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segunda-feira, 16 de outubro de 2023

A música nos campos de concentração

Shoah Memorial - Paris, exposição: Música nos campos de prisioneiros, concentração e extermínio nazistas




A música ressoava diariamente nos campos de concentração e centros de extermínio nazistas. Por que tanta presença musical em espaços onde as liberdades mais fundamentais foram violadas? O principal uso da música, ainda pouco conhecida, foi iniciado pelas autoridades do campo em 1933: era a música “forçada”, tocada pela orquestras de prisioneiros. 

Mieczysław Kościelniak, Retorno do trabalho, campo de Auschwitz-Birkenau. Reprodução, Museu Estadual de Auschwitz-Birkenau. 
O artista e combatente da resistência Mieczysław Kościelniak foi aprisionado em Auschwitz em 1941. Durante sua detenção, produziu obras encomendadas pelas SS e mais de 300 desenhos clandestinos. Após a guerra, ele dedicou um ciclo inteiro à sua experiência nos campos de concentração. 

A música se tornou uma ferramenta para os processos de alinhamento e aniquilação. Seu segundo uso é aquele feito pelos internos de forma espontânea: tolerada ou completamente clandestina, e, nesse sentido, se torna um tipo de estratégias de sobrevivência psicológica e resistência espiritual aos campos de concentração. 


A exposição apresenta testemunhos, instrumentos, partituras e desenhos feitos por mulheres e homens prisioneiros, bem como fotografias tiradas pelas SS. Também aborda alguns casos específicos, como os campos franceses que se tornaram campos de trânsito para prisioneiros que seriam transportados a Dachau, Buchenwald, Treblinka, Majdanek, Chełmno ou ao complexo de Auschwitz.


Sob o regime nazista, a música ressoou não apenas nos campos de concentração e centros de extermínio, mas também nas prisões alemãs, nos campos de prisioneiros de guerra, nos guetos e em alguns campos de trânsito, “antecâmaras” dos campos da Europa de Leste, para onde grande parte dos detidos foram deportados e pereceram nas câmaras de gás. Nestes campos que reuniram mulheres, homens e crianças, onde a mortalidade era elevada e a música foi, acima de tudo, espontânea e sem restrições: não era um acompanhamento de castigos ou execuções. 



Na maioria dos campos são oferecidas partituras aos detidos. Nos campos mais importantes, haviam pessoas responsáveis por copiar  - os copistas - as partituras originais para os arranjos de cada instrumento. Ondrej Volráb é um judeu tcheco que chegou a Buchenwald em julho de 1943, onde conheceu o maestro Vlastimill Louda, responsável pela orquestra do campo. 
Ondrej Volráb é designado como copista e compôs diversas marchas e músicas tradicionais para a orquestra do campo. 


Sobre a música nos campos, Primo Levi escreveu: 
As marchas e canções populares [...] estão gravadas em nossas mentes e serão a última coisa do Lager que esqueceremos; porque são a voz do Lager, a expressão sensível da sua loucura geométrica, da determinação com que os homens se comprometeram a aniquilar-nos, a destruir-nos como homens antes de nos fazer morrer lentamente. 
Primo Levi, É isso um homem? 1947



Auguste Favier, novembro de 1944, livro do campo de Buchenwald (Coleção particular Jacques Chamaillard). Deportado para Buchenwald em dezembro de 1943, o francês André Marie gravou clandestinamente poemas e canções em quatro cadernos que escondeu cuidadosamente até a libertação do campo. Seus poemas são ilustrados por outros prisioneiros, como no caso representado, onde a ilustração é do pintor Auguste Favier, que representou membros da orquestra uniformizados em primeiro plano.



“Tocávamos de manhã e à noite, em qualquer clima, fizesse frio, neve ou vento. Parecia impossível para os alemães preverem a saída ou o regresso dos prisioneiros sem a nossa ajuda. Quando havia nevoeiro, os comandos não saiam até que este se dissipasse: o nevoeiro favorecia as fugas. Tínhamos então que ficar longas horas tocando músicas divertidas até que
fosse dada a ordem para tocarmos as nossas marchas".
Simon Laks, René Coudy, Musiques d'un autre monde, 1948
 


Nos espaços exteriores dos campos a música era essencialmente obrigatória e específica da lógica militar das SS. Por outro lado, a música nos espaços interiores dedicados aos presos seria na maioria das vezes tocada de forma espontânea, vivenciada como resistência espiritual.


Ao lado das orquestras oficiais, foram criados diversos pequenos conjuntos instrumentais para essas atividades, bem como coros. Os repertórios eram variados: canções políticas, patrióticas, religiosas, ou canções cujas letras denunciam as condições de sobrevivência ou a brutalidade nos campos. 


Não autorizada, a música que ressoava em pequenos grupos seria cantada em voz baixa ou simplesmente escrita. Mas as atividades artísticas e musicais também foram parcialmente autorizadas pela administração SS. Realizadas à noite ou aos domingos, nos quartéis ou em outros edifícios, limitariam o risco de revoltas e divertiriam os raros privilegiados que pudessem comparecer e ofereciam, mesmo que por poucos momentos, uma fuga psicológica para além do arame farpado.


Bedřich Fritta, Alojamento no sótão - 1943-1944, campo de Theresienstadt. Museu Judaico de Berlim/col.


As atividades musicais, desempenhadas por homens e mulheres, aconteciam nos quartéis dos presos ou nos blocos dedicados às atividades culturais. A organização de visitas da Cruz Vermelha pelos nazistas ajudou a tranquilizar os observadores internacionais sobre o que estava acontecendo com as populações judaicas da Europa depois de 1942. 

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