império Romano, na Antiguidade Tardia, para proteção dos habitantes, a muralha que vemos hoje foi construída. 


Na Guerra dos Cem Anos (1337-1453), para melhor se defender da invasão inglesa e garantir abrigo para a população crescente, a cidade cresceu para oeste. A muralha medieval confina com uma alta torre galo-romana, a “Tour Minée”.


No século XV, com o uso da artilharia e a tecnologia de canhões, as paredes da muralha precisaram ser  espessadas. Canhoneiras foram instaladas nas torres para reforçar a proteção da muralha. 



Ruelas medievais no centro histórico de Meaux. É incrível pensar que tantos séculos depois, a organização permanece basicamente a mesma, comércio no térreo e moradias nos andares superiores. 


Durante a Idade Média, uma das formas de demonstrar a riqueza de uma cidade era a construção e a opulência de sua catedral. 
Era em torno dela que as festividades aconteciam. Em seu interior, os bispos conduziam - e vigiavam -o povo na fé cristã. 

Catedral Saint-Etienne de Meaux 

Desde o século VII, há registros uma igreja e de um batistério, a Igreja de Santo Estêvão no centro da cidade amuralhada. 


Devido ao seu longo período de construção, o desenho da catedral abrange vários períodos da arquitetura gótica. 

 
O edifício gótico que conhecemos hoje começou a ser construído no século XII - por volta de 1185, inicialmente em estilo românico e, aproximadamente em 1269, foi necessário realizar uma reconstrução completa para corrigir os erros do projeto anterior, a reconstrução ocorreu em estilo gótico, mas obras apenas foram concluídas no final do século XVI ( Em 1540, os sinos foram instalados na recém-concluída torre de pedra norte). 



Em 1358, as obras foram interrompidas devido à agitação política e a um grande incêndio que devastou a cidade.

 
No final do século XIII, as obras foram interrompidas diversas vezes por falta de recursos e pela Guerra dos Cem Anos, que afetou a região devido à ocupação inglesa, a cidade foi ocupada pelos invasores entre os anos  1422 e 1439.




A catedral atinge uma altura de 48 metros; no interior, as abóbadas do coro chegam a 33 metros. A ornamentação se destaca pela suavidade e luminosidade. Se destaca também um incrível  órgão do século XVII. 



Estátua de Joana d'Arc

A catedral conta ainda com uma estátua de Jeanne d'Arc, hoje santa e heroína da França.
Joana D'Arc  (1412 – 1431) teve importantíssimo papel no cerco de Orléans e na coroação de Carlos VII durante a Guerra dos Cem Anos, quando liderou o exército francês contra a ocupação dos invasores. 
Ela foi capturada, condenada como herege e queimada na fogueira pelos ingleses, quando tinha 19 anos. 

Sua condenação por heresia foi posteriormente anulada. No entanto, ela foi canonizada pela Igreja Católica apenas no século XX, em 1920.
O papa Calisto III, no século XV, anulou a condenação de Joana d'Arc. 


Guerras Religiosas, Revolução - a Catedral enfrenta o tempo e a fúria dos franceses... e resiste!


Em meio às guerras religiosas, no século XVI, entre católicos e protestantes calvinistas, chamados huguenotes na França, a catedral foi invadida e muitas esculturas danificadas.
Já na Revolução Francesa, muitos arquivos e documentos foram destruídos. 
 





Túmulo Jacques-Bénigne Bossuet 



O túmulo mais famoso da catedral é do bispo e filósofo Jacques-Bénigne Bossuet, teórico do Absolutismo. Há também um monumento com várias estátuas, mas sua verdadeira sepultura está no centro do edifício. 


Jacques-Bénigne Bossuet foi apelidado de "L'aigle de Meaux" (a águia de Meaux), pois foi bispo da cidade entre1681 a 1704, por isso a água em seu monumento funerário.




Muitas das obras exteriores foram realizadas em pedra macia e sofreram erosão com o passar dos séculos. 







Memória das Guerras do século XX

No interior da catedral há uma colorida placa comemorativa instalada para a Commonwealth, prestando homenagem, em francês e inglês, ao milhão de britânicos mortos em a Grande Guerra (a Grã-Bretanha também contou 1.650.000 feridos).


Homenagem aos soldados motos pela França na Grande Guerra (1914-1918)


Memórias de outros tempos, antiga entrada da Igreja de Saint-Cristophe 

Seguindo a rua principal, encontrei uma porta que um dia foi de uma igreja, em homenagem a São Cristóvão, santo padroeiro dos viajantes. Hoje ela sustenta um edifício que é uma moradia estudantil. 


Nesse lugar, desde o século IX, existia uma antiga capela, ampliada no final do século XV. A sua fachada principal, voltada a poente, dava para a Rue Saint-Christophe. Esta igreja localizava-se junto a um eixo de trânsito principal, em pleno centro comercial; as irmandades de jardineiros e carpinteiros tinham ali suas capelas.


Os viajantes que passavam por Meaux podiam ler, gravada num dos portais da igreja, a seguinte frase: “Veja Christophe e viaje sem medo. A igreja foi demolida durante a Revolução. Tudo o que resta hoje de todo o edifício é este portal.  

Monumento aos mortos pela França

O monumento aos mortos da cidade de Meaux foi inaugurado em 24 de maio de 1903, após a Guerra Franco-Prussiana de 1870. Em cima da coluna, Esta a vitória alada presta  homenagem aos jovens da cidade mortos nesse conflito. 

Na sua base, um leão observa, olhando para o leste e para a “Linha Azul dos Vosges”. Relembra a resistência de Belfort contra os exércitos prussianos.

Após a Grande Guerra, o monumento foi ampliado. As outras faces do pedestal homenageia os mortos nas guerras do século XX. Os nomes dos filhos de Meaux, falecidos pela Pátria em 1914-1918 - época em que quase 40 mil monumentos foram construídos ou adaptados pelo país, depois em 1939-1945, aparecem em placas fixadas na parede.






Monumento aos mortos de Meaux nos conflitos do final do século XIX (Guerra Franco-Prussiana) e Século XX, I Guerra Mundial e II Guerra. 


Em 1923-1924, o capacete do soldado Adrian foi inserido nos pilares do portão. 

Os nomes dos mortos de 14 a 18 anos estão gravados em placas que os homenageia (Enfants). Desde 1945, uma placa adicional lista os mortos da Segunda Guerra Mundial. 


Os lindos e férteis campos da Normandia



Referências: 












segunda-feira, 2 de dezembro de 2024

🎬 Vale a pena assistir - A Grande Fuga



Em 5 de junho de 2014, o veterano da Marinha Real inglesa na Segunda Guerra Mundial, Bernard Jordan (Michael Caine), de 89 anos, viveu uma incrível aventura: escapou da casa de repouso para participar das comemoração aos 70 anos do Dia D, na Normandia. 
Escapou porque, como perdeu o prazo para ir "oficialmente", Bernie e sua esposa Irene decidiram que ele iria por conta própria, sem avisar os funcionários da casa de repouso que poderiam tentar impedi-lo. Vestiu seu casaco, colocou suas medalhas e condecorações e partiu para pegar o ferry e atravessar o Canal da Mancha rumo à França.  

Quando a equipe de funcionários deu da sua ausência, ele já estava longe... Polícia, bombeiros e a mídia começam a procurar Bernie, apelidado de  “grande fugitivo”. 
No ferry, encontra-se com outros veteranos e conhece um ex-piloto da RAF (Royal Air Force). Juntos, eles relembraram o passado, o desembarque e seus companheiros abatidos no dia 06 de junho de 1944. 


Omaha Beach horas depois do início do desembarque aliado
Le Musée Mémorial de la Bataille de Normandie

Em um dos momentos mais emocionantes, no cemitério britânico, Bernie teve um lampejo de raiva diante dos milhões de quantidade de túmulos, diante do imenso desperdício de vidas daqueles que lutaram por seus países. “Meus pensamentos estavam com meus companheiros que foram mortos. Eu fui prestar meus respeito”, disse Jordan na volta para a Inglaterra. 


156.000 soldados aliados invadiram as praias da Normandia naquele dia. Estima-se que 2.500 a 4.000 morreram lá. Outros 9.000 defensores alemães também morreram nos desembarques.
Para mim, esse foi um dos momentos mais emocionantes, me identifiquei diante daquele desabafo. Eu senti exatamente isso ao visitar o cemitério estadunidense. Não consegui visitar os outros, fiquei muito abalada com todas aquelas milhares de vidas perdidas. 


A cruz exposta no Memorial de Caen ☝️ foi uma das milhares de cruzes provisórias utilizadas no cemitério militar anglo-canadenses em May-sur-Orne, 1944. O nome e o número do registro dos soldados eram registrados no ponto mais baixo. 

Le Musée Mémorial de la Bataille de Normandie


No Dia-D propriamente dito, as tropas Aliadas sofreram mais de 10.000 perdas: as forças britânicas e canadenses perderam 3.700 pessoas; os EUA tiveram uma perda de 6.600 homens. Os alemães perderam entre 4.000 a 9.000 soldados.



Bernard Jordan acena feliz aos jornalistas na sua volta para a Inglaterra após sua grande aventura. 

Bernie e Irene se casaram em 1946 e permaneceram juntos até a morte, em  2015.
A história de Bernie e Irene me lembrou algumas histórias que conheci quando visitei as praias da Normandia, em 2023 e me tocaram, como as do Sargento Walter Geldon, em Pont du Hoc, em Omaha. 


Sargento Walter Geldon, Companhia C, 2º Batalhão de Rangers, 6 de junho de 1944 foi o terceiro aniversário de seu casamento. Ele e seus companheiros Rangers cantaram canções para comemorar a ocasião pouco antes de desembarcar em Omaha. O antes trabalhador siderúrgico de 23 anos, da Pensilvânia, foi abatido por fogo inimigo poucos minutos depois de desembarcar. Quando sua viúva morreu em 2002, aos 78 anos, ela foi enterrada ao seu lado no cemitério americano, na Normandia.

No Airborne Museum, em Saint-Mère-Église, conheci, pelo telefone, a história de Jack N. Womer e seu amor, Theresa. 


A narração da carta relata as dificuldades, o medo, a saudade e a vontade de se casar com ela assim que a guerra acabasse. 
Exposto ao lado, um álbum de memórias, com comentários do paraquedista. 

Álbum de memórias de Jack N. Womer, com recordações dos anos entre 1942-1945


Dog Tag de Jack N. Womer e fotografia de sua futura esposa, Theresa

Homenagens aos veteranos na Catedral Notre Dame de Bayeaux pelos 70 anos do Desembarque, em 1944. 


As cidades da Normandia são repletas de bandeirolas aliadas pelas ruas, uma lembrança da gratidão do povo francês pela libertação. 


2024: 80 anos do desembarque na Normandia


🎬  Onde assistir


📚 Vale a pena ler

A World A World War II Veteran Escaped from a Nursing home for the 70th aniversary of D-Day: https://www.military.com/history/world-war-ii-veteran-escaped-nursing-home-70th-anniversary-of-d-day.html

domingo, 27 de outubro de 2024

Animal War Memorial, Londres


    No centro da cidade de Londres, em Brook Gate, at the Park Lane, fica um memorial muito tocante, o Animal War Memorial. Ele homenageia todos os animais mortos em conflitos ao longo do século XX. 
    O Memorial foi inaugurado em 2004 como parte das comemorações dos 90 anos do início da I Guerra Mundial, em 1914. 

Cavalos e mulas



    Oito milhões de cavalos e mulas foram mortos ao longo da Primeira Guerra Mundial. Eles foram usados para transportar munições e suprimentos para a frente de batalha e muitos morreram, não apenas pelo fogo cerrado de projéteis, mas também de exaustão, doenças e em condições climáticas terríveis. 


    Cavalos de montaria eram usados ​​pela cavalaria, já os de tração deixaram de puxar bondes para transportar armas de artilharia pesada ou carroças de abastecimento. 


O exército utilizou a resistência física das mulas em terrenos difíceis e em climas extremos. Esses animais serviram corajosamente na lama gelada na Frente Ocidental e no calor opressivo da Birmânia, da Eritreia e da Tunísia. Já os pôneis, por serem pequenos e resistentes, foram utilizados para transporte de armamentos


    Há muitas histórias inspiradoras e, muitas vezes, trágicas da grande lealdade entre cavalos, mulas e os soldados durante as batalhas mais sangrentos do século XX. 


O Beijo do Soldado (Henrique Chappell) 

Apenas um cavalo moribundo! 
Tire a engrenagem, 
E deslize o pedaço desnecessário das mandíbulas espumantes, 
Arraste-o para lá, deixe a estrada livre
A bateria troveja sem pausa.

Prostrado pela estrada devastada pelas bombas, lá está ele 
Com membros trêmulos, tão rápido quanto a maré da vida passa, 
Películas escuras estão se fechando sobre os olhos fiéis 
Que silenciosamente imploram por ajuda, não há nenhuma.

A bateria avança, mas lá vai alguém em alta velocidade, 
Sem se importar com a voz do companheiro ou com a explosão do projétil, 
De volta ao amigo ferido que sangra sozinho 
Ao lado da estrada pedregosa onde caiu.

Apenas um cavalo moribundo! 
Ele se ajoelha rapidamente, 
Levanta a cabeça flácida e ouve o suspiro trêmulo 
Beija seu amigo, 
Enquanto rola 
Doce lágrima de piedade; 
'Adeus, Velho, Adeus.'

Nenhuma honra o aguarda, 
Medalha, Distintivo ou Estrela, 
Embora dificilmente uma guerra pudesse revelar um ato mais gentil; 
Ele carrega em seu peito, muito mais precioso 
Além do presente dos reis, um coração de ouro.



    Do outro lado do muro que cerca o memorial, em um gramado cheio de luz, estão essas duas representações de um cavalo e um cachorro correndo livres de suas cruéis obrigações em tempo de guerra. Gosto de pensar em todos aqueles que voltaram para à Inglaterra. 

Cães


    Os cães foram usados ​​por todos os exércitos envolvidos na Primeira Guerra Mundial. Os britânicos e, em geral, todos os outros exércitos, recrutaram, treinaram e mobilizaram os seus cães.
    Os franceses usaram cães pequenos como caçadores de ratos nas trincheiras. Os ratos eram mais um dos enormes problemas que envolviam a vida nas trincheiras, dessa forma, os cães matadores de ratos provaram ser inestimáveis ​​para a vida no front.


    Os cães de grande porte foram utilizados como sentinelas. Seus sentidos aguçados lhes permitiram detectar movimentos inimigos a distâncias e alertar a trincheira sobre o ataque que viria. 

Soldados belgas e seus cães, os quais puxam metralhadoras para os campos de batalha

https://www.theworldwar.org/learn/about-wwi/dogs-wwi
Cartão que acompanhou um cão em sua jornada, da Inglaterra até o campo de batalha

Pombos correio

Um conflito de tamanhas proporções como a Grande Guerra precisava contar com um eficiente sistema de comunicação. As novidades do início do século como o telefone e o telégrafo, podiam ter os fios cortados e interromper a comunicação. Os pombos-correios foram a solução.
Os aviões sobrevoavam as trincheiras inimigas, elaboravam breves relatórios e atavam aos pombos que, ao procurar por seus pombais de origem, levavam mensagens de uma trincheira a outra e até para o outro lado do Canal da Mancha.


Mais de 100.000 pombos serviram à Grã-Bretanha na Primeira Guerra Mundial e 200.000 na Segunda Guerra Mundial. Eles se apresentaram heroicamente e salvaram milhares de vidas carregando mensagens vitais, às vezes por longas distâncias, quando outros métodos de comunicação eram impossíveis. Voando a uma taxa de uma milha por minuto da linha de frente, de trás das linhas inimigas, de navios ou aviões, em todos os climas. 
Essas aves tão inteligentes evitaram a morte de muitos homens.

Outros tantos animais... 


Camelos utilizados para carregar feridos

Elefantes, camelos, bois, gatos, canários, todas essas criaturas, grandes e pequenas, contribuíram com sua força, sua energia e suas vidas em tempos de guerra e conflito para as forças britânicas, da Commonwealth e aliadas durante o século XX.

📚 Vale a pena ler: