No final de semana do feriado de 12/10 fomos a São Paulo para ver a exposição de Frida Kahlo no Instituto Tomie Ohtake.
Minha admiração por Frida começou quando, ainda uma jovem estudante de História e atendente de video-locadora, descobri sua história de vida fascinante. Mulher forte, sonhadora e criativa. As cores, as jóias, as roupas, as tragédias e sua permanente resiliência me fascinaram, isso sem dizer de suas escolhas políticas, que para mim, no momento em que minha consciência política começava a se formar, parecia um modelo a ser seguido. Nessa época também era um enorme sucesso o filme estrelado por Salma Hayek, Alfred Molina e Geoffrey Rush (não gosto de pensar em Trotsky como Geoffrey Rush, mesmo admirando o ator) e lembro de longas conversas sobre os papéis, representações e direção de arte com meu amigo Anderson. Mais de dez anos se passaram, faz tempo, mas o fascínio permaneceu e hoje, sem dúvida, mais madura e com maior volume de leituras, é ainda maior.
O espaço Tomie Ohtake é ótimo, já abrigou outras exposições dignas de nota, vale a visita e certamente um café. O espaço voltou-se todo para a mais que especial exposição, as lojas lotaram seus estoques com os mais variados produtos com temáticas da artista, desde camisetas, livros, aventais até capinhas de celulares. Estava lá, na porta de uma dessas lojas, uma réplica do colete que Frida precisou usar após o acidente com o bonde. Minha filha de 12 anos, Ana Clara, me acompanhou na visita, sua curiosidade me encanta e fascina, queria saber porque precisava utiliza-lo e ficou chocada, como todos, ao saber sobre o acidente e a dor que a acompanhou durante toda a vida.
A exposição está belíssima, gostei especialmente dos textos bem elaborados e explicativos. Além das obras da artista foi possível admirar a obra de várias outras artistas mexicanas e também de outras nacionalidades que compunham o grupo de amigas de Frida, como Mária Izquierdo, Lola Álvarez Bravo, Remedios Varo, Alicie Rahon, Leonora Harrington, Kati Horna, Rosa Rolanda, Bridget Tichenor, Jacqueline Lamba e Sylvia Fein.
Encontram-se expostas figuras, pinturas, fotografias, catálogos, revistas, reportagens em jornais da época e vestuário. A coesão do acervo apresentados ao público é belíssimo, intenso e dramático.
A composição surrealista dessas mulheres que ousaram quebrar o paradigma de serem apenas "esposas" e tornaram-se artistas. As obras fogem do gosto tradicional burguês e o surrealismo, surgido na França na década de 1920, ganha novas cores e contornos no México de Frida e dessas mulheres únicas e criativas.
Frida fez muitos autorretratos, a análise dessas autorrepresentações, valorizando elementos naturais ou da história pré-hispânica do México, estética seguida pelas outras mulheres surrealistas de seu grupo, o corpo feminino é explorado nessas obras, sendo colocado como local sagrado, residência do criativo, da sensualidade e sexualidade, da dor e sofrimento, no caso de Frida, as esferas de público e privado se confundem.
Mária Izquierdo - Alegoria do Trabalho - Guache sobre papel - 1933-1936
Frida- 1933- óleo sobre metal e Diego - 1937- óleo sobre Masonite
Frida, Autorretrato com Tranças 1941 - óleo sobre tela
Diego em mis pensamentos, de 1943, traje de noiva tehuano - ao olhar atentamente a fotografia é possível verificar que, observada por Diego Frida pinta a tela em exposição lindamente vestida.
Releituras de suas roupas coloridas e únicas, às quais me causaram encantamento na adolescência, os detalhes, os bordados, a busca pela beleza histórica ancestral, chamados tehuanos, fazem dos modelos adotados pela artista ainda ousados e exóticos, concordando com o site Stylight: "beleza em cada detalhe". Numa época em que o belo era copiar vestimentas europeias, essa mulher fantástica buscou a beleza em suas raízes históricas, Apesar da disso, foi impossível não pensar no que estava por baixo dos tecidos magníficos e tantos bordados, a estrutura metálica que sustentava seu corpo após o acidente, lembrei-me do título de uma exposição no Museu Frida Kahlo na cidade do México no ano passado: As aparências enganam, os vestidos de Frida Kahlo.
O mais mágico foi poder ver nos olhos da minha filha, o encantamento que sempre estiveram nos meus. Ela estava hipnotizada pela beleza, pelos mesmos detalhes que me fascinaram, certamente a deixavam como uma rainha.
Nu (Frida Kahlo) de Diego Rivera, 1930
A sutileza dos detalhes dessa obra me encantaram, achei belíssima!
foto de Lola Alvarez Bravo, Frida Kahlo, sem data
Esse desenho me impressionou e entristeceu, representa os abortos e as tentativas frustradas de ser mãe.
Quanto à Ana Clara, ficou apaixonada pelos reinos mágicos dessas mulheres surrealistas, foi certamente, sua parte preferida da exposição.
Vou reproduzir a explicação apresentada pela curadoria da exposição: Os surrealistas tinham especial interesse pela magia e por diversas doutrinas esotéricas como tarô, a astrologia, a cabala e a alquimia, e acreditavam que as mulheres tinham poderes especiais. Muitas delas representavam a si mesmas como deusas, feiticeiras ou figuras míticas como forma de assenhoreamento. Nas pinturas representavam com frequência rituais mágicos ou alquímicos e, em sua iconografia, fundiam elementos de tradições antigas com crenças mexicanas. Comumente escolhiam avatares animais, e muitas de suas obras revelam viagens pessoais de transformação e renascimento espiritual.
Remedios Varo, o flautista, 1955
Leonora Carrington Orplied, 1956
Foto, detalhe, Ana Clara.
Achei apenas que faltou mencionar e explorar as escolhas políticas de Frida, uma vez que foi uma das primeiras mulheres mexicanas a se filiar ao partido comunista. Acredito que essa escolha tenha tido grande importância para sua vida e obra.
Para saber mais: http://www.fkahlo.com
Museu Frida Khalo: http://www.museofridakahlo.org.mx
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